Os Estados Unidos classificaram as gangues equatorianas, Los Choneros e Los Lobos, como Organizações Terroristas Estrangeiras (FTO) e Terroristas Globais Especialmente Designados (SDGT).
A decisão, anunciada nesta quinta-feira (4) durante coletiva no Palácio de Carondelet (sede do governo equatoriano), em Quito, prevê bloqueio de bens, restrições de acesso ao sistema financeiro e ampliação do compartilhamento de inteligência com o governo equatoriano.
O secretário de Estado, Marco Rubio, informou ainda um pacote de US$ 13,7 milhões para ações de combate a drogas e crime e US$ 6 milhões em drones para a Marinha do Equador.
Também foram citadas negociações para modernizar o tratado de extradição e estudar, a convite de Quito, formas de cooperação militar para treinamento e operações conjuntas.
“Sem segurança, não há progresso econômico. Nossa prioridade é ajudar o Equador a enfrentar ameaças de narcoterrorismo, cortar financiamento e fortalecer a governança”, afirmou Rubio.
Ele acrescentou que a designação permite “ir atrás do dinheiro, das propriedades e do uso do sistema bancário por pessoas ligadas a esses grupos” e amplia o escopo de inteligência que os EUA podem compartilhar com autoridades equatorianas.
A ministra de relações exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, disse que o país busca acelerar a cooperação em controle de fronteiras, combate à lavagem de dinheiro e mineração ilegal, além de avançar em barreiras comerciais e em discussões com o FMI.
“Queremos relações seguras e prósperas, livres de ameaças de organizações criminosas e terroristas”, afirmou.
Contexto regional
A ofensiva norte-americana ocorre em meio ao aumento da violência no Equador e ao fortalecimento de alianças entre Washington e governos sul-americanos. O movimento também reflete o interesse estratégico dos EUA na região, vista como prioridade geopolítica diante do avanço de grupos criminosos e da influência de outras potências, como a China.
Secretários norte-americanos já chegaram a se referir publicamente à América Latina como “quintal” dos Estados Unidos, expressão polêmica que traduz a importância atribuída ao continente por Washington.
O que muda com a designação
- Sanções e bloqueios: bens e ativos vinculados às facções e a associados podem ser congelados no sistema financeiro dos EUA.
- Mais cooperação de inteligência: o status de FTO/SDGT facilita o intercâmbio de informações sensíveis para ações das autoridades equatorianas.
- Pressão internacional: entidades e indivíduos que transacionarem com os grupos passam a enfrentar maior risco de sanções.
Quem são os grupos
- Los Choneros — Formada no fim dos anos 1990 em Chone (região oeste do país), chegou a ser a maior organização do país, com ligações ao Cartel de Sinaloa e células colombianas. Opera tráfico marítimo, extorsão e homicídios por encomenda. Mantém forte presença em presídios e travou guerra com rivais nos últimos anos. Em julho, o líder “Fito” Macías foi extraditado ao território norte-americano.
- Los Lobos — Surgiu como dissidência dos Choneros e opera como federação com outras gangues. É associada a massacres em presídios, uso de carros-bomba, ataques coordenados a forças de segurança e exibição de cadáveres como intimidação. Atua no transporte de cocaína para EUA e Europa.
As autoridades norte-americanas afirmam que os dois grupos ameaçam e atacam agentes públicos, magistrados, jornalistas e civis, com o objetivo de controlar rotas do narcotráfico.
Próximos passos e temas em discussão
Além das medidas de segurança, a agenda bilateral inclui negociações comerciais, apoio a programas do FMI e modernização de instrumentos jurídicos, como o tratado de extradição.
Rubio indicou que novas designações na região estão em avaliação. Sommerfeld ressaltou que o combate ao crime organizado “exige coordenação contínua” e apoio tecnológico.