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ESPECIAL

Juventude de Campo Grande se divide entre o desejo de ficar e o sonho de partir

Estagnação da população jovem acende alerta sobre futuro da capital e pressiona por mais oportunidades de trabalho e lazer

Vista área de Campo Grande - Foto: Reprodução/Prefeitura de CG
Vista área de Campo Grande - Foto: Reprodução/Prefeitura de CG

No aniversário de 126 anos de Campo Grande, a reportagem especial da Massa FM Campo Grande volta o olhar para a juventude. Como os jovens enxergam a capital? Quais os motivos que os fazem permanecer e quais as razões que alimentam o desejo de partir?

A capital sul-mato-grossense tem hoje 897.938 habitantes, segundo o Censo 2022, e se consolidou como o 13º maior centro urbano do Brasil. Apesar desse crescimento, os dados do IBGE mostram que a juventude não acompanha o mesmo ritmo.

Estagnação demográfica preocupa especialistas

Segundo o IBGE, em 2010 Campo Grande tinha mais de 143 mil jovens entre 15 e 24 anos. Doze anos depois, esse mesmo contingente, que deveria aparecer como adultos na faixa de 25 a 34 anos, praticamente se manteve estável, com pouco mais de 142 mil pessoas.

O movimento indica uma retenção parcial, mas também sinaliza que parte dessa juventude acaba deixando a cidade ao ingressar no mercado de trabalho.

Para o professor de Geografia Luiz Fernando Cenora, o dado representa um alerta para o futuro da capital:

“A cidade de Campo Grande em termos demográficos apresenta uma estagnação de jovens e um envelhecimento. Agora, sendo a capital da rota bioceânica, há uma demanda de investimentos em infraestrutura, de qualificação de mão de obra e de ampliação de moradia. Isso gera uma perspectiva positiva de desenvolvimento, mas também uma apreensão: será que a cidade terá estrutura para absorver essa pressão de crescimento?”

Ele reforça que o título de 13º maior centro urbano do país deve vir acompanhado de planejamento:

“Campo Grande hoje é o 13º maior centro urbano. É a principal cidade e centro de referência no estado e um pouco além da fronteira. Essa dinâmica de fluxo de pessoas proporcionou essa representação de ser a 13ª maior cidade em termos de desenvolvimento urbano. Mas esse crescimento precisa ser pautado, respeitando o plano diretor, para não ser ainda mais desorganizado, que é uma característica do Brasil.”

Qualidade de vida como atrativo

Se os dados preocupam, a percepção de parte dos jovens é positiva. Muitos destacam o acolhimento e a qualidade de vida que encontram na capital. O profissional de Recursos Humanos Gabriel Ruiz Freitas resume esse sentimento:

“Acho que Campo Grande tem uma boa qualidade de vida por conta do que remete propriamente a uma cidade pequena, o aconchego, as oportunidades. Tem muita oportunidade de emprego, muita oportunidade de crescimento também, projeção enquanto serviço. Isso acaba contribuindo para que tenha uma excelente qualidade de vida.”

Falta lazer e cultura para segurar a juventude

Mas nem todos compartilham dessa visão. O estudante de Engenharia de Software da UFMS, Rudimar Neves, afirma que a capital ainda carece de opções de lazer e cultura:

“Um ponto que eu penso que a cidade peca muito é a questão dessa parte de lazer, de cultura e esporte. A cidade muitas vezes na questão de lazer é muito morta. Tem poucas opções de lugares que ficam abertos para você querer sair à noite. Esporte tem algumas praças boas, mas eu acho que poderia ser ainda melhor.”

Carnaval 2025 em Campo Grande – Foto: Divulgação/Prefeitura de CG

O dilema do mercado de trabalho

Outro ponto que pesa é a oferta de empregos. Setores tradicionais oferecem vagas, mas áreas emergentes ainda são limitadas. O estudante de Engenharia de Computação da UFMS, Caio Miguel Darzi, vive essa realidade:

“Na área em específico, que eu sou da área de tecnologia, eu acho que não tem muitas opções. Eu trabalho remotamente em uma empresa em São Paulo. Então eu acho que poderia ter mais opções na área de tecnologia. Acho que seria um motivo para eu ir para uma capital maior.”

O futuro em disputa

As pirâmides etárias de 2010 e 2022 mostram que Campo Grande não perdeu massivamente seus jovens, mas também não conseguiu ampliar esse contingente. O resultado é um quadro de estabilidade, que somado ao envelhecimento populacional, pressiona a capital a criar mais alternativas para sua juventude.

“A cidade precisa estar preparada para esse cenário do século XXI. Já existem sinais de envelhecimento no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, uma estagnação da faixa de 15 a 29 anos. O desafio de Campo Grande é oferecer qualificação, oportunidades e qualidade de vida suficientes para que seus jovens não apenas cresçam aqui, mas escolham construir seu futuro na própria capital.”