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Julgamento Da Década

Jamil Name Filho é condenado a 23 anos por morte de estudante

Júri mais extenso da história de Campo Grande terminou com os três réus condenados por homicídio duplamente qualificado e posse irregular de arma

Jamil Name, Vladenilson Omedo e Marcelo Rios durante a sentença - Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG
Jamil Name, Vladenilson Omedo e Marcelo Rios durante a sentença - Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG

“Eu nunca mais vou ver o meu filho. Eu não pude dar o último beijo, o último abraço”, as palavras de Cristiane Coutinho, mãe de Matheus Xavier, ecoarão para sempre no Fórum Heitor Medeiros. Após mais de 32 horas, o júri mais extenso da história de Campo Grande teve um fim. Jamil Name Filho foi condenado a  23 anos e 6 meses de prisão, por homicídio duplamente qualificado, Vladenilson Olmedo a 21 anos e seis meses de reclusão pelos mesmos crime e Marcelo Rios a 23 anos de reclusão por homicídio duplamente qualificado, posse de arma e receptação.

A expectativa era alta no plenário da Segunda Vara do Tribunal do Júri. Inicialmente marcado para 2021, mas adiado por três vezes, o “Julgamento da Década” teria um fim. Foram mais de 14 horas de debates entre acusação e defesa. Acusação embasada nas provas contidas nas 15 mil páginas de processo, tentava convencer os jurados da participação dos réus nos crimes.

Já a defesa, que contava com a participação do ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Nefi Cordeiro, que advogava por Jamilzinho, seguiu a linha que não existia nenhuma prova cabal da participação dos réus no delito, apenas indícios, não sendo possível, assim a condenação. Os sete jurados (Cinco homens e duas mulheres), acolheran a tese de acusação de que os réus foram os mandantes do assassinato de Matheus Xavier.

“Eu acredito que nada, nenhuma pena seria suficiente para esses assassinos, para essas pessoas que há muito anos já vinham matando sem nenhum tipo impunidade, fazendo o que queria no estado de Mato Grosso do Sul”, frisou o pai de Matheus, Paulo Xavier, que ficou bastante emocionado após a sentença.

Após o condenatório, a defesa dos réus prontamente anunciaram a apelação da decisão para a segunda instância. “Na verdade, a gente respeita a decisão oriunda do Tribunal do Júri, mas não concordamos por conta que nenhuma prova foi produzida do crime de mando. São 15 mil laudas que não provaram esse crime de mando, no entender da defesa técnica”, afirmou o advogado de Name Filho, Eugênio Malavasi.

Conduzindo o “Julgamento da Década”, o juiz Aluizio Pereira dos Santos apontou que o júri foi complexo. “O mais complexo, mais trabalhoso, com muitos pedidos de ordem. Todos os dias começamos às 8h e terminamos muito tarde. Considerando que os jurados responderam pela condenação, atendendo os anseios da sociedade campo-grandense, da minha parte como juiz eu me sinto bem, por dar a resposta para a sociedade”.

Com a sentença, Name Filho tem 46 anos e 8 meses de condenações. Ele havia sido sentenciado em julgamentos anteriores por extorsão armada, formação de organização criminosa e porte ilegal de armas a 23 anos e dois meses.

ENTENDA O CASO:

Matheus Xavier foi assassinado na frente da sua casa no dia 9 de abril de 2019, com ao menos sete tiros do fuzil AK-47. A investigação policial acredita que o verdadeiro alvo da milícia era o pai de Matheus, o ex-capitão da Polícia Militar, Paulo Roberto Teixeira Xavier, que era desafeto da família Name por conta de negociações de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon.

Para cometer o crime, o grupo contratou Eurico Mota para rastrear a rotina do ex-militar. No entanto, Eurico “terceirizou” o serviço, contratando um hacker para a função. Por volta das 18 horas no dia do crime, Matheus pegou a caminhonete do pai para sair e foi fuzilado pelos pistoleiros da milicia, Juanil Miranda Lima e por José Moreira Freires, o “Zezinho” (Morto pela polícia civil do Rio Grande do Norte em 2020), o fuzil utilizado no crime nunca foi encontrado.

OPERAÇÃO OMERTÀ:

A Operação Omertà foi deflagrada cinco meses após o assassinato do estudante, pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por intermédio do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e visou desmantelar o grupo que planejava a maior matança em MS.

A família Name, dona de várias empresas em Mato Grosso do Sul, e envolvida até na política estadual, controlava o Jogo do Bicho na capital, com a “benção” do “Rei da Fronteira”, Fahd Jamil.

A aproximação dos chefes da família, Jamil Name e Fahd Jamil, se deu ainda mais após o desaparecimento do filho de Fahd Jamil, Daniel  Alvarez Georges. Para vingar o desaparecimento do filho, os dois grupos se juntaram e execuções com o mesmo padrão começaram a acontecer no estado. A primeira foi do chefe de segurança da assembleia de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins Figueireido, em junho de 2018

Em outubro do mesmo ano duas pessoas foram executadas. O Playboy da Mansão” em um bar e, dias após, Orlando Silva Fernandes, ex-segurança do traficante paraguaio, Jorge Raffat, executado com 40 tiros.

Várias execuções, com o mesmo padrão e utilizando armas com grosso calibre, levantaram suspeitas pela polícia. Durante investigação policial, foi descoberto um arsenal de armas na casa do ex-guarda municipal, Marcelo Rios, e com isso o quebra-cabeça para desarticular a maior milícia do MS começou a ser montado. A investigação detalhou que o grupo funcionava em quatro núcleos, tendo a participação de policiais civis, delegado e guardas municipais, com os líderes da milícia sendo Jamil Name e Jamil Name Filho.

Mesmo com a apreensão do arsenal, a polícia não conseguiu encontrar as armas utilizadas nos crimes. Uma teoria é que após as execuções, a milícia transportava as armas para o grupo liderado pelo Fahd Jamil, no lado paraguaio da fronteira, dificultando a localização das armas dos crimes.

A sensação de impunidade do grupo era grande, que durante audiência online, Jamil Name chegou a oferecer R$ 600 milhões para ser transferido para Campo Grande.

Jamil Name morreu em 31 de maio de 2021 por decorrências da COVID-19.