A cada dois dias, um adolescente é detido pela PM

Para o comandante da corporação, tenente-coronel Washington Geraldo de Oliveira, a culpa dos altos índices é da droga

22 JAN 2009 • POR Redação • 13h56

A cada dois dias, pelo menos um adolescente comete algum delito em Três Lagoas e é detido pela Polícia Militar (PM). De acordo com as estatísticas do 2º Batalhão da PM, em 2008, 227 adolescentes foram apreendidos pela polícia. Numa média mensal que varia de 12 registros (mês de março) a até 33 casos, como foi registrado no mês de junho do ano passado. Já neste ano, até o dia 15 de janeiro, a PM já havia registrado seis casos de ato infracional no Município. Entretanto, o número pode ser ainda maior, já que os casos registrados pela Polícia Civil não são computados na PM.

Para o comandante da corporação, tenente-coronel Washington Geraldo de Oliveira, a culpa dos altos índices é da droga. “A violência é culpa da droga. Já disse isso antes e repito: Você que fuma maconha, que cheira sua carreira é o culpado”, dispara. O oficial explica que Três Lagoas é considerada hoje a pior cidade em todo Mato Grosso do Sul em relação ao consumo de entorpecentes.

“Aqui não é rota, é ponto de varejo. Começou em 1993 e, hoje, boa parte destes adolescentes, de todas as classes sociais, não são só os pobres não, está consumindo drogas cada vez mais cedo e cada vez mais pesadas”.

O uso, de acordo com o comandante, é a porta de entrada do adolescente para o crime. “Primeiro ele usa, depois ele começa a ter de vender para poder consumir, depois ele passa para furtos dentro de casa e, quando não sobrar mais nada, vai para as duas praticar furtos e roubos”.

Além disso, também há uma preferência pelos adolescentes. Geraldo explica que a inconseqüência e a personalidade ainda em formação, comuns na idade, são fatores determinantes na escolha de adolescentes para alguns “trabalhos” dentro do crime. “O adolescente é mais fácil de convencer, está na fase de busca por auto-afirmação. Eles também são mais doidos, se arriscam mais, não tem medo de pegar uma arma. A adolescência não tem limites”, disse.

VIGANÇA E OSTENTAÇÃO

Em relação aos assaltos com envolvimento de adolescentes, Geraldo explica que são dois os principais motivos: vingar-se daquele que tem mais e ‘crescer na vida’ pelo jeito mais fácil. “A princípio, eles pensam em subir na vida. Imagine o que é para um garoto ver o pai trabalhar mais de 8 horas por dia e ter uma bicicleta e, ao olhar para o lado, ver um bandido com um carro novo e sem trabalhar. Para ele, o crime é o único meio de ficar rico sem esforço. Mal sabe que é o meio de morrer jovem”.
Geraldo completa: “No entanto, depois se transforma num desejo de vingança. Vingar-se daquele que tem mais. É a questão de mostrar poder, ser mais forte que todos. Pode ser contra a vítima, pode ser contra um amigo, contra qualquer um”.

SOLUÇÃO

O comandante defende duas soluções para a redução dos crimes praticados por adolescentes. Uma delas, a longo prazo, é relacionada à estrutura familiar. “Os pais só são presentes quando os filhos vão pra delegacia. Na hora de educar, não está lá. Os pais perderam o controle sobre os filhos. Deixam os filhos saírem sem saber quem são os colegas. Acham que escola, lans e vídeos-games irão educá-los. De repente, o filho aparece com um cigarro de maconha em casa. Daí é tarde”.
Já a segunda solução, esta de retorno mais rápido, seria a alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Para Geraldo, adolescente que comete crime de adulto deve ser julgado como adulto. “Apenas no Brasil acontece isso, um adolescente que mata uma pessoa fica no máximo três anos na UNEI [Unidade Educacional de Internação]. Nos Estados Unidos e na Europa, eles são julgados igualmente”, disse.
No entanto, o oficial defende que a permanência em locais separados. O adolescente deve cumprir leis mais rígidas, porém junto com outros adolescentes. “Envolvê-los com outros bandidos seria ainda pior”, esclarece.
Desde o começo do ano, duas quadrilhas de assaltantes foram presas pela polícia. Nos dois grupos havia participação de adolescentes, sendo que um deles era conhecido por agredir violentamente as vítimas. No outro grupo, os adolescentes foram usados como “olheiros” do assalto.
Além disso, há um mês dois adolescentes foram responsáveis pela morte de uma mulher. Os garotos mataram a jovem à pauladas e deixaram o corpo num terreno baldio. Um deles foi apreendido no começo deste mês. O outro continua foragido. (RP)