O professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial, Carlos Primo Braga, esteve em Campo Grande e falou sobre os desafios do Brasil e da economia mundial.
Em entrevista à Massa FM Campo Grande, ele analisou o impacto dos juros elevados, os riscos do endividamento público, o papel dos empresários e as transformações geopolíticas que afetam o comércio internacional.
Inflação controlada, mas juros em alta
Segundo Braga, o Banco Central brasileiro foi um dos primeiros a reagir à inflação pós-pandemia, mas o país convive hoje com uma das maiores taxas de juros reais do mundo. A Selic, em 15%, gera efeitos de desaceleração e pressiona investimentos.
“O Brasil trabalha com uma taxa neutra de juros real de 5% a 5,5%. Hoje estamos bem acima disso, o que torna o crédito restritivo e trava a economia”, explicou.
Dívida pública preocupa o mercado
O economista alertou para o crescimento da dívida bruta brasileira, que deve encerrar 2025 próxima de 90% do PIB. “Quando países em desenvolvimento ultrapassam 60%, o sinal de alerta já toca. Não somos a Argentina, mas a trajetória é preocupante”, afirmou.
Braga lembrou que cada 1% adicional da Selic significa R$ 50 bilhões a mais de custos com a dívida.
Desafios para empresários
Questionado sobre como o empresariado pode agir em meio à instabilidade, Braga apontou que incertezas — os chamados “cisnes negros” — exigem preparação. Ele citou três características de empresas resilientes no Brasil: investimento em inovação, atenção a boas práticas internacionais e solidez financeira.
“O ambiente de negócios brasileiro é hostil. Cumprir obrigações tributárias pode consumir até 1.600 horas por ano de uma pequena empresa. Por isso, quem sobrevive costuma estar atento às transformações globais e mantém equilíbrio financeiro”, destacou.
Cenário internacional instável
Braga também analisou o cenário global. Para ele, o crescimento mundial deve girar em torno de 3% em 2025, mas as tensões geopolíticas — da guerra na Ucrânia à disputa comercial entre Estados Unidos e China — adicionam incerteza.
“A China já responde por 17% do PIB global e impacta diretamente economias emergentes. O risco é de um ciclo de protecionismo que paralise o comércio”, avaliou.
Produtividade como calcanhar de Aquiles
O professor chamou atenção para a baixa produtividade brasileira. Enquanto o agronegócio cresce 4% ao ano, a produtividade geral da economia avança apenas 1% desde a década de 1980.
“Produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. Sem avanços em educação e ambiente de negócios, o Brasil terá dificuldade de sustentar crescimento”, disse.
Oportunidades e riscos para o futuro
Apesar do pessimismo, Braga ressaltou que o Brasil ainda é uma das maiores economias do mundo, com mais de US$ 2 trilhões de PIB e população superior a 200 milhões. Contudo, os gargalos de capital humano e a informalidade, que atinge 40% da força de trabalho, limitam o desenvolvimento.
“Temos oportunidades, mas precisamos investir em gente. Quase 30% da nossa força de trabalho é analfabeta ou semianalfabeta, num mundo cada vez mais digital. Sem resolver isso, continuaremos presos à baixa produtividade”, alertou.
Confira a entrevista na íntegra: