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ENTREVISTA EXCLUSIVA

COP30: agricultura familiar vira protagonista, e MS aparece entre regiões com maior vulnerabilidade

Secretária-executiva do MDA detalha desafios climáticos, programas de adaptação e ações que incluem atenção específica a agricultores do Estado

- Foto: Arquivo/Semadesc
- Foto: Arquivo/Semadesc

A agricultura familiar assumiu posição central nas discussões da COP30, realizada em Belém, e foi apresentada pelo Brasil como peça-chave para enfrentar as mudanças climáticas.

Em entrevista exclusiva à Massa FM Campo Grande, a secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Fernanda Machiavelli, detalhou programas de adaptação, ações de recuperação ambiental e medidas que incluem atenção especial a Mato Grosso do Sul.

Participação inédita de agricultores, povos indígenas e comunidades tradicionais

Segundo a secretária, a conferência ampliou o espaço de participação de povos indígenas, quilombolas e agricultores familiares de vários países, o que aproximou o debate climático de quem vive diretamente nas regiões mais vulneráveis.

“Conseguimos dar eco à voz das populações que preservam territórios sociobiodiversos fundamentais para o nosso clima. São guardiões dos nossos recursos naturais”, afirmou.

Machiavelli destacou que parte da agricultura familiar já utiliza práticas mais sustentáveis, como diversificação de cultivos e transição agroecológica, consideradas essenciais para sistemas produtivos resilientes.

Eventos extremos exigem adaptação no campo

A secretária apontou que estiagens, enchentes e ondas de calor — registradas com força também em Mato Grosso do Sul — tornam a atividade agrícola mais arriscada e reforçam a necessidade de políticas estruturantes. No evento, o Brasil apresentou medidas do Plano Clima, que prevê:

  • restauração de 12 milhões de hectares de áreas degradadas;
  • redução do desmatamento;
  • ampliação da assistência técnica;
  • crédito subsidiado para adaptação;
  • fortalecimento do Proagro e do Garantia-Safra;
  • incentivo ao uso de bioinsumos;
  • apoio à transição agroecológica.

“A agricultura já é uma atividade de risco. Num clima instável, fica ainda mais arriscada. Estamos fortalecendo instrumentos para permitir a adaptação dos agricultores”, explicou.

Florestas Produtivas: investimento e expansão nacional

Um dos programas apresentados foi o Florestas Produtivas, que recupera áreas degradadas com sistemas agroflorestais. Segundo Machiavelli, o MDA anunciou R$ 426 milhões em investimentos, que incluem recursos do Fundo Amazônia, além de aportes da Petrobras, da Caixa e do próprio ministério.

Ela destacou que o Pronaf terá linha especial com juros de 3% ao ano para agricultores interessados em restaurar áreas e implementar sistemas agroflorestais.

MS é citado como área prioritária dentro da estratégia

Durante a entrevista, Machiavelli citou diretamente Mato Grosso do Sul como um dos estados que demandam maior atenção, tanto pelos impactos climáticos quanto pela vulnerabilidade social no campo.

“Aí mesmo no Mato Grosso do Sul, é um estado que temos tido uma atenção muito específica. Além dos eventos climáticos, temos populações bastante vulneráveis. É o segundo estado com maior número de acampados do país”, disse.

Ela afirmou que a recuperação de áreas degradadas, o acesso à terra e o fortalecimento da agricultura familiar fazem parte do conjunto de ações voltadas também ao estado.

Pas Terra: cooperação internacional e transição agroecológica

A secretária também destacou o Plano de Aceleração de Soluções – Pas Terra, construído com organismos internacionais como FAO e FIDA. O programa reúne dois eixos: restauração de florestas tropicais em biomas semelhantes ao brasileiro e transição agroecológica com intercâmbio entre produtores.

Um dos focos é o modelo “camponês a camponês”, baseado em experiências de agricultores que ensinam práticas sustentáveis aos vizinhos.

Compras públicas fortalecem pequenos produtores

Machiavelli ressaltou que 30% dos alimentos servidos na COP30 foram fornecidos pela agricultura familiar, o que, segundo ela, demonstra capacidade de abastecer eventos de grande porte.

“Mostramos que a agricultura familiar consegue se organizar para grandes entregas. É uma prova concreta”, afirmou.

Ela lembrou ainda que:

  • órgãos federais precisam comprar 30% dos alimentos de pequenos produtores;
  • a alimentação escolar agora deve adquirir 45% de produtos da agricultura familiar;
  • programas sociais e feiras populares buscam ampliar o acesso da população a alimentos frescos, diversificados e menos ultraprocessados.

Confira a entrevista na íntegra:

https://open.spotify.com/episode/7DoBeRhCIWVBFwkiqynNZZ?si=HLQMBZu1Q5uYiD_ojoOOww