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FEMINICÍDIO

“Mulheres continuam morrendo por serem mulheres”: delegada alerta para realidade dolorosa

Semana Estadual de Combate ao Feminicídio em Mato Grosso do Sul lembra primeiro caso registrado em 01 de junho de 2015

Delegada titular da DAM em Paranaíba, Dra.Eva Maira (Divulgação- CM)
Delegada titular da DAM em Paranaíba, Dra.Eva Maira (Divulgação- CM)

A delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM), de Paranaíba, Eva Maira Cogo, afirmou ontem (2) que a Semana Estadual de Combate ao Feminicídio, mais do que um espaço de reflexão, é uma convocação para o compromisso com ações concretas, “diante de uma realidade dolorosa, onde mulheres continuam morrendo por serem mulheres”.

Ao ocupar a tribuna na Câmara Municipal de Vereadores para falar sobre o tema, a policial ressaltou que o feminicídio é a forma mais extrema da violência de gênero. “Sempre que nos deparamos com um feminicídio, nos deparamos com uma pergunta perturbadora: Onde o sistema falhou? Onde nós falhamos?”, questionou.

Ela admitiu o ceticismo de muitos, com mais uma campanha. “Mais uma vez, os mesmos cartazes, os mesmos discursos?” Para ela, “sim, mais uma vez, e tantas vezes quanto for necessário para a mulher identificar que está em meio a um ciclo de violência, o que não é fácil de identificar”, reconheceu.

Para Eva Maira, existe um machismo estrutural que ainda molda as relações, as instituições e as leis, mesmo que de forma disfarçada, fruto de séculos de desigualdades. “Não é da natureza da mulher ser submissa, nem da natureza do homem ser agressivo”, apontou.

Ela revelou estatísticas que mostram um momento crítico. De janeiro a dezembro de 2024, Mato Grosso do Sul registrou 35 feminicídios consumados e 87 tentativas. Este ano, nos cinco primeiros meses, 14 feminicídios foram consumados.

A delegada titular da DAM atua há 11 anos no combate à violência contra a mulher, mas admite que ainda se choca com notícias como a de uma mãe e um bebê de dez meses, mortos pelo pai de forma fria e cruel. “Isso precisa nos chocar e fazer a gente se mover”, enfatizou.

Ela lembrou de um dos casos de tentativa de feminicídio ocorrido em Paranaíba, no dia 17 de maio, quando a vítima foi estrangulada com a utilização de um fio, com lesões extremamente graves no pescoço.

O filho de 1 ano e 4 meses, que chorava próximo à mãe, também foi agredido ao tentar se aproximar dela e ficou com o rosto lesionado, contou a delegada.

Somente foram salvos devido a uma vizinha que percebeu a situação, que se importou, chamou a polícia e conseguiu interromper a tentativa de situação de violência”, explicou Eva Maira.

Os números não são estatísticas frias, são histórias interrompidas, são mães, irmãs, filhas, amigas que deixaram lacunas irreparáveis”, salientou.

Mesmo com a Lei Maria da Penha, continua existindo muita violência, constata a policial. “Nós ensinamos às mulheres que elas têm direito a não continuarem um relacionamento com violência, ensinamos essas mulheres que, no dia a dia, elas podem se separar se estão sofrendo violência”, argumentou.

Estamos também ensinando os homens que eles precisam deixar as mulheres seguirem a vida. Em Paranaíba, temos compromisso histórico com essa causa. A DAM foi criada em outubro de 2005, quase vinte anos de história, criada antes mesmo da Lei Maria da Penha, que é de agosto de 2006”, rememorou.

“Nosso município e Mato Grosso do Sul já compreenderam que existe a urgência por um atendimento qualificado e sensível às mulheres vítimas de violência. Em Paranaíba, essa história está sendo construída diariamente com responsabilidade, empatia e firmeza”, acentuou.

Não estamos sozinhos”, afirmou ao identificar inúmeros parceiros na rede de proteção às mulheres. “A Delegacia sozinha, a Polícia sozinha, o MP sozinho, o Judiciário sozinho, não vai enfrentar de forma eficaz essa pandemia de violência contra mulheres e meninas”, assinalou.

Semana
A Lei Estadual 5.202/2018, que instituiu o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio e a Semana Estadual de Combate ao Feminicídio no Estado, é de autoria do deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos). A data escolhida para o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio é o dia 1º de junho, para lembrar o primeiro caso de feminicídio registrado no Estado, logo que entrou em vigência a Lei Federal 13.104/2015, tipificando o crime.

Em Mato Grosso do Sul, a morte da jovem Isis Caroline, ocorrida em 1º de junho de 2015, marcou o triste início da contagem estatística do feminicídio, que vitimou mais de 346 mulheres desde 2015.