
Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revelam que o volume de consumidores com restrição no CPF cresceu 4,31% na comparação entre julho e o mesmo período do ano anterior. No total, o país encerrou o mês passado com 63,4 milhões de negativados – quantidade equivalente a quase toda a população da Itália. De acordo com o SPC Brasil, os atrasos em contas, como água e luz, lideraram a alta. Ou seja, a conta que está deixando de ser paga é aquela ligada aos serviços básicos, e isto revela que o brasileiro está com o orçamento apertado. Na segunda fila dos itens do prego aparecem as dívidas bancárias, incluindo cartão de crédito, cheque especial, empréstimos, financiamentos e seguros. Sair desta situação exige controle e determinação, como orienta o economista Marçal Rogério Rizzo.
Jornal do Povo – O brasileiro perdeu o controle das dívidas?
Marçal Rogério Rizzo – Estamos presenciando que o Brasil está passando por sérios problemas em sua economia. Nunca em sua história, teve tantos inadimplentes. Este panorama catastrófico começou com a crise de 2008, momento que as autoridades econômicas do Brasil adotaram estratégias de aquecimento da economia, manutenção de empregos e aumento do consumo, a partir de concessão de crédito ao consumidor. Isso propiciou aos brasileiros a aquisição de bens, como automóveis, eletrônicos, eletrodomésticos e até mesmo a casa própria e, isso comprometeu parte considerável da renda familiar e posteriormente a inadimplência.
JP – Casos inesperados, como o desemprego, por exemplo, não interferem?
Marçal – Sim, isso pode se tornar um drama familiar. Quando um membro da família perde o emprego possivelmente haverá desequilíbrio nas finanças familiar . Outro fator impactante é quando algo que traz aumento dos gastos em casa, como uma doença. Por isso, é preciso manter uma margem de segurança, uma reserva gastando menos do que ganha ou contar com alguém que possa emprestar dinheiro numa situação de emergência, do contrário terá problemas com a inadimplência.
JP – Qual é o comportamento ideal para o consumidor que precisa comprar a prazo?
Marçal – O ideal é sempre estar equilibrado financeiramente mantendo as contas em dia. Ter em mente o que é realmente prioritário como água, luz e aluguel é outra estratégia necessária para não se perder. Outra dica é sempre colocar numa planilha ou em uma folha todas as receitas e as despesas, dessa forma poderá enxergar onde está gastando a mais do que deveria e onde estão os gastos prioritários e supérfluos, assim facilitará a tomada de decisão para enxugar os gastos desnecessários. Deve lembrar que contas a prazo um dia vence e terá que pagar. Dividir a conta em muitas vezes certamente estará pagando muito juros.
JP – O ideal é poupar, economizar, pesquisar preços e controlar gastos?
Marçal – Poupar parte do salário seria o ideal, mas é um ponto que está cada vez mais difícil e distante da realidade econômica brasileira, justamente por não termos essa tradição e cultura da poupança e permanecermos a todo momento priorizando o consumo. Poupar com o destino do dinheiro previsto pode se tornar um ponto de apoio ao não endividamento. Sabendo para onde irá o dinheiro haverá mais motivação para poupar. Pesquisar preços é uma sábia atitude. Existem diferenças gritantes nos preços de qualquer produto, dessa forma uma pesquisa de preços se faz necessário e é sempre certeza de economia.
JP – O que é melhor, compra à vista ou a prazo?
Marçal – Hoje já está sendo comum encontrarmos diferenças nos preços à vista ou a prazo, especialmente nos parcelados em mais vezes. Outra atitude que deve estar presente nas compras é a negociação. Ter o dinheiro pra pagar à vista dá ao consumidor poder de negociação para conseguir desconto. O dinheiro está curto, e receber à vista traz vantagens para quem está vendendo, além de eliminar possíveis taxas de cartão de crédito que o comerciante paga.
JP – Qual a maior, ou as maiores armadilhas financeiras?
Marçal – Temos que evitar de ter conta em vários bancos para não pagar muitas taxas de manutenção da conta. Fugir do uso excessivo de cartão de crédito. Se conseguir não usar o cartão de crédito melhor ainda. Jamais pagar somente o mínimo da fatura do cartão de crédito. Não deixar de negociar descontos nas compras à vista e pagas em dinheiro. Evitar compras por impulso, supérfluas e desnecessárias. Estar atentos as falsas promoções e liquidações.