RÁDIOS
Três Lagoas, 24 de abril

Planejamento da vida financeira se torna cada vez mais necessário, diz economista

Entusiasta da Educação Financeira e professor de Economia da UFMS, Marçal Rogério Rizzo, avalia atual cenário econômico

Por Ana Cristina Santos
15/05/2022 • 07h00
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Dados alarmantes revelam que a vida financeira de milhões de brasileiros se encontra fora do equilíbrio. A inadimplência tornou-se realidade e as contas atrasadas fazem parte do cotidiano. Quais razões levaram os brasileiros para esse cenário? Como conviver com isso? Quais dicas para encurtar o caminho da inadimplência para o nome limpo? 
Entusiasta da Educação Financeira e professor de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo, conversou com o Jornal do Povo sobre esse tema. 

A situação financeira do brasileiro realmente necessita de atenção ou há um certo exagero com relação aos dados de inadimplência?
Marçal Rogério Rizzo O fato é que atualmente temos mais de 65 milhões de inadimplentes, ou seja, pessoas que estão com as contas atrasadas por mais de três meses. A circunstância merece a atenção já que teoricamente são 65 milhões de pessoas que poderiam consumir sem restrições da inadimplência. Dívidas sem pagamento também são responsáveis por desequilíbrios emocionais acarretando perdas na capacidade produtiva; intelectual e levando a depressão; ao divórcio, a brigas entre familiares e outros problemas sociais.

Contrair dívidas é sempre negativo?
Marçal Não. Desde que nascemos já somos consumidores. Necessitamos do essencial para sobreviver. Há diferenças entre consumidor e consumista, e, entre endividados e inadimplentes. Contrair uma dívida, algo que seja planejado, algo pensado no âmbito da decisão pessoal ou familiar pode ser uma oportunidade ou a realização de sonhos. O que não podemos achar normal é contrair dívidas fora da capacidade de pagamento, ou mesmo contrair uma dívida para comprar algo que não seja essencial, isso está fora das boas práticas da Educação Financeira. Quem conseguiria adquirir uma casa própria sem contrair uma dívida? Quem compra um carro ou uma moto sem adquirir um carnê de financiamento com muitas folhas? Moveis, eletrodomésticos e equipamentos também são adquiridos mediante a crediário. Agora o que não pode fazer e comprar sem ter condições de pagar e se tornar um inadimplente. 

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Além da falta de Educação Financeira existem outros fatores que levam as pessoas a se tornarem inadimplentes?
Marçal Sim, existem vários fatores. Há milhões de brasileiros que estão inadimplentes em razão das várias adversidades que a vida nos traz. Pense que na esfera da família muitas surpresas boas e ruins podem surgir: Casamento; divórcio; nascimento; óbito; desemprego; acidente; recolocação; mudança de localidade entre outras. Nosso mundo de maneira geral também está cada vez mais incerto. Quem esperava viver uma pandemia? E uma guerra em pleno 2022? E as tantas mudanças climáticas? No caso do brasileiro inadimplente além do descontrole financeiro por ausência de noções de Educação Financeira, existem os muitos casos de pessoas vítimas da Covid e das elevadas taxas de inflação, as quais diminuiram o poder de compra. Existem os casos de pessoa perdeu o emprego ou fechou seu negócio e quando retornou ao mercado de trabalho em um novo emprego ou empreendendo voltou ganhando menos. Os números têm mostrado que postos de trabalho vêm sendo abertos ou reabertos, porém a renda média não tem aumentado. Outro ponto que merece a atenção é que no Brasil não temos competição entre os poucos bancos que existem frente as taxas de juros, em especial, para os empréstimos com maior facilidade e rapidez de acesso como cartão de crédito e cheque especial. Os bancos brasileiros são altamente lucrativos, a população paga caro por isso. 

Há formas de minimizar os impactos dessas incertezas nas finanças pessoais?
Marçal As incertezas existem e continuarão existindo. Planejamento da vida financeira se torna cada vez mais necessário. Não é mais prudente viver no modo imediatista, viver o hoje sem projetar-se para o amanhã. Temos que criar barreiras de proteção contra essas incertezas, criar amarras para minimizar tais incertezas. Uma forma que é lembrada e pouco praticada é a criação da reserva de emergência, ou seja, ter uma reserva estratégica para esses momentos incertos. O verbo poupar deve ser sempre exercitado independentemente do valor, tem que ser praticado para se tornar hábito. Viver um padrão de vida no degrau debaixo e planejar com base o curto, médio e longo prazos também auxiliam nesse trajeto sem tantos impactos negativos em nossas vidas. 

Essa exposição ou mesmo ostentação da vida pessoal nas redes sociais contribui com a inadimplência?
Marçal As redes sociais geram conteúdos que estão diretamente ligados ao consumo. Tornaram-se uma extraordinária vitrine. Promovem produtos e serviços e são muito eficazes. As pessoas expõem suas vidas mostrando que saíram para comer fora; postam fotos de pratos e bebidas; expõem que estão viajando; que vestem roupas caras; frequentam baladas e festas entre outros. Até leva ao pensamento se consumo, logo existo e sou aceito. Já se não consumo não existo e não estou aceito! Quem não tem discernimento para entender que as redes sociais são uma manifestação somente de momentos selecionados para serem expostos acreditará que a vida do outro parece ser mais legal que a sua, e é justamente neste ponto que mora o perigo. Querer viver uma vida que não está ao seu alcance, viver no degrau de cima, viver em um padrão de vida que está descolado da capacidade de pagamento, dessa forma se endividam e logo vem a inadimplência. 

As compras pela internet também contribuem com a inadimplência?
Marçal A internet traz catálogos e vitrines para dentro das nossas casas e para a palma de nossas mãos. Os pagamentos eletrônicos, ou melhor o não uso do dinheiro em espécie, faz com que não sentimos a real dimensão da saída de dinheiro do nosso bolso, pois a conta só vem depois. Não enxergamos o dinheiro sendo transferido de nossas mãos para a mãos de outros. O uso do cartão de crédito parcelado cria facilidades para o endividamento e as compras pela internet em sua grande maioria são pagas com cartão de crédito e, de forma parcelada o que cria dívidas para os próximos meses. 

 Para quem está inadimplente há alguma dica para facilitar sua vida?
Marçal Primeira dica é se conhecer de verdade. Ter um retrato real de quanto ganha, de quanto gasta e de quanto deve. Colocar tudo no papel é o ideal. Passar um pente fino nos gastos, fazer uma revisão e se possível ampliar os ganhos. Foque no essencial e sempre que possível pesquise os preços. Renegociar as dívidas é um ponto chave. Troque as dívidas de juros mais altos pelas que possuem juros menores. Um bom exemplo é trocar a dívida do cheque especial e do cartão de credito pelo consignado. Fique atento para os “Feirões Limpa Nome”, pois podem ser uma oportunidade de acertar suas dívidas, já que normalmente apresentam boas condições para renegociar.

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