O assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Rui Ferraz Fontes, ocorrido no último dia 15 de setembro, evidenciou a crescente atuação de organizações criminosas no país e a limitação da resposta institucional frente à violência de alta complexidade.
Fontes, que chefiou a Polícia Civil entre 2019 e 2022, atuou por décadas em investigações relacionadas ao crime organizado, com ênfase em operações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi morto em uma emboscada, na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, por criminosos fortemente armados. Segundo informações preliminares, o ataque teve características de execução planejada, com uso de armamento de guerra e possível envolvimento de facção criminosa. Ruy Ferraz Fontes ocupava atualmente o cargo de secretário de Administração da Prefeitura da cidade litorânea e tinha mais de 40 anos de carreira na Polícia Civil de São Paulo, da qual estava licenciado. Conhecido nacionalmente por ter sido um dos delegados que mais combateu a facção criminosa paulistana, chegou a ser jurado de morte por criminosos integrantes da organização.
Apesar da repercussão nacional do crime, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não se manifestou publicamente sobre o caso em suas redes sociais oficiais, tampouco por meio de nota divulgada pela Presidência da República. Os canais institucionais da Presidência, geralmente utilizados para declarações sobre episódios de relevância nacional, permaneceram em silêncio sobre o assassinato. A ausência de manifestação também se estendeu aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos) e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil). Dos mais de 30 integrantes da Comissão de Segurança Pública da Câmara, apenas quatro se pronunciaram publicamente.
Já o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, também do Republicanos, no mesmo dia usou sua conta na rede social X para falar sobre o assunto: “Um crime bárbaro e que não ficará impune! As forças policiais estão empenhadas à procura e captura do criminoso para que seja punido dentro do rigor da lei.”, publicou o governador ao prestar condolências aos familiares do delegado.
O PCC no MS
Especialistas em segurança pública apontam que o crime se insere em um cenário mais amplo de fortalecimento das facções criminosas no território nacional. O PCC, principal suspeito de envolvimento no crime que chocou o Brasil e lembrou a Colômbia dos tempos do narcotraficante e terrorista Pablo Escobar, tem ampliado sua presença em diversas regiões do país, incluindo o Estado do Mato Grosso do Sul, onde controla rotas estratégicas para o tráfico de drogas e armas.
Segundo relatórios de inteligência das polícias estaduais e federais, o Mato Grosso do Sul é considerado uma das principais bases logísticas do PCC, em razão de sua localização geográfica e das fronteiras com Bolívia e Paraguai — regiões utilizadas para o escoamento de entorpecentes e armamentos ilegais. A facção mantém estruturas operacionais consolidadas em cidades sul-mato-grossenses e atua com cooptação de integrantes locais, uso de propriedades rurais e influência sobre cadeias regionais de transporte e distribuição.
A atuação interestadual e transnacional das facções representa um desafio crescente para os órgãos de segurança pública. Desde a promulgação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), em 2018, o país ainda enfrenta entraves na consolidação de uma estratégia nacional coordenada entre os entes federativos.
A investigação do homicídio de Rui Ferraz Fontes segue sob responsabilidade da Polícia Civil de São Paulo, com apoio de unidades especializadas.