Mãe abandona recém-nascido

O bebê, com cerca de duas horas de vida, estava na calçada

17 DEZ 2008 • POR Danilo Fiuza • 06h25
Criança estava enrolada em uma tolha e colocada dentro de sacola de plástico em frente a uma casa

Sirlene Rosa Barbosa, 44 anos, chegava a residência após mais um dia de trabalho. Ainda na moto, notou a presença de sacos de lixo em frente à casa. Ela estranha. Desce para ver do que se trata e quando abre as sacolas uma surpresa: em seu interior havia uma criança recém-nascida. Foi exatamente dessa forma que a moradora da rua Etelvino Custódio de Queiroz, bairro Jardim Estoril, encontrou a criança com apenas duas horas de vida, abandonada em sua calçada. O fato ocorreu por volta das 17 horas de segunda-feira (17).
Em um termo de declarações prestado à Polícia Civil, Sirlene explica que a criança estava enrolada em uma toalha de cor azul e dentro de sacos plásticos (de lixo) amarelo e preto. Após o choque, a primeira medida foi chamar uma vizinha e, juntas, acionar a Polícia Militar.
Com a presença dos militares, a recém-nascida foi encaminhada às pressas ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, transportada nos braços de Sirlene. No hospital, a toalha azul, a única herança deixada pela mãe, foi retirada e a equipe médica pode constatar que se tratava de uma menina.
Ainda no hospital, as conselheiras Elizabeth Carvalho de Souza e Silvana Lopes foram acionadas. De acordo com Elizabeth, a criança ainda estava suja de sangue e com o cordão umbilical quando encontrada. “Chegamos ao hospital e nos deparamos com aquela situação, um bebê recém-nascido abandonado ao relento, num dia frio como o de ontem (a entrevista foi realizada na terça-feira, dia 16). É um crime muito brutal”, desabafa.
Em três anos como conselheira, esta foi a primeira situação desta proporção atendida pela conselheira. “Já tínhamos cuidado de casos de abandono no hospital, ou entrega de crianças a terceiros, mas nunca como o de ontem”. A criança, como explicou Elizabeth, nasceu perfeita e não apresentava lesões aparentes.
A menina, apelidada no hospital como Vitória por uns, ou Natalina, por outros, nasceu por volta das 15 horas do mesmo dia, duas horas antes de ter sido encontrada, com 2,850 quilos e 46 centímetros. “É uma criança linda, perfeita. Muitos demonstraram interesse em adota-la ainda no hospital e aposto que já houve ligações para o conselho para adota-la, mas, apenas para avisar, esta criança está sob a responsabilidade da Justiça até que este caso seja solucionado”.
Elizabeth informou que um educador do Abrigo Poço de Jacó foi encaminhado para acompanhar o bebê durante a estada no hospital. A previsão era de que a criança recebesse alta ontem, no entanto, até o fechamento desta edição a recém-nascida permanecia internada em observação. “Os médicos também estão aguardando o resultado dos exames realizados para ter certeza de seu estado de saúde”, explicou Elizabeth.
Após receber alta, a criança será encaminhada ao Abrigo, onde ficará sob a custódia da Justiça.

INVESTIGAÇÕES


De acordo com o delegado Eraldo Coelho, titular do 1º Distrito Policial, até o fechamento desta edição, a polícia não tinha pistas do paradeiro da mãe. “Mas as investigações ainda não cessaram, muito pelo contrário, estão começando”, destacou Eraldo.
Pelo Código Penal Brasileiro, a Justiça prevê a pena de seis meses a dois anos de detenção em caso de abandono de incapazes. A pena aumenta em caso de morte, indo de dois a seis anos de detenção, pelo artigo 133 – “abandono de incapazes”. “Porém, dependendo do caso, a pessoa pode responder até por tentativa de homicídio. Depende do fim das investigações”, ressalta o delegado Eraldo.
A conselheira também ressalta: “Dificilmente esta criança retornará para a mãe. Até mesmo em caso de parentes (avós, tios, etc), haverá investigações. Não adianta chorar, agora. Deveria ter pensado antes”.
A Polícia Civil pede que caso alguém conheça o paradeiro da mãe, ou tenha informações sobre o caso, que denuncie pelo telefone 3521-2294.