
O acordo firmado nesta segunda-feira (29), em reunião mediada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), foi desenhado para interromper a escalada da crise na Santa Casa de Campo Grande. Ele visa recolocar o maior hospital do Estado em condições mínimas de funcionamento.
No entanto, por trás do alívio imediato, um dado político e financeiro chama atenção: o Governo do Estado assumiu a maior fatia do socorro. Além disso, comprometeu-se a financiar uma auditoria independente e a cobrar mudanças com rigor, sob risco de novos travamentos.
Pelo desenho aprovado, o montante total previsto até abril de 2026 soma R$ 60.136.087,00. Desse valor, a participação do Estado concentra o maior peso: R$ 14.064.000,00 em repasses extras parcelados de janeiro a abril. Há também R$ 9.000.000,00 em aporte imediato para o 13º salário e R$ 16.000.000,00 em emendas parlamentares federais.
Estes serão transferidos ao hospital ao longo do primeiro trimestre. Assim, ainda que parte do dinheiro tenha origem em emendas, o Estado aparece como o principal operador e garantidor do fluxo. Ele sustenta a engrenagem que evita a paralisação total.
Além disso, a Prefeitura de Campo Grande ficou responsável por R$ 5.200.000,00 em quatro parcelas. Também por cerca de R$ 9,9 milhões oriundos de acordo de leniência, com pagamentos previstos para fevereiro e março. Portanto, embora o pacote tenha sido montado a várias mãos, a espinha dorsal do cronograma ficou amarrada ao que o governo estadual colocou na mesa e ao que ele se dispôs a cobrar.
Auditoria Independente e Transparência
O dinheiro, por sua vez, não foi liberado sem trava. Os valores foram vinculados a um uso específico: pagamento de pessoas jurídicas médicas e 13º salário. Além disso, a movimentação deverá ocorrer em conta separada, justamente para permitir rastreabilidade. Dessa forma, a liberação seguinte poderá ser suspensa se a comprovação do pagamento não for apresentada. Isso eleva a pressão por resultados e reduz a margem para manobras internas.
Governo pagará por auditória e controle do aporte
Nesse ponto, uma etapa decisiva foi colocada no centro do acordo: uma auditoria independente completa, limitada ao ano de 2025, será financiada pelo Governo do Estado. Com isso, não apenas o uso dos recursos será observado, mas também o modelo de gestão e a estrutura operacional do hospital deverão ser examinados. Isso inclui contratos e formatos de terceirização e “quarteirização”. Ou seja, não será apenas um “checklist” contábil; será um raio-x administrativo, capaz de expor gargalos e responsabilidades.
A partir daí, o recado político se torna direto: o socorro não foi desenhado apenas para “apagar o incêndio”. Ele foi criado também para forçar correções. Assim, enquanto o acordo assegura fôlego imediato, ele também inaugura um período de cobrança a finco. Haverá prestação de contas periódica e imposição de medidas de melhoria, conforme as recomendações técnicas que saírem da auditoria.