
O Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que Campo Grande teve o maior aumento proporcional de homicídios entre as capitais brasileiras nos últimos anos.
A taxa estimada subiu 36,1% entre 2018 e 2023, alcançando 21,1 mortes por 100 mil habitantes — o maior crescimento do país e o único aumento registrado entre as capitais das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
O levantamento mostra que, enquanto cidades como Brasília, Goiânia e Cuiabá reduziram seus índices, a capital sul-mato-grossense foi na contramão da tendência nacional de queda na violência letal, que vem sendo observada desde 2018.
Apesar de estar abaixo da média nacional (23 por 100 mil habitantes), o crescimento na taxa de homicídios em Campo Grande é considerado um sinal de alerta.
MS é corredor estratégico do tráfico
O estudo também aponta Mato Grosso do Sul como um dos principais entrepostos logísticos do crime organizado no país. Cerca de 80% da cocaína e maconha que entram no Brasil passam pelo território sul-mato-grossense, especialmente pelas fronteiras com Bolívia e Paraguai.
Essa posição geográfica transformou o Estado em um “hub” das facções nacionais. Segundo o Atlas, 10 das 12 organizações criminosas interestaduais atuam em MS, com destaque para o Primeiro Comando da Capital (PCC), que exerce controle hegemônico sobre a rota boliviana, usada para o escoamento de drogas ao Brasil e à Europa.
Mesmo com essa presença expressiva do crime organizado, o Estado registrou em 2023 uma taxa estimada de 21,3 homicídios por 100 mil habitantes, a sétima menor do país.
O Atlas explica que as disputas entre facções em Mato Grosso do Sul tendem a ser de baixa intensidade, sem o nível de letalidade observado em estados como Bahia, Pernambuco ou Amapá.
Fronteiras e conflitos agrários elevam tensão
A violência no Estado, segundo o relatório, está ligada a dois fatores principais:
- Conflitos entre indígenas e produtores rurais, com destaque para episódios letais em Amambai, sobreposto a territórios Kaiowá e Guarani;
- Pressão do tráfico internacional nas fronteiras, especialmente em Ponta Porã (24,9 homicídios por 100 mil habitantes) e Corumbá (23,0), cidades consideradas portas de entrada de drogas e armas no país.
Interiorização do crime e políticas de contenção
No cenário nacional, o Atlas mostra que o Brasil vive uma queda geral dos homicídios, mas com redesenho na geografia do crime. As facções, antes concentradas nas capitais, vêm expandindo atuação para cidades médias e pequenas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, que passaram a concentrar episódios de violência antes restritos às metrópoles.
O relatório também alerta para a infiltração do crime organizado em atividades econômicas e contratos públicos, o que ameaça o Estado Democrático de Direito.