
Uma denúncia de estupro de vulnerável que mobilizou a Polícia Civil no município de Caarapó passou por um revés nas investigações e terminou com a libertação do principal suspeito, mas gerou forte reação nas redes sociais, com ameaças de morte dirigidas à família do homem acusado injustamente.
O caso teve início na tarde de terça-feira (23), quando uma menina de 7 anos, diagnosticada com autismo, relatou à família que teria sido abordada e atacada por um homem desconhecido enquanto brincava próximo à sua residência. A criança descreveu que teria sido amarrada e que o agressor teria passado as mãos nas suas partes íntimas. Com base nesse relato, a Polícia Militar localizou um homem de 26 anos com características semelhantes às descritas e o conduziu para averiguações.
Investigação revisada e liberação do suspeito
Após a fase inicial de apuração, os investigadores ampliaram os depoimentos, avaliaram laudos periciais e constataram inconsistências importantes no relato original. De acordo com o delegado titular da Delegacia de Polícia Civil de Caarapó, Ciro Carlos Jales, a principal linha de investigação passou a indicar que a criança pode ter sido induzida por familiares a relatar o abuso, e não havia mais elementos suficientes que sustentassem a materialidade e autoria do crime.
O homem inicialmente detido apresentou álibi consistente, estava em outro endereço no momento em que a criança supostamente teria sido abordada, e não havia vestígios físicos ou provas técnicas que confirmassem a ocorrência do ato libidinoso no local indicado. Com isso, a Polícia Civil decidiu pela liberação do suspeito, ressaltando que a investigação segue em andamento com cautela.
“Não posso fazer uma declaração formal definitiva neste momento, pois seria prematuro, mas tudo converge para a inexistência de crime”, afirmou o delegado, destacando que a divulgação precipitada de informações pode prejudicar a apuração e causar injustiças.
Repercussão nas redes sociais e ameaças
Apesar da reavaliação policial, a família do homem inocentado afirma que vem sofrendo ataques e ameaças de morte nas redes sociais e em grupos de WhatsApp desde que a acusação ganhou repercussão. A mãe do homem relatou que mensagens incitando violência e até linchamento têm circulado em diversas plataformas, com tom de agressão e desumanização do filho, que possui deficiência mental e esquizofrenia e é acompanhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
“Meu filho está sendo ameaçado. Dizem que vão matar ele, tacar fogo nele… Chamam ele de inseto, de monstro”, relatou a mãe, que também contou o impacto emocional dessa hostilidade sobre a convivência familiar. Ela informou ainda que guardou áudios e vídeos com as acusações e pede justiça diante da situação.
Princípio da cautela e próximas etapas
Autoridades reforçam que a divulgação pública de uma investigação deve seguir critérios que não prejudiquem nem antecipem conclusões sobre um caso que ainda está em análise. Segundo o delegado, enquanto o desaparecimento e o bem-estar da criança foram amplamente compartilhados com apoio da comunidade, a atribuição de autoria criminal e confirmação de crime cabe à Polícia Civil e, posteriormente, ao Poder Judiciário.
A investigação segue em andamento com base nos depoimentos, laudos e demais diligências que possam esclarecer definitivamente o ocorrido.