Mailson da Nóbrega arranca aplausos e elogios com suas palestras em todo o país. Aqui na capital não foi diferente com suas incursões sobre o futuro da economia após a queda da bolsa americana. Aliás, é impressionante como todos aqueles que passaram pelo Ministério da Fazenda demonstram habilidade com as teorias do universo econômico, usando terminologias complicadas para nós leigos.
Pena que na prática nem sempre acaba dando certo. Só para ilustrar: foi no Governo Sarney, a quem Mailson serviu como Ministro, que tivemos a mais alta inflação da história. Diante de sua impotência em achar um remédio adequado, passou a ser uma figura quase que decorativa naquele contexto.
Coincidentemente acabei conversando com ele ainda no aeroporto e por sinal tomamos o mesmo avião para São Paulo. Pude observar que durante a viagem ele estava ligado, lendo um livro editado em inglês, e pelo título versava sobre economia.
Na outra ponta desta história está Chiquinha, trinta e seis anos, mãe de quatro filhos, ganhando mensalmente R$460,00 líquidos como faxineira de um dos hotéis da Rede Fórmula-1 em São Paulo. Fui dando corda no papo e ela foi soltou o serviço: demora quase duas horas para chegar ao trabalho e seu marido ganha R$750,00 como frentista de posto de combustíveis, totalizando assim R$1.210,00 para a sobrevivência da família.
Perguntei-lhe: como sobreviver com tão pouco numa cidade onde tudo é caro? Primeiro, ela explicou que tratou de arrumar uma casinha que ficasse perto da creche municipal, onde seus filhos são bem cuidados e alimentados. Segundo; diz que só compra o que é imprescindível para o lar, escolhendo marcas baratas e aproveitando as promoções no comércio da região. Terceiro; os remédios que necessita consegue boa parte deles nos postos de saúde da rede pública. Ela reconhece que é preciso ter paciência, mas que não há outra saída e que todos os gastos são contabilizados num caderno.
Claro que nosso ex-ministro não sabe quanto custa uma barra de sabão. Vive bem, e cobra pelas palestras inclusive; não sabe como fica o sabor do “almoço” requentado de marmita. Sorte dele. Sorte maior é a nossa de termos milhares de Chiquinhas por aí fazendo “milagres da multiplicação” para que o sagrado dinheiro estique na medida das necessidades.
Como se diz: “se o cobertor é curto, a gente encolhe”. Nada contra o Mailson, mas se ele tem a teoria, a Chiquinha tem a prática; faz a diferença. Aprendi mais com ela!
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Manoel Afonso é Colunista do Jornal do Povo