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Citricultura avança em MS com meta de 100 mil hectares e novos projetos

Estado intensifica políticas sanitárias, amplia investimentos logísticos e atrai projetos privados enquanto estrutura a base produtiva

Meta do governo estadual é chegar a 100 mil hectares plantados até 2030 em Mato Grosso do Sul. Foto: Divulgação.
Meta do governo estadual é chegar a 100 mil hectares plantados até 2030 em Mato Grosso do Sul. Foto: Divulgação.

Mato Grosso do Sul projeta um dos movimentos de maior avanço agrícola do país para a próxima década com a citricultura. A administração estadual trabalha para consolidar, até 2030, 100 mil hectares plantados de laranja, volume equivalente a cerca de 30% da área atual do principal polo nacional, São Paulo. A estimativa considera 35 mil hectares já captados para implantação e mais de 40 mil hectares planejados nos próximos ciclos, em um ambiente sustentado por logística em expansão, legislação sanitária rígida e estímulos fiscais direcionados à formação de pomares.

O tema foi tratado no MS Citrus Summit, realizado em Três Lagoas entre os dias 10 e 11 de dezembro, que reuniu produtores, executivos, pesquisadores e representantes de indústrias em processo de expansão no centro-oeste. O encontro consolidou o debate sobre a nova fronteira da citricultura no Brasil e a posição estratégica do Estado em um mercado global pressionado por queda produtiva em polos tradicionais e por aumento de consumo em regiões como a Ásia.

Com mais de 15 mil hectares já em produção e cerca de 7 milhões de mudas implantadas, a cultura avança de forma dispersa no território sul-mato-grossense. O governo estadual avalia que o setor se apoia em fatores estruturantes como clima, disponibilidade hídrica, fiscalização ativa e carteira crescente de projetos financiados por linhas voltadas à irrigação e implantação de pomares.

Durante o evento, o governador Eduardo Riedel (PP), destacou que 70% do suco de laranja consumido no mundo é brasileiro e que São Paulo enfrenta limitações sanitárias, o que abre espaço para novos polos. A avaliação é que uma combinação de infraestrutura, ambiente regulatório e segurança sanitária cria o cenário para a industrialização futura. Iniciativas logísticas consideradas estratégicas incluem a retomada ferroviária, concessões rodoviárias e perspectivas de integração com a rota bioceânica.

O Estado analisa ainda que a diversificação trazida pela citricultura não concorre com cadeias como grãos ou pecuária. As áreas agrícolas ampliadas na última década, somadas ao incremento de produtividade nos sistemas pecuários, indicam capacidade de expansão simultânea. A estratégia é consolidar um leque produtivo menos dependente de poucas culturas e orientado à industrialização no território sul-mato-grossense.

Diretrizes
O MS Citrus Summit estruturou debates sobre sanidade, fiscalização, ambiente regulatório, produtividade e desafios operacionais. A programação contemplou capacitação técnica, atualização sobre defesa agropecuária e análise das estratégias para evitar a disseminação de pragas, com foco no greening. A legislação estadual, conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, estabelece tolerância zero à doença e ao hospedeiro murta, com retirada imediata de plantas contaminadas ou irregulares e fiscalização de transporte de mudas.

A presença de indústrias de grande porte, incluindo projetos em implantação no eixo leste do Estado, foi apontada como essencial para garantir escala, viabilidade e estabilidade comercial aos pequenos e médios produtores. O governo avalia que grandes grupos funcionam como âncora para contratos, compra da produção e estruturação de cadeias regionais.

Desafios para consolidação do setor

O avanço da citricultura enfrenta obstáculos logísticos, sanitários e de mão de obra. O ambiente de pleno emprego no Estado pressiona disponibilidade de trabalhadores para implantação e manejo dos pomares, assim como também corre na silvicultura. A estratégia discutida, conforme Jaime Verruck, inclui mecanização crescente, retenção da mão de obra indígena que atualmente migra para colheitas em outros estados e atração de famílias por meio de programas de habitação e serviços urbanos.

A sanidade é tratada pelo governo de Mato Grosso do Sul como elemento central para a expansão da citricultura no Estado. A política de tolerância zero ao greening, segundo Verruck, exige monitoramento contínuo e remoção imediata de plantas com suspeita de contaminação. O transporte de mudas, alvo de fiscalização intensa, foi citado como fator determinante para evitar perda de produtividade e impactos econômicos.

A expansão também depende de financiamento. Linhas do FCO (Fundo Constitucional do Centro Oeste) têm priorizado projetos de citricultura e irrigação, mantendo o ritmo de implantação. O tributo para saída de laranja in natura foi reduzido para estimular formação de pomares, enquanto a primeira indústria não entra em operação plena no Estado. Após a consolidação da base industrial, o incentivo tende a ser revisto para retenção da produção local.

Parceria com a Citrosuco impulsiona nova frente produtiva em Três Lagoas

Um dos projetos de citricultura de maior escala anunciados para os próximos ciclos em Mato Grosso do Sul é liderado por Jamil Buchalla Filho, que estruturou uma parceria com a Citrosuco, uma das maiores processadoras de laranja do mundo. O movimento marca a transição de áreas tradicionalmente voltadas à pecuária para uma nova matriz agrícola.

Buchalla relatou que as negociações com o governo estadual foram iniciadas há dois anos, em um momento de avanço da silvicultura e necessidade de redefinição produtiva em propriedades de Três Lagoas. A decisão foi direcionada à citricultura diante das perspectivas de mercado, da atratividade logística e do alinhamento com grupos industriais já operantes no país.

O projeto prevê o plantio de laranja em 5 mil hectares em etapas distribuídas em dois anos e meio. A execução inicial envolve abertura de áreas, preparo de solo, instalação de pivôs e montagem de toda a infraestrutura de suporte. O plantio já está em andamento. A expectativa é de que a escala do empreendimento contribua para o fortalecimento da cadeia citrícola regional e para a ampliação do número de fornecedores vinculados às indústrias do setor.

A perspectiva de instalação de uma unidade de processamento da Citrosuco em Mato Grosso do Sul é considerada possível em horizonte de médio prazo. A avaliação é de que o aumento da produção regional será determinante para decisões de investimento industrial. Para Buchalla, a consolidação de pomares em Mato Grosso do Sul tende a criar condições favoráveis para uma planta futura.

O projeto localizado no Distrito de Arapuá, em Três Lagoas, deve gerar aproximadamente 700 empregos na fase operacional completa, reforçando o impacto da citricultura na contratação de trabalhadores e na diversificação econômica do município.