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Só um novo contrato pode resolver a crise financeira da Santa Casa, explica vereador

Hospital concentra mais da metade dos leitos da Capital, opera com déficit mensal milionário e depende de novo acordo para evitar colapso

Victor Rocha, presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande (Foto: Karina Anunciato/ Portal RCN67)
Victor Rocha, presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande (Foto: Karina Anunciato/ Portal RCN67)

A crise financeira e estrutural da Santa Casa de Campo Grande está no centro do debate da saúde pública e expõe a fragilidade de toda a rede hospitalar da Capital. Responsável por mais de 50% dos leitos do SUS e por cerca de 60% da média e alta complexidade, o hospital não pode interromper suas atividades nem por um dia, sob risco de paralisação do sistema como um todo.

O alerta é do presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, vereador Victor Rocha, em entrevista ao podcast do Grupo RCN67. Segundo ele, a Santa Casa atende muito além de sua função original, voltada à alta complexidade, e opera com um déficit mensal estimado entre R$ 12 milhões e R$ 13 milhões.

“A Santa Casa é o maior hospital do Estado. É referência em UTI neonatal, gestação de alto risco, neurocirurgia, politrauma e grandes queimados. Se ela parar, toda a rede de Campo Grande para”, afirmou.

Hoje, a distribuição de leitos na Capital é considerada desequilibrada. Enquanto a Santa Casa concentra a maior parte das internações, o Hospital Regional responde por cerca de 20% dos leitos, o Hospital Universitário por aproximadamente 10%, e o restante fica diluído entre outras unidades. Para o vereador, essa configuração não é sustentável sem a ampliação da rede hospitalar e a regionalização do atendimento.

Outro problema apontado é a falha na regulação. Segundo Rocha, atendimentos de menor complexidade acabam sendo encaminhados à Santa Casa, o que contribui para a superlotação e encarece o sistema. “Paciente com casos simples não pode ocupar leito de alta complexidade. Isso trava o giro do hospital”, disse.

O subfinanciamento também pesa sobre a gestão da unidade. De acordo com o vereador, a Santa Casa recebe menos de três tabelas SUS pelo volume e complexidade dos atendimentos realizados, quando o mínimo necessário para equilíbrio financeiro seria cerca de três e meia. O resultado é o acúmulo de dívidas, atrasos a médicos contratados como pessoa jurídica e fornecedores, além da necessidade recorrente de empréstimos bancários.

Acordo no Ministério Público e Auditoria Independente

Após semanas de tensão e risco de paralisação médica, um acordo foi firmado no Ministério Público de Mato Grosso do Sul, envolvendo município, Estado, União, bancada federal e a administração do hospital. O pacto prevê recursos extraordinários para quitar atrasos, garantir os próximos meses de funcionamento e evitar a interrupção dos atendimentos.

Também ficou definida a realização de uma auditoria independente, custeada pelo governo estadual, para analisar a situação financeira, contábil e administrativa da Santa Casa. O resultado deve embasar uma nova contratualização considerada sustentável.

Crise Financeira e Gestão da Santa Casa

Para Victor Rocha, a crise não é recente nem se resume à gestão atual. “Desde a intervenção que ocorreu entre 2005 e 2013, a Santa Casa opera com contratos deficitários. Não existe gestor que consiga fechar uma conta que não fecha”, afirmou.

O vereador diz que a Comissão de Saúde acompanhará de perto o cumprimento do acordo e a renegociação do contrato. “O primeiro passo foi dado. Agora é garantir um modelo que cubra os custos reais e preserve o atendimento à população que depende do SUS”, concluiu.