
O avanço das usinas de etanol de milho está redesenhando o mapa de consumo do cereal no Brasil. Em poucos anos, o segmento saiu da condição de complemento da produção sucroenergética para ocupar papel de destaque na matriz de biocombustíveis. Isso repete, em menor escala, o movimento que ocorreu nos Estados Unidos a partir de 2007.
Atualmente, o etanol de milho já é o segundo maior destino do grão no país, ficando atrás apenas da cadeia de proteínas animais. A estimativa para o ciclo 2025/26 aponta consumo próximo de 24,5 milhões de toneladas de milho pelas usinas. Esse volume consolida a atividade como pilar estrutural do agronegócio brasileiro. Em termos proporcionais, o combustível de origem cereal já responde por parcela relevante do etanol ofertado. Ele está se aproximando de 20% da matriz.
Esse crescimento ocorre em um contexto em que as margens das usinas de milho têm se mostrado, em muitos momentos, mais competitivas do que as da cana-de-açúcar. Isso é especialmente percebido quando se considera apenas o etanol. Enquanto o setor sucroenergético convive com forte ligação aos preços internacionais do açúcar, as unidades que operam com milho capturam oportunidades próprias. Elas aproveitam o mercado de grãos e de coprodutos, como DDG e óleo de milho.
Impacto da Expansão das Usinas de Etanol de Milho
A expansão das plantas industriais no Centro-Oeste, sobretudo em regiões produtoras de milho safrinha, contribui para reduzir custos logísticos e gerar demanda local. Ao transformar o cereal em combustível e proteína animal, o interior do país captura valor que, antes, dependia quase exclusivamente da exportação de grão. Essa dinâmica tende a estimular investimentos em armazenagem, infraestrutura e tecnologias de manejo voltadas à regularidade da oferta.
Ao mesmo tempo, o crescimento do etanol de milho adiciona complexidade à formação de preços. Em anos de safra cheia, a indústria ajuda a escoar parte dos volumes excedentes. Porém, quando a produção sofre algum revés ou a exportação se intensifica, a competição por grão se torna mais acirrada. Isso afeta as margens de integradoras, frigoríficos e produtores de aves e suínos.
Recomendações para Produtores Rurais
Para o produtor rural, a mensagem é clara: o milho deixou de ser apenas um grão voltado a ração e exportação. Cada vez mais, o cereal está ligado a uma cadeia industrial que demanda regularidade, qualidade e planejamento de longo prazo. Nesse ambiente, a gestão de risco torna-se indispensável para aproveitar o potencial da nova fronteira bioenergética. Isso inclui contratos, fixação de preços e análise de fluxo de caixa, tudo sem comprometer a saúde financeira da atividade.