
Era o final de 1999, início dos anos 2000. O Brasil vivia o auge do pagode romântico, e entre sucessos de grupos como Só Pra Contrariar, Karametade, Os Travessos, Katinguelê, Soweto e Exaltasamba, uma música vinda de Paranaíba, no interior de Mato Grosso do Sul, começava a se destacar nas rádios do noroeste paulista. O refrão suave e fácil ecoava nas ondas do rádio e nas vozes de adolescentes e jovens da época:
“Só pra te olhar, eu vou ficar, de frente à sua casa até você passar…”
A canção era “Ela é Linda Demais”, do Grupo Virômania, formado por Leonardo Guimarães, Júnior 21, Cleiner, Flávio Bugalú, Rogério e Geraldo Mello.
De “Louca Sedução” a “Virômania”
O grupo nasceu de encontros despretensiosos em uma lanchonete conhecida como “Peixe”, no centro de Paranaíba. Léo, que se apresentava sozinho ao violão nas noites de sexta e sábado, começou a ser acompanhado por amigos músicos. Aos poucos, a roda musical cresceu, e o público também. A lanchonete passou a atrair tantas pessoas que o som do grupo já fechada o cruzamento das ruas na Praça da República e tomava o quarteirão.
Inicialmente batizado de “Louca Sedução”, o conjunto que passou a lotar casas de shows e estabelecimentos de música ao vivo como “Malícia”, “Pirraça Bebidas”, “JR Lanches” e as tradicionais festas das escolas da cidade, como as inesquecíveis festas da Escola Estadual Wladislau Garcia Gomes e da extinta Escola Estadual Antônio Garcia de Freitas, precisou trocar de nome ao descobrir que havia outra banda com o mesmo título em São Carlos (SP). Assim, surgiu o nome Virômania, que logo se tornaria conhecido nas rádios regionais.
O estouro nas rádios
Com um CD promocional de apenas três faixas — gravado com recursos próprios e pequenos patrocínios de alguns comerciantes que gostavam da banda —, o grupo alcançou o que poucos artistas independentes conseguiam na época: emplacar um sucesso nas rádios.
“Ela é Linda Demais”, composta pelo vocalista Leonardo Guimarães, chegou às programações de emissoras de todo o Noroeste paulista, com visitas pessoais e promoções com ouvintes em Santa Fé do Sul, Jales, Fernandópolis, Votuporanga, São José do Rio Preto, Olímpia e São Carlos. No MS, ações e promoções também foram realizadas em Aparecida do Taboado, Cassilândia e Chapadão do Sul.
A faixa ganhou versões exclusivas para cada rádio, a pedido de locutores e programadores, e chegou ao topo de popularidade ao figurar entre “As Cinco Mais da Band FM”, em São Paulo — uma das paradas mais disputadas do país à época.
Sem internet, redes sociais, Spotify ou YouTube, o sucesso era conquistado no “boca a boca” e no poder do rádio. Tanto que, ainda hoje, muitos acreditam que a música era de grupos nacionais como Karametade, Soweto ou Kiloucura.


O sonho paulistano que não se concretizou
O sucesso chamou a atenção de Nano Filho, então locutor da Band FM São Paulo e voz institucional do Grupo Bandeirantes. Em conversa por telefone com Léo e Geraldo, o locutor chegou a convidar os integrantes a se mudarem para a capital paulista, prometendo apresentá-los a produtores e gravadoras; Nano disse que já vislumbrava uma parceria com o produtor musical e compositor Arnaldo Sacomanni, influente nas gravadoras EMI e Sony Music, responsável por inúmeros sucessos da época.
“No começo será difícil. Vocês vão morar em Kitnet, didivir comida e fazer aberturas de bandas e shows de graça para rádios. Vamos tentar alguns programas de TV, eventos de prefeituras. Eu gostei da música. Acredito que pode ser sucesso”, relembra Léo sobre uma breve conversa por telefone com o apresentador, na casa de Geraldo Mello.
Mas o tempo jogou contra. O pagode romântico começava a perder espaço para novas tendências — boy bands, pop nacional e grupos como KLB, Rouge e Twistter. O projeto de expansão do Virômania acabou não se realizando.
O legado de uma era
Antes do fim, por conta de caminhos diferentes seguidos na vida pessoal e profissional dos integrantes, o grupo se apresentando até por volta de 2002, deixando uma marca profunda na memória musical de Paranaíba e região.
Apresentações com ingressos esgotados, participações em feiras e festas como a Expopar e a Expoleite, e até a formação de um fã-clube local compõem o legado de uma banda que, mesmo sem grande estrutura, conquistou corações e rádios.
Hoje, 25 anos depois, “Ela é Linda Demais” continua sendo lembrada com carinho por quem viveu a época. Mais do que uma canção, ela se tornou uma “cápsula do tempo” — um retrato de quando o amor e o pagode andavam de mãos dadas nas noites de Paranaíba.
Refrão na memória
“Só pra te olhar, eu vou ficar,
de frente à sua casa até você passar.
Louca sedução, essa paixão,
cresceu e tomou conta do meu coração.”