O trecho rodoviário conhecido como Rota da Celulose, com 870,3 quilômetros entre rodovias estaduais e federais de Mato Grosso do Sul, já tem novo responsável pelos próximos 30 anos.
O vencedor do leilão realizado nesta quinta-feira (8), na sede da B3, em São Paulo, foi o Consórcio K&G Rota da Celulose, que apresentou o maior desconto tarifário (9%) e propôs um aporte de R$ 217,3 milhões no contrato, valor mais de cinco vezes superior ao mínimo previsto em edital, de R$ 47 milhões.
Esse patamar de contrapartida foi estabelecido em tabela oficial anexada à minuta de edital, que relaciona o percentual de desconto ao valor obrigatório de aporte. Pela regra, quanto maior o deságio proposto sobre a tarifa, maior precisa ser o investimento inicial oferecido pela empresa vencedora.
Para um desconto de 9%, por exemplo, o valor de aporte estipulado era exatamente R$ 217.389.913,70 — como ofertado pelo consórcio vencedor.
A proposta superou outras três concorrentes, incluindo o BTG Pactual Infraestrutura III e o consórcio Caminhos da Celulose.
Representado pela corretora Galápagos Capital, o Consórcio K&G será responsável por administrar trechos da MS-040, MS-338, MS-395, BR-262 e BR-267, vias consideradas estratégicas para o escoamento da produção agroindustrial e de celulose na região leste do estado.
Propostas apresentadas no leilão
PROPONENTE | CORRETORA | DESCONTO (%) | APORTE (R$) |
Consórcio K&G Rota da Celulose | Galápagos Capital | 9,00 | R$ 217.389.913,70 |
Consórcio Caminhos da Celulose | Ativa Investimentos | 8,00 | R$ 195.619.568,80 |
Rotas do Brasil S.A. | Guide Investimentos | 5,00 | R$ 137.206.420,91 |
BTG Pactual Infraestrutura III | Itaú | 4,00 | R$ 118.827.772,70 |
Concessão com pedágio eletrônico e investimento superior a R$ 10 bilhões
De acordo com os estudos técnicos anexados ao edital, a concessão prevê investimentos totais da ordem de R$ 10,1 bilhões, dos quais cerca de R$ 6,9 bilhões serão destinados a obras e melhorias na malha viária e o restante ao custeio das operações ao longo das três décadas de contrato.
Entre as principais intervenções previstas estão:
- Implantação de pedágio eletrônico (Free Flow) em pontos definidos pelo Programa de Exploração Rodoviária (PER);
- Duplicação de 146 km de pistas em trechos de maior fluxo, como na MS-040 e BR-262;
- Construção de contornos urbanos em áreas sensíveis ao tráfego pesado, como Bataguassu, Ribas do Rio Pardo e Água Clara;
- Instalação de sistemas de câmeras, painéis de mensagens, bases operacionais e atendimento médico emergencial.
A cobrança de pedágio, no entanto, só poderá ser iniciada após a execução de parte das obras iniciais, embora o edital não deixe claro qual o percentual mínimo exigido para que isso ocorra.
Quem são os vencedores
O consórcio vencedor é formado pela K-Infra, empresa com experiência na administração da Concessionária Rodovia do Aço (BR-393/RJ), que atua desde 2008 com contrato regulado pela ANTT, e pela Galápagos Capital, corretora de investimentos com sede em São Paulo e atuação crescente em operações de infraestrutura.
A K-Infra tem histórico na gestão de 200 km de rodovia federal entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, com foco em segurança, eficiência e sustentabilidade ambiental. Já a Galápagos atua em operações estruturadas e foi responsável por inscrever e representar o consórcio no leilão da B3, conforme exigido pelo edital.
Trechos envolvem áreas de celulose e futuro corredor bioceânico
O pacote concedido interliga grandes polos de produção de celulose e grãos, como Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Água Clara e Nova Alvorada do Sul, e se conecta com vias que formam o chamado corredor da Rota Bioceânica, uma das principais apostas logísticas para exportações brasileiras via portos no Chile.
Com obras de duplicação previstas e melhoria na capacidade de tráfego, a expectativa do Governo do Estado é reduzir o custo logístico da produção e garantir maior segurança para os usuários — especialmente caminhoneiros e operadores do agronegócio.
Críticas e pontos sensíveis
Apesar do êxito do leilão em termos de competitividade, o projeto enfrenta alguns questionamentos. A começar pela ausência de cronograma detalhado para início da cobrança do pedágio, algo que gera preocupação sobre a possibilidade de antecipação de receita sem contrapartida real em infraestrutura.
Embora a estrutura regulatória esteja prevista, ainda não há clareza também sobre o cronograma por trecho nem sobre como serão tratadas as desapropriações e os impactos ambientais.