O aumento nos registros de avistamentos e ataques de onças-pintadas em áreas urbanas do Pantanal reacendeu o debate sobre estratégias de convivência entre seres humanos e grandes predadores da fauna brasileira. O tema ganhou destaque com a realização do I Workshop Internacional Conflitos com Grandes Felinos, que acontece em Campo Grande (MS), reunindo especialistas nacionais e internacionais.
Em entrevista à Massa FM, o biólogo e diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, explicou que não houve necessariamente crescimento no número de ataques, mas sim maior percepção da sociedade após casos recentes.
“Acho que aumentou a percepção das pessoas, principalmente depois daquele infeliz incidente fatal em Aquidauana. Esses conflitos sempre existiram, especialmente com ataques a animais de criação. O que mudou foi a atenção que se passou a dar ao problema”, afirmou.
O presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Ângelo Rabelo, destacou que fatores como o período de cheia e a aproximação das onças-pintadas a áreas urbanas explicam parte dos encontros.
“Muitas residências em Corumbá estão na beira do rio Paraguai. Durante a cheia, os animais buscam áreas mais altas e acabam atravessando o rio, muitas vezes atraídos por cachorros. Isso acontece com frequência nesse período”, relatou.
Segundo os especialistas, um dos objetivos do workshop é justamente discutir protocolos de resposta.
“A proposta do encontro é trazer um protocolo nacional, que respeite as particularidades de cada território, mas que dê respostas rápidas em caso de incidentes. Envolve também educação ambiental para comunidades que estão em contato direto com esses animais”, disse Rabelo.
Figueirôa reforçou que as comunidades locais são parte fundamental da solução.
“São elas que convivem diariamente com os predadores e precisam estar envolvidas nesse processo. Não existe nada pronto. É uma construção coletiva entre produtores, comunidades, academia e governo”, pontuou.
Além da segurança, os especialistas lembraram que a presença da onça-pintada também representa oportunidades econômicas.
“Hoje, só no Porto Jofre, no Mato Grosso, o turismo de observação de onças movimenta mais de 10 milhões de dólares por ano. É um ativo importante do Pantanal, que não pode ser tratado como problema, mas como oportunidade”, afirmou Rabelo.
Ambos concordam que não há “culpados” nos conflitos entre homens e felinos.
“É uma questão de coexistência. Nem o homem invadiu o território da onça, nem a onça invadiu o território do homem. Precisamos buscar soluções compartilhadas e equilibradas”, resumiu Figueirôa.
O workshop segue com programação até quinta-feira (28) na sede da Famasul, em Campo Grande, e também está sendo transmitido pelo canal do SOS Pantanal no YouTube. Para acompanhar clique aqui.