Ingenuidade ou demagogia? Boa pergunta! Eu digo que é misto de ambas. O tempo passa, mudamos de século inclusive e os novos prefeitos deste imenso Brasil até parecem veteranos pelas suas declarações e atitudes.
As notícias mostram que esse pessoal que está estreando nas prefeituras convive com grandes chances de repetir o comportamento incoerente tão criticado nas praças públicas. Aqui mesmo no Estado alguns exemplos já são conhecidos.
A nova prefeita de Coxim ignora a lei e a ética arrumando uma cadeira especial para acomodar o irmãozinho querido nas tetas da “viúva”. Em Ladário, quem deve se sair bem é a primeira dama, graças a caneta generosa de seu marido prefeito.
Mas não fica aí: em muitos municípios já são criticadas as nomeações de pessoas tecnicamente incompetente, premiadas pelo companheirismo durante a campanha eleitoral. Quem não conhece a figura famosa do “Aspone” nas prefeituras e câmaras? E o que falar do nível de muitos ocupantes dos cargos de confiança? É de rir ou de chorar.
Impressiona a falta de memória destes novos governantes. Até se parecem com Fernando Henrique Cardoso quando lhe cobraram uma administração coererente com as idéias demonstradas em seus livros. E tem outro aspecto ignorado pela grande maioria dos novos prefeitos: eles têm compromisso com toda a população e não apenas com seus eleitores. Um cidadão pode não comungar com suas idéias políticas, mas paga seus impostos e tem direito aos benefícios como munícipe.
Claro que todos os prefeitos acabam fazendo política na prefeitura. Mas o que não é concebível é adotar distinção rançosa entre os companheiros e adversários eleitorais. O dia a dia das comunidades interioranas mostra que essa pratica ainda está longe de ser exterminada. No próximo século, talvez!
Os novos prefeitos não vão redescobrir a América e muito menos reinventar a roda. Entre o discurso e a pratica existem distância e obstáculos complicados. Promessas são acenos de esperança, estimulam criando expectativas. Mas é preciso ir com calma com o andor. Promover o desenvolvimento, acabar com o desemprego, dar saúde e ensino para todos pode parecer tarefa simples, mas não é.
Impossível o prefeito estreante se libertar dos velhos vícios, porque ele estará quase sempre atrelado ou comprometido com gente experiente, que mesmo antes da posse já apresentou a “fatura”. E para viabilizar seu governo, terá se rever conceitos e talvez até vender sua alma ao diabo. Faz parte do jogo. Como se diz: é a política muda o homem e não ele que muda a política.
Manoel Afonso escreve a ccoluna Ampla Visão para o JP. Email: [email protected]