A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros importados preocupa setores da economia nacional. Um dos mercados mais afetados deve ser o da carne bovina, cujas exportações para o país norte-americano vinham crescendo nos últimos anos.
Para entender os impactos da medida, o RCN Notícias, da Rádio Cultura FM de Aparecida do Taboado (MS), entrevistou Diego Magnabosco, diretor de Vendas do frigorífico Frigosul, instalado no município. Segundo ele, apesar da surpresa com a decisão, o setor já avalia os possíveis desdobramentos e aposta na realocação da produção para outros mercados.
“Como ainda é muito recente, o setor ainda tenta analisar os impactos dessa notícia. Todos foram pegos de surpresa, não esperavam a taxação sobre os produtos brasileiros, e especificamente sobre a carne”, afirmou.
Segundo Magnabosco, a carne brasileira tem conquistado espaço no mercado norte-americano devido à escassez de proteína naquele país. No entanto, ele lembra que os EUA operam com uma cota anual de 60 mil toneladas de carne brasileira isenta de imposto. Essa cota, geralmente esgotada rapidamente, foi totalmente consumida já em março de 2025. A partir desse volume, passa a valer um imposto de 20%, o que já impactava o custo do produto.
Agora, com a nova medida anunciada por Trump, o setor tenta entender como absorver os efeitos no curto e médio prazo. “Num primeiro momento deve vir um percentual dessa carne para o mercado interno e isso deve pressionar os preços para baixo. No entanto, o setor entende que, para o mercado da carne, isso não será uma tragédia”, declarou. “Vai haver uma acomodação. Esse volume de carne deve ser recolocado em outros mercados além do brasileiro (interno), portanto deve haver uma pressão, mas nada que venha a travar o mercado da carne”.
Impactos limitados e sem risco de demissões
As exportações brasileiras de carne somam cerca de 250 mil toneladas por mês, das quais 15 mil são destinadas aos Estados Unidos — o que representa apenas 6% do total exportado, e cerca de 2,5% da produção nacional.
“Ele [o mercado dos EUA] causa um impacto sim, mas não creio em desempregos. Creio que o preço vai se ajustar um pouquinho pra baixo e todo o mercado interno e externo vai absorver esse volume, porque não é um volume que causaria um impacto, por exemplo, de ter que tomar uma decisão de fechar uma planta frigorífica”, ponderou Diego.
Ele destacou que alguns estados, como Goiás, podem sentir mais os efeitos da taxação por concentrarem frigoríficos com forte presença no mercado americano.
Frigosul não exporta para os EUA e projeta expansão
A unidade do Frigosul em Aparecida do Taboado exporta atualmente 40% da sua produção, mas não atua no mercado norte-americano. O principal destino da carne da planta é a China. O grupo, que possui clientes em cerca de 30 países, está em fase de expansão da presença internacional.
“Estamos exportando para o Uruguai, para o Chile, estamos aumentando a exportação no Oriente Médio, para Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argélia”, explicou. Segundo o diretor, a planta está recebendo investimentos e ampliando sua capacidade produtiva. “Saímos de um abate de 500 animais para 700, agora estamos fazendo um segundo passo pra passar a 900 animais”.
Ele também informou que frigoríficos de Mato Grosso do Sul que exportam para os EUA já enfrentam cancelamentos de contratos, forçando uma reorientação da produção para outros mercados.
“Se fosse a China, o impacto seria maior”
Magnabosco destacou que o impacto da medida seria muito mais grave caso viesse da China, principal parceira do Brasil no setor de carnes, responsável por cerca de 50% das compras externas. “Mas em relação aos EUA, é a perda de um cliente, e isso nunca é positivo”.
Ele explicou que a taxação ocorre em um momento delicado para o setor, com o fim da safra e aumento da oferta de gado devido à estiagem. Essa conjuntura já pressiona o preço do boi, atualmente em torno de R$ 310,00. Com o novo cenário, Diego estima uma possível queda entre 5% e 10% nos preços.
ABIEC pede reação diplomática
Como membro do conselho da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Diego informou que a entidade está realizando reuniões para entender o cenário e pedir ao governo a melhor condução das negociações para discutir a situação. “A ABIEC enxerga o mercado americano como crescente para a carne brasileira e, portanto, não pode ser perdido”, afirmou. “Agora é botar o governo pra negociar, entender os reais motivos da taxação. A orientação da ABIEC é de união, de reconciliação e de retomada do mercado americano”.
Perspectivas para a pecuária brasileira
Por fim, Diego demonstrou confiança no futuro da pecuária nacional, que passou de um modelo extensivo para intensivo, com foco na produtividade.
“Acreditem na pecuária. Temos visitado alguns grandes parceiros que temos no estado. Tem gente já tirando soja embaixo do pivô e colocando boi. Por isso, a gente crê que o boi mudou o patamar de 35 dólares para 55 a 60 dólares, o que viabiliza hoje tanto a pecuária a pasto quanto a pecuária em confinamento”, afirmou. Segundo ele, a expectativa é de que mercados como Japão e Coreia do Sul passem a importar carne brasileira, o que deve garantir estabilidade ao setor. “Quem está com projeto de pecuária pode tirar da gaveta e investir, porque a gente acredita muito nesse mercado”, concluiu.
Assista a entrevista ao RCN Notícias: