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Três Lagoas, 28 de março

‘Brasil não tem plano de energia há 90 anos’, explica professor de economia

Doutor em Economia, Michel Constantino, falou sobre motivos que aumentaram valores na conta de energia elétrica e os seus impactos

Por Loraine França
04/07/2021 • 10h02
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A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) aumentou as bandeiras tarifárias, com isso, o preço das contas de energia vão aumentar a partir deste mês. Na bandeira vermelha, de patamar 2, que está vigente atualmente, a alta é de 52%. O reajuste passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 para cada 100 Kw/h.

Para entender quais motivos levaram ao aumento e impactos que podemos ter no nosso orçamento, as jornalistas da CBN Campo Grande, Danielly Escher, Ingrid Rocha e Rosana Siqueira, conversaram com o professor doutor em Economia, Michel Constantino.  

Como chegamos a esse ponto? De quem é a culpa de passarmos por uma situação tão complicada em momento delicado de pandemia? 
É complicado porque o Brasil não planeja praticamente nada. É importante destacar isso porque temos um problema há 90 anos. Nos últimos 30 anos, por exemplo, não tivemos nenhum planejamento para essas estiagens. Nós temos  uma matriz energética limpa, muito boa no Brasil. Nossas hidrelétricas são muito importantes e nós somos diferenciados de outros países porque temos rios que podem produzir energias a partir de hidrelétricas. Mas, nós temos o meio ambiente que precisa ser fomentado. Então, por exemplo, a crise hídrica decorre da estiagem, falta chuva. Se falta chuva, falta água e a hidrelétrica não funciona. Assim, temos que ligar as termelétricas, que são as usinas que usam carvão e petróleo. Essas termelétricas tem um custo muito maior do que as hidrelétricas e governo repassa esse custo, junto com as empresas de eletricidade para o consumidor final e empresas. É importante destacar que o grande problema é que não tivemos um plano de energia no Brasil nos últimos 90 anos. Ninguém se preocupou com essa questão e nós sabemos que, a cada ano, temos aumento da demanda de energia, porque a população aumenta, cresce o número de empresas. Então, temos uma demanda maior e, em momento de crise hídrica, há impactos no valor. 

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Como essa dinâmica do aumento tem relação com as bandeiras? 
Não estão aumentando a nossa energia, estão penalizando nossos consumidores. Penalizando como? Se nós consumirmos mais do que aquela faixa, que eles mediram, vamos ter que pagar a mais. Podemos, também, tomar decisões domésticas para não aumentar o nosso consumo de energia. Então, temos nesse jogo de preços, essa possibilidade. Nós temos as três bandeiras que são amarela, vermelha 1 e vermelha 2. E esta última, que aumentou 52%, vai impactar diretamente o nosso  bolso. Então, é momento de equilibrarmos nosso consumo, isso é fundamental. Temos penalizações. Se você consumir a mais, será penalizado no seu bolso. Parece que é pouco, olhando no valor, mas isso no nosso orçamento doméstico faz muita diferença.

Existem horários do dia em que a energia é mais cara?
O que acontece é que, à noite, todos nós vamos para casa e consumimos mais energia e, nesse momento, a energia fica mais cara. Porque no período que a gente chega em casa, no final da tarde, toda família vai ligando os aparelhos, fazendo o jantar, assistindo TV, ligando as redes sociais, é o momento que gastamos mais energia e o consumo é maior. A ANEEL falou um pouco sobre isso, de mudar os momento de se usar a energia. Para os consumidores finais como nós, é mais difícil, mas para as empresas, por exemplo, elas podem mudar o processo de produção, fazer isso durante o dia. Então, estão tentando adequar isso para poder não aumentar mais, porque a ideia é aumentar ainda mais até novembro.
Se tivéssemos mantido medidas como o horário de verão, o cenário seria diferente?
Michel Houve uma discussão nesta semana sobre isso e, com os números divulgados, o que se observa é que o percentual que ganharíamos com o horário de verão não iria diferenciar muito.  Então, essa diferença seria muito pequena do horário de verão para poder reduzir esses custos para o consumidor. A verdade é que não teríamos impacto nenhum e a energia seria aumentada de qualquer forma no preço final das bandeiras.

Há a questão dos custos, como geração, transmissão e distribuição. Isso também é um problema?
Esse é o maior problema na nossa conta de energia e da nossa parte no consumo pois os custos estão ligados à tributação, que é muito alta para o consumo  da energia. E quando temos essas bandeiras, elas também são tributadas. Se temos toda essa tributação, quem paga isso? Se todos nós pegarmos a conta de energia e olharmos, todos nós estamos pagando isso. Nós poderíamos ter uma nova forma tributária, principalmente, pensando em novas energias, não só na energia elétrica. Além disso, temos até a discussão em tributar a energia solar. Essa questão da tributação é a que mais impacta no preço da energia. 

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