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Entrevista

Expansão, mercado livre e transição energética marcam os planos da MSGÁS

Expansão, mercado livre e transição energética marcam os planos da MSGÁS

M udanças no setor energético, instabilidades no fornecimento internacional e a expansão do mercado livre marcaram o cenário de 2025 em Mato Grosso do Sul. Diante desses desafios, a MSGÁS avançou em projetos de ampliação da rede, diversificação de fontes e preparação para novas demandas.

A diretora-presidente da MSGÁS, Cristiane Junqueira Schmidt, detalha os investimentos previstos e comenta as perspectivas para o futuro do gás natural e do biometano no Estado.

Quais foram, na sua avaliação, as principais ações da MSGÁS em 2025 e os resultados mais relevantes alcançados ao longo do ano?
Cristiane Schmidt A MSGÁS vem crescendo ao longo do tempo. Só para recordar, nós temos rede em Campo Grande, Três Lagoas e também em Corumbá. Em Corumbá, a rede ainda não está ativada, mas temos cerca de 30km implantados. Em 2025, fizemos grandes expansões: aumentamos nossa rede em praticamente 50km e hoje já somamos cerca de 550km no total. A cada ano, buscamos ampliar entre 40 e 50km de rede. Também alcançamos uma marca histórica no número de clientes: chegamos a 27 mil consumidores. Dez anos atrás, não conectávamos nem 10 mil clientes. Para 2026, a intenção é continuar essa expansão e ultrapassar a marca de 30 mil clientes. Foi um ano desafiador, marcado por grandes mudanças, especialmente na regulação do setor. Tivemos o início do mercado livre de gás no Brasil. As distribuidoras continuam com o mercado cativo, mas o mercado livre veio para ficar e para evoluir. Em 2025, já recebemos consultas de indústrias aqui do Estado interessadas nesse modelo, então também foi um ano de preparação para essa nova realidade.

O fluxo de gás vindo da Bolívia enfrentou instabilidades em 2025, reduzindo a arrecadação de ICMS e levando o governo estadual a adotar medidas de contenção de gastos. Além disso, houve o pedido de aumento de 63% na tarifa de transporte. Como a MSGÁS avalia esse cenário?
Cristiane Schmidt 
Essa é uma questão ampla. O Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) foi projetado nos anos 2000, em um período de crise hídrica, quando o planejamento energético brasileiro passou a priorizar termoelétricas a gás natural. Naquele momento, o Brasil importava cerca de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia da Bolívia. Com o passar do tempo, as reservas bolivianas começaram a declinar, principalmente pela falta de investimentos. Hoje, o Brasil importa cerca de 13 milhões de metros cúbicos por dia. Isso impacta diretamente a arrecadação do ICMS, porque o imposto fica no Estado onde está o CNPJ do importador. Quando o volume importado cai, a arrecadação também diminui. O governo do Estado tem feito um trabalho importante ao atrair comercializadores de gás natural para se instalarem em Mato Grosso do Sul, garantindo que o ICMS continue sendo recolhido aqui. É importante esclarecer que a MSGÁS não depende de recursos do Estado. Nós geramos receita própria, cobrimos nossos custos e ainda repassamos dividendos ao governo, que podem ser utilizados em áreas como saúde, educação e infraestrutura.

A expansão da rede de gás canalizado é uma expectativa do setor produtivo. Quais regiões devem receber novos investimentos?
Cristiane Schmidt 
Estamos entrando em uma nova fase da MSGÁS, com desafios muito relevantes. A partir de janeiro de 2026, iniciaremos a construção de um gasoduto de 125 quilômetros até Inocência, com entrega prevista para julho de 2027, para atender a nova fábrica de celulose da Arauco.

Existe também uma expectativa de implantação de outro gasoduto, com cerca de 120 quilômetros, até Bataguassu, para atender a Bracell. Ainda não há nada fechado, mas trabalhamos com essa possibilidade. Além disso, estamos com um projeto para Dourados. Inicialmente, será implantada uma rede local de cerca de 30 quilômetros no município, com foco em atender clientes e explorar o potencial do biometano, que é forte na região. O biometano é estratégico, especialmente para empresas exportadoras, que precisam reduzir sua pegada de carbono. Como o biometano e o gás natural possuem a mesma molécula, eles podem circular na mesma rede, o que amplia nossas possibilidades de atendimento.

A MSGÁS obteve autorização para importar até 150 mil metros cúbicos por dia de gás natural na Argentina. Como essa operação deve funcionar e quais os benefícios dessa autorização?
Cristiane Schmidt
 A decisão de solicitar essa autorização veio do entendimento de que a MGÁS, como distribuidora, poderia pedir permissão para importar e também atuar como comercializadora, mesmo sem ter, naquele momento, uma oportunidade concreta. Eu resolvi enfrentar a burocracia para pedir essa autorização porque ela não é simples. O processo leva meses, com envio e retorno de documentação, e demorou cerca de quatro a cinco meses. A ideia foi estar preparada. Eu não queria deixar para pedir a autorização apenas quando surgisse uma oportunidade concreta. Hoje, ainda não temos uma operação definida, mas temos estudos em andamento. Ao longo de 2026, vamos aprofundar esses estudos para que, quando surgir uma oportunidade, a empresa esteja pronta para aproveitá-la. É como surfar uma onda gigante: quando ela vem, você precisa estar preparado para descer.

A Assembleia Legislativa aprovou o aumento do limite de endividamento da empresa, de R$ 70 milhões para R$ 350 milhões. Como esses recursos devem ser utilizados?
Cristiane Schmidt
 É importante esclarecer que esse valor estava defasado do ponto de vista monetário. O que fizemos foi basicamente uma correção inflacionária. Não houve um aumento real expressivo, mas uma atualização do que aqueles R$ 70 milhões representavam no passado. A MSGÁS é uma empresa com baixo nível de endividamento e, muitas vezes, tomar crédito é mais vantajoso do que utilizar recursos próprios, inclusive por questões tributárias. Temos pela frente dois grandes desafios. Um deles é concreto, que é o projeto da Arauco, que deve demandar investimentos próximos de R$ 200 milhões. O outro é a possibilidade de implantação de um projeto semelhante em Bataguassu. A ideia é estar preparada para esses investimentos. Já estruturamos a possibilidade de contratação de financiamento via Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), que é uma das linhas mais baratas do mercado. A expectativa é captar cerca de R$ 100 milhões inicialmente e, dependendo do cenário de 2026, buscar novos financiamentos em 2027. Caso Bataguassu se concretize, pode ser necessário ampliar esse volume. É importante destacar que Mato Grosso do Sul tem uma característica diferente de outros estados. A área territorial é muito grande, com baixa densidade populacional. Construir infraestrutura aqui tem o mesmo custo que em estados mais densos, mas atende menos pessoas.

Quais são as prioridades da empresa para 2026?
Cristiane Schmidt 
Em 2026, teremos três grandes prioridades. A primeira é o mercado livre, que hoje representa praticamente zero do nosso volume, mas deve passar a responder por quase 90%. A segunda é o avanço do biometano, com projetos em aterros e em parceria com empresas que já estão produzindo. E a terceira é a descarbonização das frotas. O gás natural e o biometano são fundamentais nesse processo de transição energética. O Estado tem a meta de descarbonizar até 2030, e a MSGÁS quer contribuir ativamente para esse desenvolvimento econômico sustentável.