O amarelo é a cor que marca o mês de setembro, chamando atenção para um tema delicado e fundamental: a prevenção ao suicídio. A campanha “Setembro Amarelo”, promovida nacionalmente pelo Ministério da Saúde, busca estimular o cuidado, a atenção e o olhar preventivo para a saúde mental.
Para o médico psiquiatra Calebe Borba, a iniciativa representa uma oportunidade de reflexão sobre a importância de cuidar da mente. “Cuidar da mente é fundamental, e falar sobre isso é o primeiro passo”, afirmou em sessão na Câmara Municipal de Paranaíba. Em entrevista à Rádio Cultura, o médico expôs dados preocupantes sobre a saúde mental na região e sugeriu a criação de políticas públicas para enfrentar o problema. Borba está em Paranaíba há quatro anos, onde atua como médico da família e integra a equipe multidisciplinar do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). A seguir, trechos da entrevista:
O senhor trouxe uma mensagem importante aos vereadores?
Calebe Borba: “Acredito que sim, no sentido de lembrarmos que muitas vezes o Setembro Amarelo, em vez de se tornar uma campanha de conscientização efetiva, acaba revelando certa hipocrisia social. Por quê? Porque temos o ano inteiro para cuidar de quem sofre, mas é só em setembro que acendemos uma luz e buscamos fazer palestras em escolas e ações pontuais. Na verdade, precisamos lembrar que o sofrimento acontece de janeiro a janeiro”.
Como avalia a cidade de Paranaíba no contexto da saúde mental, considerando sua atuação no CAPS?
Calebe Borba: “Desde que cheguei, há quase quatro anos, percebo que a cidade apresenta uma alta demanda em saúde mental. Temos muitos casos de depressão, ansiedade, automutilação nas escolas e, infelizmente, altos índices de suicídio.
Quanto à gestão pública, vejo que existem avanços, mas ainda há muito a caminhar. Esse é um tema que não se esgota em setembro, precisa estar sempre na pauta, com aprovação de projetos de prevenção e de políticas sociais. Como dizia meu avô, “prevenir é melhor do que remediar”. Como médico, acredito que devemos investir cada vez mais em ações preventivas e, ao mesmo tempo, continuar cuidando de quem já precisa de atendimento imediato”.
A preocupação com a saúde mental se tornou mais evidente nesta década?
Calebe Borba: “Sem dúvida. A pandemia mudou a dinâmica do mundo. Trouxe isolamento, incertezas e intensificou o luto, porque muitas perdas ocorreram. Sofrimento mental sempre existiu, mas a pandemia tornou esse cenário mais visível.
Outro fator importante é o impacto das redes sociais, que escancaram o preconceito. Hoje sabemos que sofrer sozinho não deve ser uma opção. Precisamos pedir ajuda, deixando o preconceito de lado. Ainda existe estigma, sim, mas felizmente isso vem mudando. Precisamos continuar falando sobre o tema para que pessoas que sofrem, mas não sabem a quem recorrer, tenham coragem de buscar apoio e mudar sua realidade”.
E como as pessoas podem buscar ajuda em Paranaíba?
Calebe Borba: Aqui em Paranaíba, o primeiro passo é procurar o posto de saúde do seu bairro. Lá, o médico da atenção primária vai ouvir sua demanda e, se necessário, encaminhar para o ambulatório de psiquiatria, onde atuo junto com a doutora Ariana.
Nos casos mais graves — como tentativas de suicídio, pensamentos suicidas, depressão severa ou uso abusivo de álcool e drogas —, o CAPS é de livre acesso. A pessoa pode ir diretamente até a unidade, que fica ao lado do Posto Daniel, subindo o Zero Grau.
Você pode buscar ajuda diretamente do Caps, vai passar por uma triagem e acolhimento . Lembrando que Caps não é só consulta médica. Caps é um trabalho multidisciplinar, interdisciplinar. Tem as oficinas, têm psicoterapia, tem a assistente social, tem a questão de medicação assistida. O que acontece é que muitas vezes as pessoas pensam que Caps é um lugar de atendimento médico. É um serviço multidisciplinar”.