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ECONOMIA & AGRONEGÓCIO

Crédito Rural, uma ferramenta escassa e mais cara: Instituições financeiras mais rígidas na concessão de recursos

Gerentes de instituições financeiras apresentaram o portfólio de soluções de crédito disponíveis no Plano Safra 2025/2026, que conta com recursos da ordem de R$ 516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial

Produtores e representantes de instituições financeiras discutiram crédito rural durante Dia de Campo em Paranaíba. Foto: Divulgação
Produtores e representantes de instituições financeiras discutiram crédito rural durante Dia de Campo em Paranaíba. Foto: Divulgação

O Sindicato Rural de Paranaíba, em parceria com o programa Rural Sustentável -Cerrados, realizou no último sábado um Dia de Campo na propriedade do senhor Nilo Ferraz, com uma oficina sobre Crédito Rural que reuniu produtores rurais e gerentes de instituições financeiras.

Nos depoimentos, destacaram-se as dificuldades enfrentadas nos últimos anos pelos produtores e o maior rigor de bancos e cooperativas na concessão de crédito rural. 

O presidente do Sindicato Rural, Fábio Macedo, ressaltou o momento delicado vivido pelo setor:   “Estamos trabalhando no automático, apenas preocupados em produzir. Mas ninguém consegue continuar produzindo se o resultado for igual ou inferior ao custo de produção”, alertou,

Segundo ele, o produtor rural vem enfrentando essa situação há bastante tempo, em razão dos custos elevados provocados pela alta taxa de juros e outros problemas. 

 “Cada decisão que eles tomam lá em cima, o primeiro impacto é sentido aqui embaixo, pelo produtor rural”, comentou, ao se referir às pressões externas sobre a economia brasileira, como a taxação de produtos. 

 “Se o Donald Trump desce do avião para cumprimentar o Putin e o clima fica tenso, o preço do adubo sobe, e quem paga a conta somos nós aqui embaixo. É assim que funciona, e pouco podemos fazer”, ilustrou. 

Macedo também lembrou que o agronegócio passou por um período de ostentação exagerada:  “Criou-se a ideia de que o agro estava nadando em dinheiro, mas isso é realidade de poucos. O crédito está cada vez mais difícil, com exigências de garantias maiores que muitas vezes inviabilizam o acesso. As taxas de juros estão cada vez mais elevadas. Se não reclamarmos, ficaremos em situação complicada — e pode piorar.” 

O gerente regional do Banco do Brasil, Fábio Apolinário, reforçou que o produtor deve se profissionalizar ainda mais para enfrentar as dificuldades, olhando para dentro de sua propriedade:   “O capital está escasso, cada vez mais escasso, porque tem um custo. Ele chamou atenção para o crescente uso da regularização judiciária por produtores rurais- pessoas físicas que estão lançando mão do recurso.

A presidente da Cooperativa de Trabalho e Desenvolvimento Rural e Agronegócio (Cooapar), Roseli Martinez Georges, alertou para o cenário desafiador: 

 “Hoje não podemos brincar. Nosso lucro já não é aquele expressivo de antes; enfrentamos muitas oscilações. O crédito está cada vez mais exigente, com mais documentação e contrapartidas. Precisamos trabalhar com tudo registrado e organizado.”, acentuou.

O Dia de Campo foi organizado pela equipe de Mato Grosso do Sul do projeto Rural Sustentável Cerrados, organismo, resultado de uma cooperação técnica aprovada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com recursos do Financiamento Internacional do Clima, do governo do Reino Unido. O projeto tem como beneficiário institucional o Ministério da Agricultura e Pecuária e como executor e administrador o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS). 

Na ocasião, foram distribuídos exemplares das cartilhas Guia de Acesso ao Crédito Rural e Crédito Rural na Prática, com simulações de financiamento, incluindo exemplos de custeio para a produção de milho — tanto para grão quanto para silagem — e de crédito de investimento para a recuperação de pastagens degradadas. 

Durante o evento, gerentes de instituições financeiras também apresentaram o portfólio de soluções de crédito disponíveis no Plano Safra 2025/2026, que conta com recursos da ordem de R$ 516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial — um acréscimo de R$ 8 bilhões em relação à safra anterior. 

Sistemas Sustentáveis oferecem crédito com juros menores

Na oficina, o engenheiro agrônomo Marco Antônio de Oliveira, representando a Cooapar, analisou as opções do Plano Safra e destacou as linhas de crédito do RenovAgro — programa de financiamento agropecuário voltado à implantação de sistemas de produção sustentáveis, com juros reduzidos e foco em práticas de baixa emissão de carbono.

As linhas fazem parte do Programa ABC+, que contempla diversas tecnologias, entre elas: Recuperação e reforma de pastagens; Integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais; Florestas plantadas; Plantio direto na palha (soja, cana-de-açúcar e hortaliças; Fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos; Recuperação de solos; Produção orgânica; Tratamento e aproveitamento de dejetos animais, incluindo geração de energia por biogás.

Segundo Marco Antônio, quando aplicadas corretamente, essas práticas contribuem para o balanço das emissões de gases de efeito estufa, transformando as propriedades em verdadeiras “fábricas de sequestro de carbono”. Para ele, “os trabalhos de todos os envolvidos na aplicação as políticas públicas são importantes para o futuro das exportações do agronegócio brasileiro que, nos próximos anos, deverá ser cobrado por produtos rastreados e oriundos de propriedades comprovadamente sustentáveis”.