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Os 'Barbosas' no Sul de Mato Grosso

A autora do livro Os Barbosas no sul de Mato Grosso, Ledir Marques Pedrosa – lançado no último dia 15 - é historiadora e associada efetiva titular da cadeira nº18 do IHGMS.

A autora do livro Os Barbosas no sul de Mato Grosso, Ledir Marques Pedrosa – lançado no último dia 15 -  é historiadora e associada efetiva titular da cadeira nº18 do IHGMS. - Arquivo/IHGMS
A autora do livro Os Barbosas no sul de Mato Grosso, Ledir Marques Pedrosa – lançado no último dia 15 - é historiadora e associada efetiva titular da cadeira nº18 do IHGMS. - Arquivo/IHGMS

No decorrer do século XVIII, Francisco Apolinário negociava no Rio de Janeiro permutando ouro que comprava nas minas de Sabará (MG) por tecidos. Estes produtos eram transportados em lombos de burros, fazendo  o percurso Sabará, Barbacena e Rio de Janeiro. Com todo vigor, fazia suas paradas de pouso e, certa vez, em uma de suas viagens de volta a Sabará, nas proximidades de um vilarejo, próximo a Petrópolis (RJ), pernoitou à beira de um riacho. Ao amanhecer, iniciou suas tarefas encilhando a tropa para continuar sua marcha, juntamente com sua comitiva, mas algo lhe chamou a atenção –  uma loira e jovem alemãzinha que, ao se aproximar, foi logo pedindo proteção contra seu pai, que a perseguia, explicando-lhe os motivos, que permaneceram desconhecidos para outras gerações. 

Comparecido de tal situação e empolgado por sua ingênua beleza ficou enamorado à primeira vista. Protegeu-a levando-a em sua companhia para Sabará, tornando-a sua esposa. A alemãnzinha –  Maria Margarida Teveja Brunszwick –  ao casar-se retirou o Brunszwick  e acrescentou de Jesus,  ou Margarida Teveja Brnszwick de Jesus, conforme já se encontrou nos anais eclesiásticos em Minas Gerais. Esta troca de sobrenome aconteceu devido ao receio da fúria dos pais da jovem alemã.

Este casal, de português com alemã, deu origem aos primeiros barbosas brasileiros, heróis e intrépidos sertanistas, responsáveis pelo desbravamento e povoamento do sul de Mato Grosso. Na miscigenação com outras populações criaram o que seria a gênese da primeira família a se instalar em áreas que posteriormente também seriam ocupadas por imigrantes de diversas origens.

No início do ano de 1829, Joaquim Francisco Barbosa, irmão de Gabriel Francisco Lopes,  genro de Antônio Gonçalves Barbosa   – o filho mais velho de Francisco Apolinário e Margarida – formou uma caravana para conhecer terras até então desconhecidas, e iniciaram o povoamento do leste, hoje o Bolsão Sul-Mato-Grossense. Em 1835, acompanhado por 58 integrantes da caravana, rumaram para  a despovoada província de Mato Grosso na época, hoje Mato Groso do Sul.

Depois da vinda dos três irmãos Barbosas, Alexandre, Antônio e Inácio, juntamente com os Garcias e os Lopes, neste percurso de Franca a Mato Grosso, não se teve mais notícias do paradeiro de Alexandre Gonçalves Barbosa. Antônio e deus quatro irmãos seguiram em caravana, ali de Porto Feliz, ponto de partida das monções, rumo a Mato Grosso. Construíram uma frota e batelões e navegaram o rio Tietê, entrando em terras mato-grossenses. O rio Tietê era a via mais fácil e a única acessível para penetração e por ela desceram até atingir o caudaloso Paraná e por este, enveredando depois pelo Igaraí (atual Ivinhema); dirigiam-se então para os campos do Uerê. 

Segundo narrativas familiares, acamparam em um fértil prado, onde permaneciam encantados com a vista panorâmica e mais deslumbrados ficaram, ao verem se aproximar uma manada de vacas, criação dos Guaicurus, cuja procedência desconheciam. O curioso é que aparentemente não havia touro. Surpreendidos, de repente ouve-se um brado espontâneo de Antônio: Que vacaria! Daí, então, a denominação de Vacaria dada aos lindos campos de Uerê, que abrangiam toda a região alta da Serra de Maracaju e hoje restrita a do Rio Brilhante. Em verdade, o nome Vacaria já aparece nos mapas do século XVIII.