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CULTURA

Bienal Pantanal homenageia Manoel de Barros com lançamento de versos inéditos

Durante a Roda de Conversa, Bosco Martins apresentou Diálogos do Ócio e discutiu infância, território e legado poético de Manoel de Barros

Evento em Campo Grande destacou a obra do poeta e reforçou sua influência na literatura contemporânea - Reprodução/Itaú Cultura
Evento em Campo Grande destacou a obra do poeta e reforçou sua influência na literatura contemporânea - Reprodução/Itaú Cultura

A primeira edição da Bienal Pantanal, encerrada neste domingo (12) no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, homenageou Manoel de Barros, um dos maiores nomes da literatura brasileira. O evento reuniu escritores, artistas e leitores em torno da obra e do pensamento do poeta, cuja escrita atravessa gerações e continua a inspirar novas leituras sobre cultura, território e linguagem.

Durante a Roda de Conversa sobre Territórios, Culturas e Geopolítica, o jornalista e escritor Bosco Martins apresentou a edição impressa do livro Diálogos do Ócio, publicado pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que reúne décadas de memórias e reflexões sobre sua amizade com Manoel de Barros. Bosco também revelou anotações inéditas de versos encontrados recentemente, ampliando o repertório conhecido do poeta.

O debate contou ainda com o escritor jardinense James Jorge Barbosa Flores, o Jaminho, e mediação do músico e escritor Rodrigo Teixeira. Jaminho destacou suas obras que exploram a diversidade cultural e linguística do Mato Grosso do Sul, entre elas A Onça Pitoca, ressaltando que “vivemos em um território polifônico e poliglota, e isso não só enriquece a cultura, mas reaproxima histórias que sempre estiveram ligadas da costa do Atlântico à do Pacífico”.

Bosco Martins lembrou coincidências simbólicas que marcaram a homenagem: os 11 anos da morte do poeta, aos 97 anos, em 13 de novembro de 2014, e os 108 anos que seriam completados em dezembro. Em sua fala, destacou o olhar de Manoel sobre a integração cultural e geográfica do continente, tema que décadas depois se reflete nas discussões sobre a rota bioceânica. “Nos anos 1950 ele já falava da importância de ligar o Atlântico ao Pacífico. A poesia dele compreendia o território como corpo e as fronteiras como pontes”, afirmou.

Ao revisitar a trilogia Memórias Inventadas (2005, 2006 e 2007), Bosco explicou a concepção do poeta sobre a infância como o ponto de partida da criação. “Quando o editor pediu que Manoel escrevesse suas memórias da infância, da vida adulta e da velhice, ele respondeu com três livros de infância. Depois disse ao editor: ‘Só tive infância’. Manoel acreditava que a velhice não era o contrário da infância, mas o esquecimento dela.”

Reflexões sobre a Obra de Manoel de Barros

Bosco também refletiu sobre a atualidade da obra de Manoel em um mundo marcado por guerras e intolerância. “A infância é o antídoto da velhez. E velhez, para Manoel, não é a idade, é a incapacidade de imaginar. É o que sufoca a vida, o que endurece o olhar”, afirmou emocionado.

A Bienal reuniu autores como Douglas Diegues, Lenilde Ramos, Sandra Menezes, Wilson Aquino e Samuel Medeiros, além do secretário estadual de Cultura, Marcelo Miranda, e o ativista Carlos Porto, entre outros participantes.

Em outro momento, Bosco recordou a trajetória do poeta fora da literatura. “Manoel se formou em Direito, mas desistiu de ser advogado no primeiro caso. Preferiu a invenção poética à invenção mentirosa. A poesia, para ele, era o modo mais ético de se relacionar com o mundo”, contou.

Novas Edições e Homenagens

A nova edição de Diálogos do Ócio trará atualizações, entre elas um texto do governador Eduardo Riedel, uma homenagem do neto do poeta, Silvestre Barros, e apresentação do biógrafo e professor Gustavo Castro. O livro será disponibilizado nas próximas semanas.

Ao fim da conversa, Bosco convidou o público para visitar o Museu-Casa Quintal Manoel de Barros, que passará por reabertura em breve, com acervo renovado e venda de obras do poeta. “Manoel vive através de sua poesia, preservada pela família e pelo trabalho de quem entende que o Pantanal também é feito de palavras”, disse.