Santa ingenuidade de Platão ao sugerir que os políticos não precisavam possuir absolutamente nada, além da vocação prazerosa de servir de forma útil. Imagine ele na tribuna do Congresso Nacional fazendo a defesa de sua tese! No mínimo seria hilário.
Mas como o Brasil não é a “Grécia Antiga”, aqui a vida pública partidária pode ser comparada a movimentada queijaria, onde proliferam aqueles “mamíferos roedores”. Atentos e rápidos, não desperdiçam a menor chance da “mordida”. É evidente que em países do Primeiro Mundo, apesar da tradição e das leis, também ocorrem casos de transgressões da ética. Ainda há pouco tivemos o caso dos parlamentares ingleses torrando o dinheiro público. Uma gota perto do nosso “oceano”.
O que nos diferencia, é a incrível capacidade de assimilar com tamanha facilidade os casos escabrosos, que aos nossos olhos se transformam em algo natural, próprio do nosso meio. Se quase todo dia, espaços da mídia são ocupados por notícias de condutas ilícitas da administração pública, não há tempo nem para o exercício da indignação mais profunda ou demorada. É como aquela placa do “prato do dia” de restaurante. Todo dia tem novidade!
Dizem que a cultura de levar vantagem começou com aquele famoso pedido de emprego na carta de Pero Vaz, mas não é bem assim. O país passou por vários ciclos históricos, mas em nenhum deles foi debatida e depurada essa questão de conduta. Com Getúlio, Militares e no Mensalão do PT, esse corporativismo, que turbinou a corrupção, permaneceu intocável. Punir um ou outro gato pingado não elimina o problema. Apenas passa a exigir maior cautela dos infratores.
O que chega a ser engraçado é que nossa classe política conseguiu com “raro brilhantismo”, difundir a tese de que “tudo que não é proibido, é permitido” e que “moral é moral…direito é direito!” Aceitos esses conceitos, a porteira para o “pasto da engorda” foi escancarada e a tramela jogada no mato. O vereador da cidade pequena – ainda que de primeiro mandato – aprende rápido as lições que são irradiadas de Brasília ou da capital do Estado. E ele, acaba concluindo por analogia: “se os ministros, senadores e deputados podem, eu também posso”.
E aí o leitor já tem subsídios e razões para um calculo cruel: com seus mais de cinco mil municípios, o Brasil é um berçário ideal para gerar novos políticos corruptos que sonham em galgar os degraus do poder.” Conclusão: se esses que estão aí, não têm interesse em mudanças de verdade, imagine seus sucessores!
E quem irá nos salvar? O Chapolim Colorado?
Manoel Afonso – leia meu blog: www.manoelfonso.com.br