Moda

O quarto dia de desfiles no SPFW N45

Acompanhe as resenhas desta quarta-feira com desfiles de A.Niemeyer, Lenny Niemeyer, Salinas, Beira, Cotton Project, Lino Villaventura e Apartamento 03.

26 ABR 2018 • POR Redação • 08h12

A presença de marcas como a A.NIEMEYER no SPFW faz cada vez mais sentido, principalmente numa temporada de desfiles pasteurizados, sem emoção e identidade. As peças confortáveis, de modelagem ampla e texturas aconchegantes, como lã, tricô e tapeçarias, têm cara própria e são diferentes de quase tudo que se vê no mercado nacional.

É uma moda descomplicada, com materiais de qualidade, 100% focada no guarda-roupa de suas consumidoras. Desta vez, as peças ganham elementos esportivos e do surf, graças à inspiração no estilo de vida de Montauk, cidade praiana de Nova York. Não se trata de um desfile show, nem é essa a proposta. Por isso mesmo, parecem estranhos alguns modismos desnecessários, como alguns recortes, volumes e sobreposições. Se a ideia é conforto, menos é sempre mais. 

Já dá para perceber no primeiro look – um maiô verde sob corset com babados – a diferença no olhar e tratamento de Lenny Niemeyer sobre identidade brasileiras e nossa moda praia. Numa coleção dedicada às mulheres que desbravaram a fauna e flora do nosso país no decorrer da história, são poucos (quase nenhum, na verdade) os clichês. As estampas de folhagens, por exemplo, são derivadas de tramas de palhas e técnicas de cestaria marajoara, que também aparecem como texturas ao longo do desfile. Há também camisas de seda, calças cargo e macacões – que nunca foram tão desejados como peça de veraneio. Rola até um momento 80’s ostentação chic, com maiôs com drapeados e amarrações de seda, nas mangas. Mesmo aqui, porém, a distinção, expertise e sofisticação de Lenny, evita qualquer obviedade ou desvio para o lugar comum.

A moda praia da Salinas ganha um refresh com a inspiração que vem direto dos clubes e hotéis brasileiros. Além de camisões, biquínis esportivos e golas que remetem às camisetas de tênis, o toque final fica por conta das flats da Melissa e das toalhas na cabeça, que saem da sala de banho e invadem o mundo dos acessórios. 

Segundo Livia Cunha Campos, diretora criativa da Beira, as coleções de sua marca são desenvolvidas com princípio de continuidade, onde uma dá sequência à outra, valorizando o tempo, criando diálogos entre elas e assim contar uma história sem rupturas. As peças tem imagem minimalista e simples à primeira vista mas sua construção e modelagens tem design bastante complexo. Muito interessantes as soluções para o “giro” da peça como o casaco com shape de “moletom” que tem costas desabadas e a lateral “dobradura” dos vestidos, macacões e bermudas. Para esse tipo de roupa, a pesquisa de materiais é de extrema importância e além das fibras 100% naturais, Livia apresenta um jeans que combina algodão, PET e seda ecológica vinda de uma tecelagem artesanal que reaproveita casulos geralmente descartados e criam textura linda para a trama. A única dúvida que fica é a necessidade de se desfilar quando ainda o produto apresentado é tão parecido com os vendidos desde a abertura da marca e talvez fossem mais apreciados em algum tipo de apresentação ou showroom intimista.

Se antes parecia ser o surf e o lifestyle californiano que inspirava a Cotton Project agora eles armam fuga para o deserto americano (ou roça?) e de lá trazem as camurças, chapéus e a atitude western dessa coleção. O desfile começa com uma projeção da seguinte frase: “How to leave your old life behind”. Depois, apresentam algumas citações que julgam poder funcionar como drivers internos para mudança. Nesse clima zen e de reflexão, a coleção combina clichês do loungewear como um conjunto tipo pijama e casacos de pelúcia com a alfaiataria de pegada rural. Como sempre, o destaque fica para a ótima t-shirt de manga longa com mais uma frase e print gráfico que promete ser o hit da coleção.

Lino Villaventura celebra 40 anos de marca e para comemorar o momento resgata e reinventa sua história com a moda. A coleção entrega memórias afetivas da trajetória do criador com suas criações, e também insere novos elementos, como as linhas perpassadas que surgem nos tecidos e tomam conta da beleza. O conjunto demonstra o desejo de Lino de continuar provocando e inspirando seu público. 

A memória é que guia Luiz Cláudia nesta temporada. Em sua Apartamento 03, o designer escava lembranças de sua infância rodeada de grandes mulheres costureiras a quem deve seu apreço pela moda e seu rigor técnico. Por isso, os restos de tecido dos “vestidos para as madames” feitos pelas artesãs virou padronagem, os fios que sempre grudavam nos uniformes de escola do estilista quando criança tornaram-se bordados propositais e por aí vai. Cada momento se transforma em detalhe, shape, tecido e desenho nesta coleção com raro tom emotivo e sincero do qual sentimos falta no mundo da moda.

(mdemulher)