A delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM), de Paranaíba, Eva Maira Cogo, afirmou ontem (2) que a Semana Estadual de Combate ao Feminicídio, mais do que um espaço de reflexão, é uma convocação para o compromisso com ações concretas, “diante de uma realidade dolorosa, onde mulheres continuam morrendo por serem mulheres”.
Ao ocupar a tribuna na Câmara Municipal de Vereadores para falar sobre o tema, a policial ressaltou que o feminicídio é a forma mais extrema da violência de gênero. “Sempre que nos deparamos com um feminicídio, nos deparamos com uma pergunta perturbadora: Onde o sistema falhou? Onde nós falhamos?”, questionou.
Ela admitiu o ceticismo de muitos, com mais uma campanha. “Mais uma vez, os mesmos cartazes, os mesmos discursos?” Para ela, “sim, mais uma vez, e tantas vezes quanto for necessário para a mulher identificar que está em meio a um ciclo de violência, o que não é fácil de identificar”, reconheceu.
Para Eva Maira, existe um machismo estrutural que ainda molda as relações, as instituições e as leis, mesmo que de forma disfarçada, fruto de séculos de desigualdades. “Não é da natureza da mulher ser submissa, nem da natureza do homem ser agressivo”, apontou.
Ela revelou estatísticas que mostram um momento crítico. De janeiro a dezembro de 2024, Mato Grosso do Sul registrou 35 feminicídios consumados e 87 tentativas. Este ano, nos cinco primeiros meses, 14 feminicídios foram consumados.
A delegada titular da DAM atua há 11 anos no combate à violência contra a mulher, mas admite que ainda se choca com notícias como a de uma mãe e um bebê de dez meses, mortos pelo pai de forma fria e cruel. “Isso precisa nos chocar e fazer a gente se mover”, enfatizou.
Ela lembrou de um dos casos de tentativa de feminicídio ocorrido em Paranaíba, no dia 17 de maio, quando a vítima foi estrangulada com a utilização de um fio, com lesões extremamente graves no pescoço.
O filho de 1 ano e 4 meses, que chorava próximo à mãe, também foi agredido ao tentar se aproximar dela e ficou com o rosto lesionado, contou a delegada.
“Somente foram salvos devido a uma vizinha que percebeu a situação, que se importou, chamou a polícia e conseguiu interromper a tentativa de situação de violência”, explicou Eva Maira.
“Os números não são estatísticas frias, são histórias interrompidas, são mães, irmãs, filhas, amigas que deixaram lacunas irreparáveis”, salientou.
Mesmo com a Lei Maria da Penha, continua existindo muita violência, constata a policial. “Nós ensinamos às mulheres que elas têm direito a não continuarem um relacionamento com violência, ensinamos essas mulheres que, no dia a dia, elas podem se separar se estão sofrendo violência”, argumentou.
“Estamos também ensinando os homens que eles precisam deixar as mulheres seguirem a vida. Em Paranaíba, temos compromisso histórico com essa causa. A DAM foi criada em outubro de 2005, quase vinte anos de história, criada antes mesmo da Lei Maria da Penha, que é de agosto de 2006”, rememorou.
“Nosso município e Mato Grosso do Sul já compreenderam que existe a urgência por um atendimento qualificado e sensível às mulheres vítimas de violência. Em Paranaíba, essa história está sendo construída diariamente com responsabilidade, empatia e firmeza”, acentuou.
“Não estamos sozinhos”, afirmou ao identificar inúmeros parceiros na rede de proteção às mulheres. “A Delegacia sozinha, a Polícia sozinha, o MP sozinho, o Judiciário sozinho, não vai enfrentar de forma eficaz essa pandemia de violência contra mulheres e meninas”, assinalou.
Semana
A Lei Estadual 5.202/2018, que instituiu o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio e a Semana Estadual de Combate ao Feminicídio no Estado, é de autoria do deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos). A data escolhida para o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio é o dia 1º de junho, para lembrar o primeiro caso de feminicídio registrado no Estado, logo que entrou em vigência a Lei Federal 13.104/2015, tipificando o crime.
Em Mato Grosso do Sul, a morte da jovem Isis Caroline, ocorrida em 1º de junho de 2015, marcou o triste início da contagem estatística do feminicídio, que vitimou mais de 346 mulheres desde 2015.