Protesto

O que dizem as tatuagens do desfile da alta-costura da Dior?

As frases em francês são de André Breton.

23 JAN 2018 • POR Redação • 13h08

Maria Grazia Chiuri não tem medo de statements políticos. Mas o mais recente desfile de alta-costura da Dior, marca sob sua direção criativa, exibe uma nuance de seu trabalho que já vínhamos acompanhando através de suas criações: a poesia e a teatralidade também têm lugar cativo entre suas inspirações.

Seu inesquecível debut continha mensagens claras de protesto: no primeiro, surgiu na passarela uma camiseta com a mensagem “We Should All Be Feminists” (“Todos deveríamos ser feministas”), cunhada por Chimamanda Ngozi Adichie. Depois disso, no desfile seguinte, foi a vez de questionar a falta de mulheres artistas do mesmo peso que homens como Picasso e Dalí, daí as estampas com os dizeres de Linda Nochlin, “Why Have There Been No Great Women Artists?” (“Porque não existiram grandes mulheres artistas?”)

 

Agora, no entanto, não são slogans e nem dizeres políticos, mas sim frases de André Breton que estamparam a pele das modelos que caminharam entre o cenário de piso P&B com orelhas, narizes, olhos e bocas pendentes do teto.

A importância das mulheres é inquestionável para Maria Grazia. Nessa temporada, foi a artista Leonor Fini — que usava roupas Christian Dior constantemente — e seu trabalho surrealista e pouco explorado que deram o tom das roupas. Sua frase clássica, “Só me interesso por aquilo que é inevitavelmente teatral em minha vida”, pautou o desfile. A poesia e o mundo onírico não couberam em uma estampa — e precisaram passar para a pele, onde indicam que precisam ser vivenciadas, e não apenas transmitidas aos outros.

Cinco dizeres diferentes foram temporariamente tatuados nas saboneteiras das modelos: “l’imaginaire c’est ce qui tend à devenir réel” (“o imaginário é o que tende a tornar-se real“), “l’amour est toujours devant vous aimez” (“o amor está sempre diante de você, ame“), “au départ il ne s’agit pas de comprendre mais bien d’aimer” (“no começo não é uma questão de compreender, mas de amar“), “liberté d’amour contradictoire” (“liberdade do amor contraditório“) e, por fim, “attitudes spectrales“, título de um dos poemas do autor surrealista. Aparentemente, palavras foram mais valiosas do que qualquer colar de pérolas ou diamantes.