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Três Lagoas, 18 de abril

Primeira treslagoense é destaque em livro

O livro é ?Desbravadores de Sertões: Saga e Genealogia dos Garcia Leal?

Por Divulgação
04/01/2010 • 09h19
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Desde o ano de 1830, quando Três Lagoas era habitada pelos indígenas Ofaiés, ao sul, e Caiapós, ao norte, membros da família Garcia Leal passaram a realizar incursões neste território, o que posteriormente daria origem ao município. Quase duzentos anos depois, essa família, que foi a primeira a colonizar o Estado de Mato Grosso do Sul de maneira bem-sucedida e ininterrupta, ganha uma obra dedicada a estudar sua história e seus êxitos, intitulada “Desbravadores de Sertões: Saga e Genealogia dos Garcia Leal”.

Durante as pesquisas para o recém-publicado livro, foram resgatados arquivos antigos nas paróquias de SantAna de Paranaíba e Três Lagoas e no Memorial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, cuja análise acaba por mudar como deverá ser estudada a história de Três Lagoas daqui por diante. Os documentos também revelam a figura de Zulmira Maria de Jesus, a primeira treslagoense, que foi uma bem-sucedida mulher de negócios, pecuarista e industrial, e que agora recebe destaque na obra.

Segundo o historiador James McPherson, que recebeu o prêmio Pulitzer por seu notável trabalho, a “história é um contínuo diálogo entre o presente e o passado. Interpretações do passado estão sujeitas a mudanças devido ao surgimento de novas evidências, questões perguntadas à face dessas evidências, e novas perspectivas ganhas com a passagem do tempo.” Poucos conhecem ou estudam a história de Três Lagoas antes da chegada dos primeiros engenheiros da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ao município, no ano de 1909. Entretanto, já àquela época, o local era um importante centro de comércio em que fazendeiros provindos da região e de outros Estados realizavam seus negócios. Tanto assim, que desde o início do século XX existia às margens do ribeirão Palmito uma Coletoria Federal onde eram taxadas essas atividades de compra e venda. Conforme hoje se comprova, o povoamento do município por neobrasileiros, ou não indígenas, iniciou-se muito antes, até, da chegada de Antônio Trajano dos Santos à região. Através dos recentes estudos de registros paroquiais, de inventários de personagens históricos e do padrão de ocupação da terra por seus descendentes, conclui-se que o povoamento de Três Lagoas começou no início da década de 1880, com a chegada do casal de pioneiros Luís Correia Neves Neto e Claudina Correia Garcia, os pais de Zulmira Maria de Jesus, ao norte de seu território.

Claudina Correia Garcia nasceu em Paranaíba no ano de 1843, sendo neta do Alferes Januário Garcia Leal. Devido à escassez de habitantes nos sertões, a pioneira se casou com seu tio paterno, Luís Correia Neves Neto, também nascido em Paranaíba, em 1835, e sobrinho-neto do Inconfidente mineiro, padre Manuel Rodrigues da Costa. Nos anos que se seguiram ao casamento, que ocorreu por volta de 1862, o casal residiu em propriedade às margens do rio Lajeado, região onde as terras do Alferes Januário Garcia Leal confluíam com as dos Correia Neves, ao sul do rio da Quitéria. No processo de inventário de Bernardino Correia Neves, pai de Claudina, denota-se que o casal Luís e Claudina não mais estava vivendo na fazenda Lajeado, provavelmente porque já havia partido para tomar posse do território que herdaria, ao sul dos ribeirões São Pedro e Beltrão. O fato de a irmã de Claudina, Eleodora Correia Garcia, ter herdado as terras ao norte do ribeirão São Pedro corrobora as informações, tanto que o neto desta, Alexandre Batista Garcia, foi um dos fundadores do município de Inocência. A localização da propriedade do casal Claudina e Luís, denominada São Pedro, também pode ser conhecida através da análise da ocupação do território por seus filhos e descendentes, dentre os quais Cherubino Correia Garcia, que se estabeleceu às margens do ribeirão Santa Rita. Luís Correia Neves Neto faleceu no ano de 1885, provavelmente em uma incursão de reconhecimento pelo território de Três Lagoas, como era comum à época.

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Devido a sua morte precoce, Luís Correia Neves Neto, juntamente a sua esposa, até o momento não havia recebido o devido reconhecimento na história do município de Três Lagoas. As novas descobertas revelam, no entanto, que seu sucesso como pioneiro na região, com sua família e alguns escravos, certamente foi um fator decisivo para atrair ao sul nomes como Protázio Garcia Leal, em 1887, e Antônio Trajano Pereira dos Santos, em 1890. Após o falecimento do patriarca, Claudina e seus descendentes continuaram a contribuir para o desenvolvimento do território, através da pecuária e do comércio em suas propriedades, que levaram ao estabelecimento de novas rotas para o sul, dentre as quais a estrada que daria origem à BR-158. Com a chegada do século XX, a região veria mais um membro desta família se tornar um símbolo de sua predestinação.

Zulmira Maria de Jesus nascera logo após a mudança de seus pais para o futuro território de Três Lagoas, em 1882, tornando-se, assim, a primeira treslagoense. Quando da morte do pai, possuía apenas três anos de idade. Órfã, Zulmira casou-se aos treze anos com seu primo, Alexandre Batista Parreira, filho de sua tia Eleodora Correia Garcia. Entretanto, assim como se tornara órfã e se casara cedo, acabou por perder o marido também em tenra idade, em 1907. Com uma fazenda e cinco filhos para cuidar, Zulmira, conhecida por ser voluntariosa e por ter personalidade forte, viu-se sem nenhuma alternativa senão tratar de tudo sozinha, trabalhando de sol a sol para tomar conta da roça, rodear o gado e educar as crianças. A partir de então, tornou-se famosa não somente por ser rígida e exímia administradora, como também por ser uma das mais bem-sucedidas fazendeiras da região. Após dois anos de batente árduo e solitário, conheceu Jovino José Fernandes, fazendeiro baiano recém-chegado a Três Lagoas, com quem se casou em segundas núpcias. A associação entre ambos foi prolífica não só no matrimônio, como também nos negócios. Juntos, diversificaram as atividades da fazenda Beltrão, pertencente a Zulmira, adotando a criação intensiva de suínos e a plantação de cana-de-açúcar, e estabeleceram a produção em larga escala de rapadura e água-ardente. Tratou-se da primeira indústria do município, iniciando vocação que se confirmaria nos dias atuais. Foram as mais ricas pessoas de negócios da região nas décadas de 1920 e 1930. Assim como o pai, Zulmira faleceu precocemente, no ano de 1932, quando Três Lagoas participava da Revolução Constitucionalista ao lado de São Paulo. Estando a cidade sitiada pelo Exército, que momentaneamente estivera acampado na fazenda Beltrão, Zulmira Maria de Jesus não pôde ter acesso aos cuidados médicos de que necessitava devido a uma pneumonia, vindo a morrer no dia 23 de julho.

Sua história, juntamente às histórias de Luís Correia Neves Neto e Claudina Correia Garcia, de Protázio Garcia Leal, de Antônio Trajano Pereira dos Santos e de outros pioneiros treslagoenses, foi pesquisada por Aaron Salles Torres e Elza Fernandes Torres e mereceu grande realce na obra “Desbravadores de Sertões”, que foi publicada com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. O livro, o primeiro em sua magnitude e na profundidade de sua análise da história de Três Lagoas e do Estado, foi publicado em Campo Grande. A partir de sua publicação, passa a ser peça fundamental de pesquisa para aqueles que pretendem estudar a narrativa do município em sua totalidade, desde seus mais antigos fundadores e estabelecedores de suas vocações. Faz-se necessário adicionar o conhecimento trazido pelas novas evidências reveladas nesse complexo estudo à história de Três Lagoas, quando a cidade se encontra prestes a completar cem anos de sua fundação oficial.

A obra denominada “Desbravadores de Sertões: Saga e Genealogia dos Garcia Leal”, registra, ainda, dezesseis mil indivíduos em dezesseis gerações a partir do ano de 1650.

Para adquiri-la, entrar em contato com Elio Barbosa Garcia pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (14) 3815-8920.

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