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OPINIÃO

Todo ladrão mente!

Por Redação
18/03/2009 • 06h00
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O roubo e a mentira são faces da mesma patologia e, por isso, todo ladrão mente, da mesma forma como quase todo mentiroso rouba. Quando rouba, o larápio não busca apenas um objeto, pois o que o move é apropriar-se das qualidades que inveja na pessoa lesada.

É como o Tupinambá em seu festim canibalístico que, ao devorar seu inimigo, imaginava adquirir suas qualidades, sorte e bravura. Assim, ao apropriar-se do que é alheio, o gatuno se engrandece com a imaterialidade do objeto furtado, pois são as qualidades do possuidor que ele busca em seus bens.

Como diriam nossos adolescentes, ao enganar e roubar, o pobre de espírito “se acha”, sentindo-se igual ou superior àqueles que lesa, engana. Sabe-se que o “olho grande” marca sua alma. Assim, a riqueza material ou espiritual alheios o atormentam, mobilizando suas iras e ações para levar privação e dor ao outro.

Percebe-se que a “maldade” é o chefe da quadrilha constituída pela mentira, o roubo e a inveja. A maldade se realiza no momento em que o algoz vê refletido nos olhos de suas vítimas, a perplexidade, a frustração, o desconsolo e a impotência. É como nós nos sentimos diante da corrupção impune, caro leitor! Para aí chegar, a vítima foi seduzida, nela sendo alimentadas esperanças grandiosas, o mais das vezes justas, ainda que não realistas.

Como uma fruta que amadurece em sua mão, ao vê-la frustrada e impotente, o maldoso nela deposita e transfere toda a dor, frustração e impotência que, em seu passado, um dia lhe depositaram na alma, mutilando-a definitivamente. A mentira e o roubo são, pois, instrumentos da inveja e da maldade, para resultar num triunfo maligno, através da dor alheia.

A prática maldosa, caro leitor, pode ser individual, como a de um “serial killer”. Pode ainda ser coletiva, quando lideranças perversas iludem e frustram multidões, sem culpas ou vergonha por sua semeadura de promessas vãs, nem pelas apropriações não contabilizadas ou a teia de mentiras onipotentes em que se enrola, gradativamente, quando sua lama vem à tona.

Toda essa cadeia de miséria humana, leitor, está descrita nos fatos políticos que se desnudaram, sob nosso olhar perplexo, na novela do “Mensalão” e tão bem expostos no relatório final da CPI dos Correios, sob a batuta do Senador Delcídio do Amaral. Foi uma orgia com recursos públicos para transformar a Nação numa republiqueta mensaleira, servil ao Poder Central.

Sendo um triunfo roubar para corromper congressistas, leitor, evidenciou-se ser “a glória”, encobrir extorsões e cumplicidades com o submundo da coisa pública ou privada. Ao optar pela cadeia de mentiras para encobrir o sol com uma peneira, aqueles pegos com a boca na botija mensaleira, agiram como o glutão que não renuncia às bordas recheadas que coroa sua saborosa pizza.

Ninguém consegue privar o ladrão do exercício da mentira, até porque, através dela, se furta do outro a sua percepção da realidade: é mais um prazer! Depois dos escândalos que viabilizaram a decepção e a dor coletivas, a mentira torna-se a jóia da coroa no exercício da onipotência e no triunfo da maldade!

Àqueles que envergonham a Nação com seu perverso gozo gatuno e mentiroso, resta deixar-lhes a canção de Gonçalves Dias, em Y-Juca-Pirama: “Possas tu, isolado na terra/Sem arrimo e sem pátria vagando/Rejeitado da morte na guerra/ Rejeitado dos homens na paz,/Ser das gentes o espectro execrado,/Não encontres amor nas mulheres,/Teus amigos se amigos tiveres/Tenham alma inconstante e falaz!

Com este artigo homenageio o Senador Jarbas Vasconcelos por nos lembrar do câncer que rouba do povo as creches, escolas, bolsas, postos de saúde, estradas, apoio a nossos índios e assentamentos, além de, pelo mau exemplo que vem de cima, promover a dissolução moral de nossos jovens.

Valfrido M. Chaves é psicanalista e pós graduado em Política e Estratégia Adesg/UCDB

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