Presente em praticamente todo o território nacional, o carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) se tornou um dos maiores vilões da pecuária brasileira — e em Mato Grosso do Sul, onde o rebanho bovino ultrapassa os 18 milhões de cabeças, os impactos são ainda mais sentidos.
Estimativas apontam que o parasita causa prejuízos diretos e indiretos que superam os R$ 16 bilhões por ano em todo o país.
Na prática, a infestação por carrapatos compromete o ganho de peso, a produção de carne e leite, e ainda desvaloriza o couro dos animais. Os custos com medicamentos, mão de obra e equipamentos para controle aumentam consideravelmente, pressionando o produtor rural.
Estudo realizado pela Embrapa Gado de Corte, com sede em Campo Grande, indica que cada carrapato pode resultar em uma perda média de 0,22 kg de peso por animal ao ano.
Os rebanhos mais produtivos, especialmente os cruzamentos com raças taurinas como Brangus e Angus, são os mais afetados, já que esses animais são mais sensíveis ao parasita.
A raça Nelore, por outro lado, apresenta maior resistência, mas não escapa completamente do problema. A pesquisa mostrou que, enquanto bovinos Nelore abrigam em média 15 carrapatos por animal ao ano, esse número sobe para mais de 100 em cruzados como o Brangus.
Em Mato Grosso do Sul, a Embrapa testou diferentes estratégias para enfrentar o problema, com destaque para o Sistema Lone Tick — um tipo de manejo rotacionado de pastagens que evita o contato dos bovinos com as larvas do carrapato, reduzindo a infestação sem necessidade de produtos químicos.
Em um experimento com animais da raça Senepol, o sistema resultou em ganho médio de 0,425 kg por dia, com baixíssimos índices de infestação e sem necessidade de aplicação de acaricidas.
O uso intensivo desses produtos, aliás, tem se tornado um problema à parte. O carrapato vem desenvolvendo resistência a diversas substâncias químicas, e o acúmulo de resíduos no meio ambiente e nos alimentos preocupa consumidores e exportadores.
Além disso, os custos com controle químico não são baixos. Em sistemas sem controle, a perda de peso pode chegar a quase 7% em categorias de recria, enquanto o custo do tratamento com pulverização representa menos de 6% do valor total perdido — evidenciando que o controle ainda é economicamente viável.
A Embrapa também desenvolve estudos com vacinas e fitoterápicos como alternativas sustentáveis ao uso de acaricidas. Pesquisas com a vacina à base de peptídeos sintéticos e óleos naturais como o de Tagetes minuta têm mostrado resultados promissores.