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APOSTA PERIGOSA

Vício em jogos desafia rede de saúde mental em Três Lagoas

Especialistas alertam para crescimento de casos após pandemia; CAPS amplia atendimento a jogadores compulsivos e famílias

A Organização Mundial da Saúde classifica o transtorno do jogo como uma doença mental. Foto: Beto Silva/Massa FM
A Organização Mundial da Saúde classifica o transtorno do jogo como uma doença mental. Foto: Beto Silva/Massa FM

O vício em jogos de azar e apostas online tem se consolidado como um novo desafio para a saúde mental em Três Lagoas (MS). A prática, comparada por especialistas à dependência química, tem levado jovens e adultos a buscar ajuda no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que já adaptou seu atendimento para lidar com a demanda crescente.

Igor Paes

Segundo o psicólogo Igor Paes, coordenador da Rede de Atenção Psicossocial do município, o aumento foi percebido especialmente após a pandemia de Covid-19, quando o isolamento social intensificou o uso de plataformas digitais.

“É um vício em comportamento, um vício da emoção. Não envolve substância, mas provoca abstinência e impacto na vida financeira e familiar do paciente”, explica.

A Organização Mundial da Saúde classifica o transtorno do jogo como uma doença mental. Entre os sinais de alerta estão isolamento, perda de apetite, angústia e até ideação suicida em razão de dívidas acumuladas. Pesquisas da USP indicam que metade dos pacientes atendidos em clínicas especializadas chega a cometer crimes para sustentar o vício.

Em Três Lagoas, os CAPS funcionam em sistema de portas abertas, o que significa que qualquer pessoa pode procurar atendimento sem encaminhamento prévio. O tratamento é individualizado e envolve também o acompanhamento das famílias.

“Muitas vezes trabalhamos junto com assistência social e escolas, porque o impacto vai além da saúde do paciente”, afirma Paes.

A faixa etária mais atingida, segundo a literatura médica, vai de 16 a 35 anos, público especialmente exposto às apostas online ligadas ao futebol e a jogos eletrônicos.

“O apelo é forte: cores, músicas, mascotes, tudo é pensado para prender a atenção e estimular a emoção da aposta”, alerta o psicólogo.

Paes ressalta que há tratamento e chances reais de recuperação, apesar das dificuldades. “Nosso papel é ajudar o paciente a redescobrir formas de ter prazer sem a autossabotagem do jogo”, afirma.

Para quem já vive o drama de ter um familiar seduzido pelo jogo, o psicólogo chama atenção para a existência de uma rede apoio. “Procurem ajuda. Hoje há uma rede de atendimento preparada, tanto no setor público quanto no privado. Ninguém precisa sofrer sozinho”.

Acompanhe a entrevista completa: