
A decisão dos Estados Unidos de adotar tarifa zero para uma lista de produtos agrícolas brasileiros recoloca o Brasil no centro do jogo do mercado internacional de proteínas e de alimentos. O presidente norte-americano Donald Trump assinou, na quinta-feira, um decreto que remove a sobretaxa de 40% sobre importações do Brasil. O decreto também determina o reembolso do que foi cobrado a partir de 13 de novembro. Assim, o ato derruba uma barreira que vinha pesando sobre cadeias produtivas inteiras nos dois países.
De acordo com o anúncio citado no Agroemassa, o decreto atinge cerca de 200 produtos. Entre eles estão café, chá, frutas tropicais, sucos de frutas, cacau, especiarias, banana, laranja, tomate e carne bovina. Esses itens, além de sustentarem boa parte da pauta exportadora brasileira, também ajudam a compor a mesa do consumidor norte-americano. Por isso, a manutenção das tarifas não fazia sentido para o Brasil. Também não fazia sentido para os Estados Unidos e nem para o equilíbrio dos preços de alimentos.
Ao comentar a decisão, o programa destacou que as sobretaxas foram danosas para os consumidores nos EUA. Elas pressionaram índices inflacionários e encareceram a carne. A expectativa por lá era de que 450 gramas de carne moída chegassem a custar o equivalente a US$ 10. Isso significaria algo em torno de R$ 54, segundo o exemplo citado no ar. Além disso, o Brasil perdeu competitividade em um mercado no qual os Estados Unidos figuravam como segundo maior destino da carne bovina brasileira, posição construída ao longo de vários anos.
Impacto da Tarifa Zero na Exportação de Carne Bovina
Esse movimento de reabertura ganha peso especial para Mato Grosso do Sul. Até a criação da tarifa, o estado liderava os embarques de carne bovina para o mercado norte-americano. Com o fim da sobretaxa, frigoríficos exportadores e pecuaristas voltam a enxergar espaço. Eles podem recuperar margens, reorganizar contratos e disputar mercado com concorrentes como Austrália, Argentina, Uruguai e Nova Zelândia.
O analista Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, explicou, em entrevista ao programa, que a volta dos Estados Unidos altera a dinâmica das exportações brasileiras de carne bovina. Segundo ele, a China – hoje principal cliente – tem reduzido as compras. Enquanto isso, os norte-americanos enfrentam “uma dificuldade imensa com preços da carne”, o que amplia a necessidade de importação. Dessa forma, a retomada sem tarifa tende a aumentar os volumes exportados pelo Brasil e a sustentar um bom ritmo de embarques.
Iglesias lembrou ainda que o Brasil, neste momento, é “a melhor alternativa global para se abastecer de carne bovina”. Algo que vale não apenas para boi, mas também para frango e suíno. Assim, a tendência é que os embarques se direcionem para os países que pagarem melhor. Enquanto o México, por exemplo, pode continuar comprando, ainda que a triangulação de produtos com os Estados Unidos perca espaço.
Cautela e Expectativas do Mercado
Apesar da boa notícia, o analista ponderou que o mercado ainda observa com cautela as possíveis salvaguardas da China para a carne bovina importada. O assunto deve ter definição apenas no dia 26. Isso já provocou queda forte nos contratos futuros na B3, gerando um descolamento entre o mercado financeiro e o físico. Enquanto isso, no dia a dia do produtor, os preços seguem pressionados, mas com resistência em vários estados.
No mercado interno de Mato Grosso do Sul, o programa registrou que, na última quarta-feira, a arroba do boi China no estado teve referência em R$ 322. Enquanto o boi comum ficou em R$ 320. O recuo recente nos valores, somado à volatilidade internacional, retrata um momento de transição. As exportações ganham novo fôlego com a tarifa zero, ao mesmo tempo em que o setor acompanha atento os próximos passos da China.