Entrevista

Animais na lagoa: tragédia previsível

Promotor de Justiça defende que jacarés da espécie papo-amarelo sejam retirados imediatamente da área urbana de Três Lagoas

8 JUL 2018 • POR Valdecir Cremon • 07h00
Promotor de Justiça Antônio Carlos Garcia de Oliveira - Cláudio Pereira/JPNews

Apesar de apreciados por frequentadores da Lagoa Maior, animais selvagens que vivem soltos no local preocupam o promotor de Justiça, Antônio Carlos de Oliveira, responsável pelas pautas de meio ambiente no Ministério Público, na cidade. Contrário à presença de capivaras e jacarés na área urbana da cidade, frequentada diariamente por centenas de pessoas, ele é autor de uma ação que pede à Justiça a remoção dos bichos para áreas de preservação ambiental. A medida é segurança, garante Antônio Carlos, que teme por ataques a humanos, além do risco de transmissão de febre maculosa por capivaras. 

Jornal do Povo - Houve ao menos dois ataques recentes de jacarés a cães e há risco de acidentes com as pessoas. O que se está esperando ocorrer?
Antônio Carlos - Uma desgraça. Uma tragédia, com um ataque a uma pessoa, adultos ou crianças que frequentam a Lagoa Maior. Isso pode estar muito perto de ocorrer porque as pessoas parecem ter perdido o medo de pôr as mãos nos animais. Nesta semana vi uma foto de uma criança passando a mão na barriga de uma capivara.

JP - Mesmo com o risco de contaminação pela febre maculosa?
Antônio Carlos - Sim. Esse risco existe. Mas, tenho visto que há um acompanhamento da Secretaria de Meio Ambiente e não foi encontrado o carrapato que transmite a doença. Felizmente, porque se houver o carrapato será necessário sacrificar todas as capivaras, porque, afinal, estão dentro da área urbana.

JP - Não haveria outra alternativa?
Antônio Carlos - Não, porque seria um risco ainda maior que um possível ataque de jacaré a uma pessoa, por exemplo. Felizmente não foram encontrados carrapatos nas capivaras.

JP - A Justiça aguarda, agora, um laudo do Ibama para decidir o destino dos jacarés. Mas, é o Ibama quem deve dar a palavra final sobre isso?
Antônio Carlos - Por mim, não. Nem qualquer outro órgão estadual. Esse é um assunto municipal, e a Secretaria de Meio Ambiente, da Prefeitura de Três Lagoas, tem poder para tomar essa decisão e remover os jacarés para um local seguro, onde é o habitat desta espécie.

JP - A secretaria municipal teria essa competência, na sua opinião?
Antônio Carlos - Tem, porque, no ano passado, não foi a secretaria que determinou a remoção de três jacarés da mesma espécie? Então por que, agora, depende de autorização de outro órgão superior? A secretaria tem essa autonomia e, ainda, possui pessoal especializado para isso.

JP - Outro problema da Lagoa Maior são as construções no entorno, bem perto da água. Não é possível fazer mais nada?
Antônio Carlos - Juridicamente fizemos o possível. Agora trata-se de uma questão que o município deve decidir se quer um local de recreio, de passeio, para conservação ambiental, ou se a Lagoa Maior será uma área de construções. Por que, da maneira que vem vinho, nos últimos anos, logo teremos de usar drones para ver a lagoa. Já há construções que desfiguram a beleza natural da lagoa. Nós tentamos combater isso, mas não foi possível, ainda. Enquanto eu for promotor de Justiça na área do meio ambiente não vou concordar com isso.