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Campo Grande, 26 de abril

Legado de Cabo Almi abre "disputa" entre PT e filho do ex-deputado vítima da covid

Morte em maio do ano passado deixou lacuna para Flavio ocupar, mas ele migrou para o Podemos, sigla da direita

Por Nyelder Rodrigues
08/04/2022 • 15h31
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Cabo Almi conseguiu seu primeiro mandato político em 1996, quando se elegeu vereador de Campo Grande com 13.699 votos. Ali, nessa cadeira na Câmara Municipal, ele seguiu até 2010, quando mudou de casa legislativa e desembarcou na Assembleia Legislativa. Seja como vereador ou como deputado estadual, sua base sempre foram os bairros e a assistência aos moradores.

A política pautada no "povão" fez com que Almi se tornasse um nome histórico dentro do PT de Mato Grosso do Sul e cria-se assim um legado usufruído em vida. Contudo, ele foi mais uma das vítimas fatais da covid-19 em maio do ano passado, aos 58 anos.

Essa morte precoce e inesperada mudou também o cenário político petista. Em seu lugar assumiu o também petista Amarildo Cruz, que tem outro mote de atuação e angariar seus votos com outro público. Claramente o legado de Almi estava "em aberto" e deveria ser explorado.

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Naturalmente, seu filho Flavio Moura surgiu como o homem a dar continuidade ao trabalho de Almi. Prova disso é que ele adotou o telefone do pai, mantendo a rede de contatos, e passou a usar o nome de Flavio Cabo Almi, entrando de cabeça no mundo eleitoral.

Já havia a pretensão de Almi em lançar o filho na política, e nem mesmo sua morte paralisou tal projeto. Flavio era um dos nomes do PT para compor chapa para deputado federal neste ano, sendo tido como "cabeça" ao lado do sindicalista Jaime Teixeira e da vereadora Camila Jara, além do deputado federal com vários mandatos, Vander Loubet.

MUDANÇA DE CAMINHO

A dificuldade em fechar chapas competitivas criada com o fim das coligações nas eleições de deputados fez com que muitos partidos partissem para as contas. Hoje, estima-se que em Mato Grosso do Sul são precisos 160 mil votos para uma legenda ocupar uma das oito vagas existentes para a Câmara Federal. Os números assustaram Flavio.

Em sua avaliação, a sigla não conseguiria duas vagas - ou seja, alcançar 320 mil votos - e teria direito a apenas um assento em Brasília, que naturalmente seria de Vander, candidato a reeleição. "Ele não vai dar votos para fazer legenda para o Vander", revelou a reportagem um dos assessores envolvidos na pré-campanha de Flavio.

Assim, Flavio anunciou no mês passado sua saída do PT e desembarque no Podemos, até então partido de Sergio Moro, ex-juiz federal desafeto de Lula e petistas espalhados pelo Brasil. Além disso, o partido faz parte do arco de alianças de Rose Modesto, pré-candidata ao governo sul-mato-grossense pelo União Brasil - parte da chamada "terceira via".

LEGADO DIVIDIDO

Que a intenção de Flavio é dar continuidade ao trabalho do pai, não há dúvidas, mesmo saindo do PT. Porém, dentro da sigla da estrela vermelho, há quem queira fazer o mesmo, apesar do afastamento. "Agora não há como continuar no mesmo caminho. Cada um vai seguir o seu", comenta o vereador Ayrton Araújo, ao ser abordado sobre o tema.

Ayrton era um dos parceiros de primeira hora de Almi, e que no início do ano havia admitido que não pensava em se candidatar à Assembleia para trabalhar por Flavio. Com a saída dele do partido, criou-se uma divisão que por hora deve seguir assim.

"O PT é um partido democrático. O Flavio não saiu brigado de lá, é um direito dele escolher outro caminho. Isso é a democracia e eu respeito. Respeitamos isso. Mas eu não acredito que ele volte. Então agora é seguir em frente e criar dar continuidade ao trabalho do Almi", disse.

A fala de Ayrton deixa claro que o legado - e votos - de Cabo Almi devem ser disputados tanto por Flavio e seu grupo, em maior parte de dissidentes do PT assim como ele, como por nomes que permaneceram no partido e querem agregar um pedaço desse nicho para eles.

EQUÍVOCO?

"Se elegermos o Flavio, te garanto que ele vai fazer igual ao pai dele. Vai continuar morando no mesmo lugar, no bairro, na periferia. Vai ser o primeiro deputado a continuar morando no mesmo lugar que sempre morou, após ao ser eleito", conta antigo cabo eleitoral de Almi que optou por seguir Flavio em sua nova empreitada no Podemos.

O resultado dessa - se assim é possível chamar - disputa saberemos em outubro deste ano, quando acontece as eleições gerais. Mas a confiança dos cabos eleitorais de Flavio não se refletem nos ex-colegas de PT, que consideram um equívoco dele essa mudança.

Vander diz respeitar a opção e até já conversar com Flavio. Foi um equívoco. O Almi construiu sua história dentro do PT e lá deveria ser continuada. Mas cada um tem o seu livre arbítrio. Historicamente o PT sempre fez dois deputados federais, até três, e a narrativa hoje é propícia para que voltemos a ter dois nomes", opina o deputado.

Outro adversário de filho de Almi nas urnas, Jaime Teixeira, presidente da Fetems, deixa claro também considerar um erro a saída. "Tenho certeza que faremos dois deputados. Em 2018 fiquei como suplente em uma eleição que tinha outra conjuntura", frisa.

Jaime ainda aponta acreditar que o trabalho de Vander vai puxar votos para a sigla, sendo que a meta hoje é dobrar os aproximadamente 150 mil votos recebidos em 2018. "Temos vários exemplos de líderes que saíram do partido e não obtiveram êxito em outro lugar. Acho que ele foi meio apressado nessa escolha feita agora", conclui o sindicalista.

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