CRIME AMBIENTAL

Onças e outros 18 animais foram mortos por envenenamento, conclui Polícia Federal

Os bichos haviam sido encontrados mortos no Pantanal do Abobral, região de Corumbá no ano passado

24 MAI 2022 • POR Ligia Sabka • 17h15
Antes de ser envenenado, macho da espécie era monitorado por pesquisadores e pesava mais de 120kg - divulgação Reprocon

Quase um ano depois do início das investigações sobre a morte de duas onças e outros 18 animais na região do Passo do Lontra, pantanal sul-matogrossense, a Polícia Federal de Corumbá concluiu o inquérito e indiciou três pessoas por crime ambiental. As onças-pintadas, 14 urubus, dois carcarás, um cachoro-do-mato e um bovino morreram envenenados, de acordo com a perícia realizada nos animais que estavam em estado de decomposição quando foram encontrados, em junho de 2021, por uma equipe do Instituto Reprocon - uma organização não governamental que atua para a preservação de espécies silvestres.

Foi o trabalho de rotina dos pesquisadores do Instituto Reprocon que permitiu a localização desses animais, 600 metros da margem do rio que passa por uma propriedade privada arrendada, no pantanal. Os especialistas procuravam por um dos animais monitorados por meio de um colar de GPS que, desde o dia 10 de maio de 2021 passou a emitir sinal sinal referente ao sensor de mortalidade. O equipamento foi encontrado junto ao corpo de uma das onças, um macho de apenas quatro anos que tinha mais de 120kg, e havia sido apelidado de "Sandro". O animal era monitorado desde setembro de 2020. A outra onça envenenada pesava em torno de 140kg de acordo com os pesquisadores do Reprocon. 

Na época, policiais federais e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estiveram no local e em outras fazendas da região para apurar o que teria causado as mortes dos animais. Amostras dos órgãos em decomposição também foram enviadas para análise de perícia laboratorial em Brasília e o resultado confirmou a presença de carbofurano, um agrotóxico de venda proibida no Brasil desde outubro/2017, por ser extremamente tóxico. 

A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, estudou o carbofurano por mais de uma década até banir o uso no Brasil e diversos países também proibiram a utilização do composto. Em 2002, a China proibiu o uso do carbofurano em árvores frutíferas, vegetais, chás e medicamentos fitoterápicos. Em 2009 o carbofurano foi proibido nos Estados Unidos e, em 2010, no Canadá. Nos países europeus, a agência regulatória também concluiu que o carbofurano representa risco à saúde da população pelo consumo de alimentos e pelo consumo de água. Mesmo assim, produtores brasileiros conseguem comprar esse agrotóxico porque o produto é facilmente encontrado no Paraguai.

O laudo pericial sobre a morte dos animais no pantanal apontou ainda que o uso indevido e criminoso do agrotóxico tem sido comum: “carbofurano para envenenamento intencional de animais domésticos e selvagens tem sido frequentemente descrito em publicações científicas, como um dos praguicidas mais comuns para esse fim”, traz o texto assinado pela perícia.

Entre os indiciados há um produtor rural e o funcionário de uma fazenda, mas os detalhes do inquérito e os nomes dos acusados não foram revelados pela Polícia Federal porque a Justiça ainda não recebeu o documento.  Ambientalistas alertam que, além de ser crime e um ato de covardia, o envenenamento de animais gera um efeito cascata de grande escala pois mata muitos bichos que se alimentariam das carcaças. É o que ocorreu nesse caso investigado pela Polícia Federal quando diversas espécies da cadeia alimentar morreram envenenadas.