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Três Lagoas, 27 de abril

Gravidez na adolescência gera riscos graves para mãe e bebê

Responsabilidade de criar uma criança pode desencadear série de consequências negativas nos adolescentes

Por Emerson Wiliam
13/03/2024 • 12h22
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Evitar a maternidade na adolescência ainda é um desafio para famílias, educadores e profissionais da saúde, em Mato Grosso do Sul. Em média, seis mil jovens ficam grávidas a cada ano, a maioria tem entre 15 e 19 anos. Em Três Lagoas, um projeto municipal busca a prevenção da gravidez precoce.

A gravidez indesejada impõe uma responsabilidade precoce às jovens, interrompendo uma fase importante da vida e de aprendizado escolar, além de riscos à saúde. Uma história que exemplifica essa realidade é a da Paula, mãe de dois filhos, frutos de uma gravidez não planejada. Ainda jovem, ela conheceu o atual marido e engravidou aos 15 anos.

Na época, Paula ficou muito abalada e pensou no pior que poderia ter acontecido.“Foi um choque, porque eu não tinha experiência de nada. Meu marido e eu não tínhamos nada na época. Só tínhamos ficado e aconteceu por um erro. E aos poucos fomos aceitando, mas foi bem difícil”, contou Paula.

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A responsabilidade de criar uma criança pode desencadear uma série de consequências negativas nos adolescentes. A cobrança e a sobrecarga para desempenhar uma função pela qual não estão preparados pode gerar impactos emocionais e transtornos psicológicos.

A neuropsicóloga, Cláudia Moreira avaliou que essa é uma fase de descobertas e não de tamanhas responsabilidades, e que isso, é um problema estrutural da sociedade. “A adolescente é uma frase de transição para chegar na fase adulta. É a terceira grande fase do ser humano, onde vão ter experiências de relacionamento, treinando a comunicação e desenvolver habilidades”, explicou.  

O caso de Paula, que teve os filhos acompanhada do marido, faz parte de uma minoria, que em grande parte, os pais não assumem a responsabilidade, recaindo toda sobre as mães jovens ou para a família delas.

A criança, quando não é assistida devidamente pelos pais, pode crescer e se tornar uma pessoa dependente emocional, com dificuldades de reconhecer o próprio valor, desenvolver sintomas de ansiedade e depressão e se tornar um adulto agressivo. A falta de preparo para uma mãe adolescente também traz consequências físicas para ela e para o bebê em desenvolvimento.

Além disso, por não ter o conhecimento adequado sobre a responsabilidade que deve ter com o próprio corpo e com a gestação, a jovem mãe acaba deixando de fazer o pré-natal, que é essencial neste processo e é ofertado gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O procedimento é composto por oito consultas essenciais que acompanham o desenvolvimento do feto e a saúde gestacional.

Por ser considerada uma gravidez de alto risco, a criança pode nascer com doenças decorrentes da gravidez precoce. Em 2022, seis bebês nasceram de minas com idade entre 10 a 14 anos, em Três Lagoas. Outros 243 nasceram de mães adolescentes com idade entre 15 a 19 anos. Destes, quatro morreram por decorrência de diversos fatores.

Devido ao alto número de gravidez não planejada em meninas menores de 18 anos, a Unidade de Saúde do bairro Novo Oeste, em Três Lagoas, desenvolveu um programa de implantação do Diu intrauterino. Qualquer adolescente em idade fértil pode ter acesso ao dispositivo. Uma vez implantado, o Diu tem a duração de até dez anos e pode ser retirado quando a mulher desejar.

O programa agora deve contar com a aquisição do Diu Kyleena, que é de um tamanho menor e mais adequado para meninas adolescentes, pois auxilia no controle hormonal e tem uma melhor adaptação, segundo especialistas. A gravidez na adolescência também passa pelo âmbito jurídico. O estatuto da criança e do adolescente conta com leis que amparam e, sobretudo, previnem este fator.

Segundo a coordenadora dos direitos da infância e juventude, Juliana Alfaia, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) atua em Três Lagoas com um acompanhamento de famílias em casos que estão vulnerabilidade da gestação precoce desde a escola, com a capacitação de profissionais da educação.

A gravidez precoce também pode decorrer de um estupro de vulnerável, quando o crime for cometido contra menores de 14 anos. Só no ano de 2024, até o momento, sete crianças foram violentadas sexualmente em Três Lagoas, a maioria do gênero feminino. Em Mato Grosso do Sul, 262 pessoas menores de idade foram vítimas de estupro nos três primeiros meses deste ano.

Se casos como este resultarem em uma gravidez, a interrupção da gestação é um direito da família, se esta for a opção da criança e dos pais ou responsáveis. O procedimento deve ser ofertado de forma gratuita pelo SUS, e em caso de recusa, podem ser acionados o Conselho Tutelar, Ministério Público e a Defensoria Pública.

Confira na reportagem abaixo:

 

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