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O cigarro é responsável por 85% dos casos de câncer de pulmão, diz médico

Cigarro eletrônico também causa câncer e permanece proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Por Flávio Veras
07/08/2022 • 15h02
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Estamos no mês de conscientização sobre o câncer de pulmão, denominado ‘Agosto Branco’, que foi instituído há seis anos para alertar a população para a importância de se aprender a reconhecer os sintomas dessa doença grave e sorrateira. Desde 1985, esse é o câncer com a maior taxa de mortalidade no mundo. Atualmente, a preocupação dos médicos e pesquisadores do setor da saúde se voltou, principalmente, para o uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) e também para o narguilé, devido à relação com o surgimento dos casos de câncer.

Apesar da comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil, desde 2009, esses produtos são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou, ainda, podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal. No último mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, por unanimidade, o relatório que sustenta a necessidade de se manter essa proibição, o que inclui todos os tipos de cigarros eletrônicos.

Em Mato Grosso do Sul 200 pacientestes por ano têm sido diagnosticados com câncer de pulmão, nos principais hospitais credenciados com o Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com levantamento do Observatório de Oncologia, com base nos dois anos anteriores à pandemia.

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O cirurgião oncológico, Dr. Cezar Augusto Vendas Galhardo, foi entrevistado pela rádio CBN Campo Grande e alertou sobre os sintomas da doença e o elevado número de casos associados ao uso de tabaco e de outras substâncias químicas presentes em cigarros eletrônicos e no narguilé.  O médico esclareceu que, além do diagnóstico precoce, novas terapias contribuem para aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes.

Quais são os motivos mais comuns, o que mais causa o câncer de pulmão? 

GALHARDO O câncer de pulmão é uma doença muito fatal. Primeiro é importante a gente lembrar disso. E o principal fator de risco do câncer de pulmão,  sem dúvida, tem relação com o tabagismo. De todos os casos de câncer de pulmão, cerca de 85 por cento deles estão ligados de alguma forma a algum tabagismo. Existem fatores genéticos, fatores familiares, exposição a alguns produtos químicos, mas isso tudo fica com o restante, com os 15 por cento. A grande maioria, 85 por cento deles, está relacionada ao consumo de cigarro. 

E como é feito o diagnóstico do câncer de pulmão? 

GALHARDO O câncer de pulmão é diagnosticado através de uma biópsia. O exame que inicialmente é feito, que é mais acessível, é o raio-x de tórax, que tem uma sensibilidade de 70 por cento para o diagnóstico de câncer de pulmão. Ou seja, de cada três pacientes que você vai rastrear com o raio-x de tórax, um deles vai passar despercebido. Então, não é o exame ideal pra isso. Em uma suspeita de câncer de pulmão, o ideal é que se faça primeiro uma tomografia computadorizada e, aí sim, partir para uma broncoscopia ou uma biópsia guiada por agulha, algo do tipo. 

O câncer de pulmão é o tipo de câncer com maior incidência e maiores taxas de mortalidade no mundo? 

GALHARDO Realmente.Infelizmente, tá? Então, tirando os cânceres de pele e não melanoma, o câncer de pulmão, no mundo, é o câncer mais incidente em homens e mulheres. No Brasil ele ocupa a segunda e terceira posição. Mas é importante a gente entender a gravidade do câncer de pulmão. Por exemplo, em 2022 a estimativa é que a gente tenha no Brasil 30 mil novos casos de câncer de pulmão. E uma mortalidade, pelo mesmo tipo de câncer, de 28.600 pacientes. Ou seja, 95 por cento de mortes. Uma taxa de sobrevida aí, de cerca de mil e seiscentos, mil e oitocentos pacientes dessa doença. Então, a mortalidade ainda é muito elevada. Os tipos de tratamento para o câncer de pulmão melhoraram muito. E melhoraram muito essa sobrevida também. Mas, principalmente, quando a gente consegue um diagnóstico mais precoce. Então, se eu tenho um paciente que é um tabagista de longa data e que começa a ter sintomas que são: piora da falta de ar, tosse persistente, tosse com sangue ou perda de peso inexplicada, ele tem que ser investigado. A dificuldade ocorre porque esses sintomas estão muito frequentes no paciente que fuma, pois ele acha que aquilo é do cigarro. Ele já se acostumou com a situação e não nota essa pequena piora diariamente. Mas, se você entendeu que existe uma piora, ou se você já tem o que a gente chama de “trinta maços ano”, que são trinta anos fumando um maço de cigarro por dia, você tem que ser investigado.

Doutor, eu percebo nos médicos também uma preocupação muito grande em relação a esse cigarro eletrônico, também ao narguilé, né? 

GALHARDO Sem dúvida. O cigarro eletrônico, o narguilé, são uma forma de consumo de cigarro disfarçada, de consumo de tabaco disfarçado. O jovem que usa o narguilé ele não vê aquilo como um cigarro. E a realidade é que aquilo faz tão mal quanto um cigarro. Uma estatística do Inca (Instituto Nacional de Câncer), alguns anos atrás, mostrou que uma hora de fumo de narguilé equivale ao consumo de 80 cigarros, ou seja, quatro carteiras de cigarro. Então, reforçando, o narguilé é uma maneira de consumo de tabaco disfarçado. Os cigarros eletrônicos tem o mesmo problema. O o cigarro eletrônico, ele ainda não é regulamentado. É proibido no Brasil e a gente não sabe o que tem em cada tipo porque não é regulamentado. A gente sabe que tem substâncias nocivas. E ele causa, além dos problemas de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), tem uma doença específica do cigarro eletrônico chamado Evali (lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico ou vaping) que só apareceu, só passou a existir, depois do uso do cigarro eletrônico. É uma doença que se contrai independentemente da idade. Você não tem como saber se você vai ter. É uma doença grave que leva os pacientes direto ao hospital, internação em CTI, intubação prolongada. Então, é um risco de óbito realmente muito significativo. Cigarro eletrônico, ele tem que ser combatido, tem que ser informado de que isso faz mal! Isso é um consumo de substâncias nocivas tanto quanto do consumo do cigarro.

Pra gente reforçar a atenção aos sintomas, quais são os sinais mais comuns do câncer de pulmão, aos quais as pessoas precisam ficar atentas?  

GALHARDO Os sintomas mais comuns são: hemoptise, que é a tosse com sangue, esse é um sintoma um pouco mais tardio. Mas o paciente fica com medo quando ele vê sangue na tosse. Os mais frequentes são a piora da tosse, uma tosse persistente, a piora da falta de ar e o emagrecimento repentino, sem nenhuma explicação. Esses são os principais sintomas. 

E as possibilidades de cura? O senhor já falou que ele é bastante letal, mas que há um percentual de pessoas que sobrevivem se o câncer de pulmão for diagnosticado precocemente. 

GALHARDO Exatamente. O principal fator e o mais importante é o diagnóstico precoce. Se a gente conseguir pegar um paciente no estádio clínico I, ele tem excelentes taxas de cura. Sessenta, setenta, até oitenta por cento. Agora, se a gente diagnostica tumores avançados, a sobrevida dos pacientes em cinco anos, ela é menor do que quinze por cento, dependendo da série histórica. Então, essa diferença de quinze pra oitenta por cento, ela está ligada ao diagnóstico, diagnosticar a doença no seu estágio mais inicial e passar pelos tratamentos de maneira correta, fazer a cirurgia de uma maneira adequada, com profissional adequado. E, hoje, com os novos tratamentos que são as imunoterapias, as terapias-alvo, elas vieram e começaram a mudar esse prognóstico do câncer de pulmão. Acredito que, em questão de mais alguns anos, esses dados vão melhorar muito. Mas, ainda assim, é um tumor que nos preocupa muito pela sua letalidade. 

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