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Entrevista

‘Sabedoria é a chave do uso do 13º’

Professor de economia da UFMS indica que assalariado não deve se empolgar com o recebimento extra de dezembro

Marçal Rogério Rizzo é professor de economia da UFMS - Arquivo/JPNEWS
Marçal Rogério Rizzo é professor de economia da UFMS - Arquivo/JPNEWS

Dados da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil indicavam que, em outubro deste ano, ainda havia 62,9 milhões de inadimplentes no Brasil. O valor médio da soma de todas as pendências era de R$ 2.615,98. Outro dado que chamou atenção nesta pesquisa era que 14% não sabiam quanto deviam. Tais dados são recente e, certamente, pouca coisa mudou, ou seja, o número de inadimplentes continua elevadíssimo. A novidade, agora, é a entrada no bolso do trabalhador o 13º salário que pode ser um fôlego para as contas pessoais e para alívio da inadimplência principalmente no varejo. Porém, “deve ser usado com sabedoria”, como afirma o economista e professor da UFMS em Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo.

Jornal do Povo – O 13º salário traz resultados positivos para a economia como um todo?
Marçal Rogério Rizzo – Sim. Não podemos negar que o 13º salário é uma injeção de recursos na economia. Vou além até uma injeção de ânimo, um fortificante que ajuda a melhorar as finanças pessoais e até mesmo as finanças das empresas. Imagine o Brasil sem o 13º salário injetado nas veias de sua economia como um todo. As pessoas pagarão contas atrasadas? Investirão? Ou vão gastar tudo?  Muitos setores apresentam um boom de vendas justamente pela entrada do 13º salário.

JP – Poderia dar alguns exemplos de setores da economia que mais beneficiam-se com o ingresso do 13º salário na economia?
Marçal – Aqui a resposta merece uma reflexão pessoal. Partimos de uma questão básica: você já pensou onde utilizará os recursos de seu 13º salário? Agora imagine isso para a sociedade como um todo. Vamos para os setores de alimentos e bebidas. Será que se não tivéssemos o 13º salário as compras em supermercados, açougues, conveniências, quitandas, padarias seriam realizadas com o mesmo vigor? E o setor de vestuário? Será que venderia o que vendem no final do ano e início do próximo ano? E o setor de calçados venderia na mesma proporção? Temos que lembrar que muitas famílias aproveitam o 13º salário para juntar com outras economias com o objetivo de trocar o carro ou mesmo fazer uma reforma da casa. Há aqueles que até dão entrada em carros ou casas aproveitando o 13º para complementar suas economias. O setor do turismo se beneficia muito com os recursos do 13º salário. Mais não para por aí. Basta ponderarmos para onde vai cada centavo de nosso 13º salário.

JP – É verdade que o 13º salário só existe no Brasil?
Marçal –
Não. Basta uma pesquisa rápida que veremos que o 13º salário existe em vários países do mundo. No Brasil foi instituído na década de 1960. Contudo, vale lembrar que também há casos de países que o 13º salário não é obrigatório, porém permite seu pagamento por meio de acordo feito nos sindicatos. Há casos também de países como os Estados Unidos que praticam a política de bonificação do trabalhador. De certa maneira todas essas configurações criam uma infeção de recursos no bolso do trabalhador que se repassa para a economia como um todo.

JP – Se mudasse lei e se extinguisse o 13º salário, quais seriam as consequências haveria para a economia?
Marçal –
Penso que seriam péssimas. Seria menos recursos para girar a roda da economia. Aquele “plus” que a economia tem no final de todo ano acabaria. O que não paramos para refletir é no custo que incide sobre a folha de pagamento paga em sua maioria pelo empregador, são inúmeros impostos, taxas e contribuições. Acredito que a discussão deva mudar de foco e não partir para a extinção do 13º salário, mas sim, alternativas de baratear os custos da folha de pagamento diante da elevada carga tributária. 

JP – O que o trabalhador deve fazer com o seu 13º neste ano?
Marçal –
Deve utilizá-lo com sabedoria. Esse é meu principal conselho. Reflexão, prioridade e fazer contas. É um dinheiro extra, mas que tem fim. Pegar um papel e anotar inicialmente o que deve, ou seja, as contas atrasadas que possui e deseja pagar. Depois pensar nas despesas extras futuras, como IPTU, IPVA, material escolar e tantas outras contas extras que aparecem no início de ano. Agora para contas atrasadas o ideal e negociá-las, peça o máximo de desconto, parcele, enfim use do diálogo. Já para as futuras contas se pagar à vista for ter um bom desconto, faça isso. Gastar com compras, presentes entre outros é permitido dentro das prioridades e limitações. Nada é proibido desde que se haja prudência e sabedoria.