Uma das precursoras do jornalismo gastronômico no país, a culinarista Bettina Orrico, morreu neste domingo, aos 89 anos. Na década de 70 ela começou a trabalhar na editora Abril, em uma cozinha experimental para testar receitas a serem publicadas. E não demorou muito até que ela criasse receitas e se tornasse consultora gastronômica da revista Cláudia, numa linguagem que conquistou leitores e leitoras por décadas.
Bettina também deu aulas de culinária e escreveu diversos livros, entre eles "Os jantares que não dei", no qual citava menus imaginários que gostaria de cozinhar para algumas personalidades, como a artista plástica Tomie Ohtake, o músico Chico Buarque e o arquiteto Oscar Niemeyer.
Nesta segunda-feira (30) o chef sul-mato-grossense, Paulo Machado, fez uma homenagem especial à Bettina Orrico na coluna Viagem de Sabores. Acompanhe abaixo:
COLUNA ESPECIAL DO CHEF PAULO MACHADO, EM HOMENAGEM À CULINARISTA
"Muito triste saber da morte da queridíssima Bettina Orrico. Ela sem dúvida foi uma das pessoas que mais conhecia receitas brasileiras de casa, com qualidade, apreço e propriedade.
Tive a chance de conhecê-la numa aula do Chef Alex Atala, no extinto evento do @estadao o Paladar cozinha do Brasil, que era realizado no Grand Hyatt de São Paulo pelo jornalista @luisamerico , e foi na ocasião que Bettina me perguntou o que era a cozinha pantaneira, que eu havia falado que estava começando a pesquisar…
Respondi de pronto, se tratar de uma cozinha pobre, por ter poucos elementos. E de pronto Bettina me retrucou dizendo que nunca mais eu poderia chamar uma cozinha de pobre, que é nessa simplicidade onde moram as riquezas. É que nunca uma gastronomia, por ter poucos ingredientes poderia ser considerada pobre.
Ali vi que ao contrário do que pensava, uma gastronomia brasileira ainda pouco difundida realmente precisava ser bem observada, pesquisada e replicada.
A partir daquela conversa, tão generosa com a Bettina, eu comecei a minha pesquisa de fato. Com um outro olhar. Muito mais atento, e observador de que é nas “pequenezas” que moram as maiores riquezas de uma cozinha.
Na técnica, na qualidade do insumo, no olhar de uma cozinheira antiga. Tudo isso é um verdadeiro tesouro dos nossos sabores verde-amarelos".