
Apesar dos esforços em 2025 para reduzir os índices de violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul, o estado registra um aumento alarmante no número de feminicídios. Com 39 mortes registradas ao longo do ano, o número de vítimas cresceu 11% em relação ao ano anterior. O aumento reflete falhas nas ações de prevenção, mesmo após um investimento considerável em políticas públicas e infraestrutura de apoio à mulher.
Em 2024, 35 mulheres haviam sido assassinadas por feminicídio no estado, mas em 2025, as políticas de enfrentamento à violência, apesar de se expandirem, não impediram a tragédia. Este ano, o estado tem sido palco de uma série de eventos que destacam a deficiência das estratégias implementadas, com a morte de mulheres sendo registrada mês após mês.
O ano começou com tragédia
A triste onda de feminicídios teve início com o caso de Vanessa Ricarte, jornalista de 42 anos, que foi brutalmente assassinada a facadas pelo ex-namorado, Caio César Nascimento Pereira, em fevereiro. Ela havia procurado ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) e obtido uma medida protetiva contra o agressor. Vanessa, antes de ser atacada, enviou um áudio para uma amiga, revelando a falta de acolhimento que encontrou na unidade policial, destacando a fragilidade da rede de proteção.
Esse caso gerou indignação, e o governo estadual foi pressionado a tomar ações mais incisivas. Em resposta, uma série de medidas foram anunciadas ao longo do ano, com foco na eficiência e agilidade no atendimento às vítimas de violência.
Medidas adotadas e seus efeitos
Em 2025, 10 novas Salas Lilás foram inauguradas, totalizando 57 unidades em todo o estado, e 12 delegacias especializadas permaneceram em funcionamento. Apesar dos esforços do governo para combater a violência, os números demonstram que esses avanços foram insuficientes para conter o aumento dos feminicídios
Falhas nas políticas de proteção
Os dados são decisivos: de todas as 39 mulheres vítimas de feminicídio em 2025, 90% não tinham medidas protetivas em vigor. Embora o estado tenha registrado um crescimento na busca por atendimento, com mais de 21.700 denúncias de violência doméstica feitas em unidades policiais, muitos crimes aconteceram dentro do próprio lar, com os agressores sendo, na maioria dos casos, companheiros ou ex-companheiros das vítimas.
A situação foi abordada por Barbosinha, vice-governador do estado, que afirmou:
“Apesar de todos os esforços, o caminho a ser percorrido ainda é longo. A medida protetiva, por exemplo, é essencial para salvar vidas, mas ainda estamos longe de oferecer a proteção necessária a todas as mulheres que buscam auxílio.”
O ciclo da violência
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) aponta que muitos casos de feminicídio ocorreram em situações em que a vítima não reconhecia o ciclo de violência em que estava inserida. Romão Ávila, procurador-geral de Justiça do MPMS, destacou que, muitas vezes, as vítimas não percebem a violência psicológica ou a dependência econômica que as mantém em um relacionamento abusivo. Esse ciclo só se rompe quando o pior acontece, muitas vezes resultando em morte.
O caso de Michely Rios, morta pelo próprio filho, de 21 anos, em julho, exemplifica como as vítimas podem estar rodeadas de uma rede de violência familiar que culmina em tragédia. Especialistas alertam que é imprescindível ampliar as campanhas de conscientização para que mais mulheres consigam romper o ciclo da violência antes que seja tarde demais.
Expectativas para 2026
Apesar de o desafio em questão ser significativo para o estado, o governo de Mato Grosso do Sul promete avançar nas ações de prevenção e proteção à mulher, com ênfase na ampliação das Salas Lilás e na incorporação de novas tecnologias para garantir a eficiência dos atendimentos. A Polícia Civil, por sua vez, intensificará as operações de fiscalização e o reforço das medidas protetivas, principalmente nos períodos mais críticos, como as festas de fim de ano.
*Com dados do Monitor de Violência Contra a Mulher