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Raciocínio lógico: uma competência amplamente reconhecida pelo mercado de trabalho

Por Jacir Venturi
12/08/2022 • 17h27
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Diferentemente de países desenvolvidos, a cultura brasileira geralmente pouco valoriza o raciocínio lógico, o aprofundamento, a têmpera racional, como pouco valoriza o esforço, o mérito, o bom rendimento escolar. Pesquisadores da Universidade de Harvard provaram cientificamente que a reflexão é indispensável para o aprendizado de conteúdos mais profundos e boa performance laboral. Todo profissional com bom raciocínio dedutivo é um resolvedor de problemas – que para o mercado de trabalho é uma das mais recomendadas competências socioemocionais ou soft skills.

Defrontar-se com uma tarefa mais complexa faz bem aos neurônios, desenvolve a autonomia intelectual e a confiança para superar outros desafios. Vinte minutos dedicados a um problema difícil – mesmo que não resolvido – promovem mais pulsos elétricos nas sinapses do que a resolução de cinco outros exercícios bastante acessíveis.

Por estas e outras razões, estimular o raciocínio deve ser uma das principais incumbências dos pais e professores, em especial no ambiente escolar. Que o nosso educando compreenda e produza bons textos e seja capaz de expô-los com clareza, síntese e lógica são importantes legados que a instituição de ensino pode oferecer.

Todavia, recorrentes e até enfadonhas – embora cruelmente verdadeiras – são as notícias do baixo desempenho dos nossos discentes, na comparação com outros países, em avaliações internacionais. No último Pisa, do qual participaram adolescentes de 15 e 16 anos de  70 países, o Brasil se manteve na 64.ª posição no conjunto de Matemática, Ciências e Português. No último Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), aplicado ao final de 2021 em todos os estados brasileiros (cerca de 5,3 milhões de alunos de escolas públicas fizeram a prova escrita), apenas 9,1% dos concluintes do Ensino Médio, apresentaram aprendizado adequado dos conteúdos de Matemática.

Todas essas provas priorizam o raciocínio lógico e a interpretação de textos, contrapontos à nossa predominância histórica de um ensino hermético, conteudista, minimamente interdisciplinar ou contextualizado. Há uma lufada de esperança com a implantação do Novo Ensino Médio a partir do corrente ano, com seus 4 itinerários formativos e uma nova ênfase ao ensino profissionalizante. Se os governantes e nós, educadores, temos responsabilidades pelo status quo de nossa combalida educação, há de se compartilhá-la com uma boa parte dos estudantes, pois a frequente inércia, apatia e indisciplina contagiam todo o ambiente escolar.

Permita-me uma analogia com a atividade física: acordar às 6 horas para nadar, puxar ferro numa academia ou caminhar pode não ser nada prazeroso, mas depois de 30 minutos... ah, sim, advém a sensação de bem-estar provocada pela serotonina. Assim como os músculos se fortalecem com os exercícios físicos, igualmente novas redes neurais se formam por meio de atividades que exijam raciocínio, abstração, análise crítica. Destarte, o cérebro produz uma proteína denominada neurotrofina que induz o desenvolvimento dos neurônios. Com isso, um ciclo virtuoso se estabelece, favorecendo a formação de novas sinapses que, por sua vez, retardam os males degenerativos, pois uma mente preguiçosa é oficina de doenças e do afastamento de um bom convívio social.

Vivenciamos um momento histórico singular, com amplo domínio de polarizações, dogmatizações e fake news, no qual quase todo ser humano se julga no direito de ser levado a sério, mas cujas manifestações nas redes sociais são muitas vezes irrefletidas, rasas e infundadas.  Conquanto os gregos nos tenham deixado de herança o prazer de pensar, que culminou no espírito cartesiano – cogito, ergo sum –, ou seja, “penso, logo existo”. Ademais, o francês, Henry Poincaré, nascido em 1845, filósofo e matemático, bem complementa o estímulo à reflexão, ao pensamento crítico e ao bom discernimento: “Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são atitudes preguiçosas. Dispensam-nos de refletir”. E o mercado de trabalho sabe bem valorizar o profissional que possui e aplica a virtude do raciocínio lógico na solução de problemas e na inovação.

Jacir J. Venturi, graduado em matemática e engenharia pela UFPR, autor de 4 livros, vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná, foi professor da UFPR, PUCPR e Coordenador na Universidade Positivo.

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