Imagine um pedacinho de papel do tamanho de um chiclete onde você pinga uma gota de urina e ele mostra imediatamente se você tem HIV, malária, diabetes, mal de Chagas e toxoplasmose. Tudo ao mesmo tempo.
Um exame exatamente assim está sendo desenvolvido por um cientista da USP em São Carlos (SP) em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Eles inventaram um teste parecido com tradicional papelzinho usado para detectar gravidez, mas mais barato e aplicável a inúmeras doenças.
Um exame exatamente assim está sendo desenvolvido por um cientista da USP em São Carlos (SP) em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Eles inventaram um teste parecido com tradicional papelzinho usado para detectar gravidez, mas mais barato e aplicável a inúmeras doenças.
"O papel pode fazer mais do que isso [o exame de gravidez]. Ele é extremamente mais barato. Queremos desenvolver um diagnóstico para usar em locais carentes", conta o pesquisador Emanuel Carrilho, do Instituto de Química da USP em São Carlos.
Materiais caseiros
A ideia é simples: com uma impressora que utiliza tinta de cera – o equipamento é parecido com impressoras caseiras – eles põem a imagem de pequenos canais em um papel especial.
A folha então é aquecida, derretendo a cera e formando caminhos que vão direcionar o líquido humano, sem deixar que ele escape. No final desses caminhos são colocados reagentes, que mudam de cor dependendo da substância a ser testada.
Reações químicas
A possibilidade de exames é teoricamente infinita, pois no papel podem ser usados fluidos corporais (sangue, urina, saliva, lágrimas, suor etc.) que contenham componentes químicos gerados por qualquer doença, desde que eles mudem de cor quando entrem em contato com reagentes.
"O número de doenças identificáveis está limitado ao conhecimento das reações químicas. Em princípio, todas as reações que ocorrem em laboratório podem ser transportadas para o papel", afirma Carrilho.
De acordo com ele, os reagentes que dão cor aos testes costumam ser caros, mas a quantidade necessária para cada exame é ínfima. "Usamos microlitros [um litro dividido por um milhão]". Sem o custo dos reagentes, cada exame custará menos que um centavo de dólar, de acordo com um orçamento feito nos EUA.
Telefone celular
Como as cores geradas no papel nem sempre são fáceis de identificar – um ponto vermelho pode indicar doença diferente de um laranja escuro – os cientistas imaginam que seja possível tirar uma foto do teste com celular e enviar ao laboratório por SMS. "Assim você não precisa de um especialista em campo", afirma Carrilho.
A primeira grande experiência com o papelzinho que faz exames será feita ainda neste ano, na cidade de Santa Luzia do Itanhy, em Sergipe. Em parceria com o Programa Saúde da Família, os pesquisadores farão testes de anemia em 4.700 crianças e adolescentes. Se der certo, a experiência será levada para outras cidades em 2011.
Além de doenças, o teste pode ser usado para encontrar substâncias na água ou em outros líquidos. "Podemos detectar metais pesados, por exemplo. Estamos testando mercúrio e chumbo, mas poderiam ser pesticidas. Também é possível detectar cafeína em bebida, por exemplo", diz o químico da USP, que já está desenvolvendo uma forma de examinar se há glúten em bebidas.