
O mercado de carne bovina vive um momento de tensão e oportunidade ao mesmo tempo. No Agro é Massa, o analista Iberville Neto explicou por que o adiamento, mais uma vez, das medidas de salvaguarda da China mexe com o tabuleiro global e com o Brasil. As salvaguardas, que poderiam vir na forma de cotas ou tarifas adicionais, eram esperadas para serem anunciadas ainda nesta semana. No entanto, Pequim empurrou a decisão para 26 de janeiro.
Avaliação de especialista
Segundo Iberville Neto, a China discute essas medidas desde o início do ano. Inicialmente, a divulgação era aguardada para agosto. Depois, passou para novembro e agora para janeiro. Esse movimento sucessivo de adiamentos indica, na leitura do analista, que o país ainda precisa manter um ritmo forte de compras. A China não quer travar o abastecimento em um momento em que outros grandes importadores também se movimentam.
Além disso, a decisão chinesa vem logo após uma mudança importante nos Estados Unidos. O programa lembrou que o governo norte-americano retirou as tarifas adicionais que incidiam sobre a carne bovina brasileira. Antes, a tarifa total podia chegar a 76,4%, somando 10% aplicados a vários fornecedores e 40% específicos para o Brasil. Havia também a alíquota cobrada quando a cota anual é ultrapassada. Com a retirada dos adicionais, a carne brasileira enviada aos EUA volta a pagar em torno de 26,4% sobre o volume que excede a cota de 65 mil toneladas. Essa cota geralmente é preenchida ainda em janeiro.
Na avaliação de Iberville Neto, a China enxergou que os Estados Unidos tendem a ficar mais agressivos nas compras. Por isso, decidiu empurrar a definição das salvaguardas para depois desse ajuste no apetite norte-americano. Enquanto isso, os dados parciais de novembro mostram média diária de exportação de carne bovina brasileira em torno de 17 mil toneladas. Caso o ritmo se mantenha até o fim do mês, isso pode se transformar na maior da história.
Impacto do Adiamento das Salvaguardas da China
Por outro lado, o analista ponderou que o anúncio das salvaguardas não seria necessariamente negativo. Isso se as medidas fossem moderadas. Se as regras vierem em formato de tarifas ou cotas pouco restritivas, uma definição clara inclusive poderia reduzir a incerteza. Contudo, se o pacote vier pesado, é melhor, na visão dele, que isso aconteça mais adiante. E não em meio a um momento de forte demanda e disputa entre importadores.
Dessa forma, o adiamento chinês mantém sobre a mesa um fator de risco. Mas também confirma que a carne brasileira continua estratégica para os dois principais compradores do mundo. Para a pecuária nacional, o recado é de cautela e atenção redobrada. O Brasil segue como fornecedor central, porém em um jogo cada vez mais competitivo. Decisões políticas e comerciais em Pequim e Washington podem redesenhar margens e destinos da carne bovina.