
Autêntica referência da hotelaria sul-mato-grossense, a Pousada do Bosque nasceu do dinamismo empreendedor de Maria Helena Teixeira Moreira (Heleninha) e de seu marido, Eraldo Saldanha Moreira. O casal a construiu em pouco mais de dois anos, período de tempo bastante curto em face das dificuldades existentes na época, quando a cidade de Ponta Porã sequer era ligada ao restante do estado por estrada asfaltada.
Porém, o cuidadoso planejamento e a boa vontade dos trabalhadores superaram questões como a provisão de material, tornando possível uma obra daquela dimensão, com seus quatro mil m² construídos nos largos espaços da área então disponível, fração de um sítio adquirido em 1940 pelo pai de Eraldo, o deputado federal Aral Moreira, que lá construiu sua residência.
O hotel – cuja área ocupa atualmente 30 mil m² – sempre atraiu gente interessada em desfrutar de caminhadas para apreciar o cantar de passarinhos e as correrias de quatis e macacos por entre as floradas de árvores nobres como ipê e jacarandá, e de frutíferas como ingá e jatobá. Foi o próprio Aral Moreira que se encarregou, ao modo de lazer, de reflorestar boa parte de seu patrimônio com mudas de plantas originárias da região, adensando o bosque cortado pelas águas do córrego que é um dos formadores do outrora caudaloso rio São João, o principal da cidade.
Inaugurado em 1º de setembro de 1976, o hotel teve sucesso imediato. O espírito festivo e participativo de seus proprietários logo fizeram dele um palco para formidáveis eventos. Todos vinham se encontrar no Pousada do Bosque, e referiam-se a ele com prazer, sabendo que não havia nada parecido na região.
Desta forma, aconteceram inesquecíveis festas, casamentos, aniversários, desfiles de moda, apresentações musicais, vernissages com pintores de renome e lançamento de livros. Seu Piano Bar vivia lotado, e não apenas nos fins-de-semana, pois era o tempo em que as bebidas importadas davam um toque especial de glamour à fronteira. Os jantares prolongavam-se madrugada afora, amigos realizavam confraternizações com intermináveis conversas, embalados pelo clima acolhedor que emanava do local. Campeonatos esportivos de tênis e futebol society tornaram-se lendários, eram programações obrigatórias que reuniam, principalmente, gente da sociedade da capital do estado e do vizinho, Paraguai.
Enormes tendas eram armadas nos gramados, para que grandes proprietários apresentassem seus melhores animais em leilões, os quais marcaram época pelo volume negociado e pela cordialidade dominante. Sua pequena e acolhedora sala de reuniões sempre foi muito disputada e abrigou dezenas de palestras técnicas. Políticos de renome, como o deputado federal pernambucano Fernando Lyra, costumavam ficar hospedados na Pousada, além de personalidades do mundo artístico que visitaram Ponta Porã, como o cantor Roberto Carlos e beldades que chamavam a atenção, caso da modelo carioca Monique Evans.
Sem exageros, a Pousada do Bosque sempre foi mais que um hotel, procurado por hóspedes em busca de descanso e de uma rica alimentação em estilo colonial, como era o feitio da construção e a proposta do empreendimento. Mas as qualidades da Pousada não param por aqui. O local foi, para muitos, um refúgio romântico e fonte de história, como uma questão de orgulho pessoal para quem saía de lá com uma palpável sensação de que algo a mais havia enriquecido sua existência.
Ao completar quarenta anos o hotel começa a reescrever sua própria história.
Uma cuidadosa repaginação foi levada a efeito, estabelecendo-se através do reaproveitamento do arcabouço original um novo conceito na forma de recepcionar seus hóspedes.
Das três alas destinadas à hospedagem – que comportam 70 apartamentos e 2 suítes – duas delas tiveram suas obras iniciadas em fevereiro de 2015, quando procedeu-se a uma completa troca de telhados, pisos, portas e janelas. Os responsáveis pelo trabalho se maravilharam com a qualidade das perobas utilizadas na estrutura que suportava a cobertura: vigas, ripas e caibros permaneceram intactos durante todos estes anos, o que levou a arquiteta responsável, Lolita Azambuja e a artista plástica Andréa Queiroz Alves, a optarem pela reutilização da maior parte do material original existente.
Assim, retiraram-se meticulosamente as camadas de tinta dos tijolos da grande estrutura – de qualidade e tamanho acima do padrão – obtendo-se, ao final, uma tonalidade natural de bela aparência. Portas e janelas foram utilizadas na decoração do teto interno do novo saguão, enquanto os forros de cedro dos aposentos – que também tinham camadas de tinta – receberam tratamento para serem aproveitados como painéis nas cabeceiras das novas e confortáveis camas dos apartamentos. Poderia ser mais econômica a aplicação de materiais modernos, como MDF – placa de fibra de madeira de baixa densidade – mas a qualidade e espessura das madeiras nobres mereceram atenção especial na redecoração. O mesmo processo foi utilizado nos criados-mudos e cômodas de madeira maciça que servem às habitações.
Antigos pilares de peroba entalhada vieram para o hall, para sustentar uma estante cujas prateleiras receberão objetos decorativos, enquanto duas enormes pranchas – também de peroba – que serviam na recepção, passaram para o balcão do novo restaurante. Este, aliás, é um item que merecerá especial atenção dos proprietários de agora em diante, pois pretendem atrair outros frequentadores, além de seus hóspedes normais. Para isso, outro módulo foi construído, no qual se instalou uma moderna cozinha; também foram recuperadas dezenas de cadeiras e mesas de madeira, tudo para revigorar a qualidade de um local que chegou a atender seus comensais no passado com guardanapos de linho, pratos estilizados e pesados talheres de liga de alpaca.
O local onde ficava o antigo restaurante passará, numa última etapa da obra, por uma reformulação que o transformará num espaçoso centro de convenções, com mais de mil m² e capacidade para 500 pessoas confortavelmente instaladas.
Menciona-se, ainda, o tratamento dado ao piso de todo o hotel: tudo foi amplamente impermeabilizado, tanto por dentro como por fora da edificação, Além de ter sido instalado um moderno sistema que insufla ar permanentemente, impedindo a disseminação de umidade numa área com a presença de tantas paisagens verdes. Verde esse que se espalhou em forma de fotografias ampliadas pelos corredores dos apartamentos, em composições agradáveis que embelezam ainda mais a hospedagem.
Um belo tom de oliva escuro predomina na fachada externa e no pórtico de entrada do hotel. Renovado seu encanto, o Hotel Pousada do Bosque está pronto para proporcionar, pelo menos, mais quarenta anos de beleza, tranquilidade e prazer.