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Conselho Tutelar critica falta de estrutura para atender gestantes usuárias de drogas

Uma mulher perdeu seu bebê no quinto mês de gestação por ser usuária de crack e não contar com tratamento

Conselheira tutelar acompanha cinco gestantes dependentes químicas em Três Lagoas -
Conselheira tutelar acompanha cinco gestantes dependentes químicas em Três Lagoas -

A coordenadora do Conselho Tutelar de Três Lagoas, conselheira Miriam Herrera, teceu críticas ao Poder Executivo e à Secretaria Municipal de Saúde, por não disponibilizarem de infraestrutura para atender gestantes usuárias de entorpecentes.

A insatisfação da conselheira surgiu após serem acionados para acompanhar uma gestante que havia sentido indisposição e fora encaminhada ao hospital, onde constatou-se que ela havia entrado em trabalho de parto após a bolsa romper, porém o feto não resistiu e acabou morrendo.

“Pedimos inúmeras vezes que o município nos dê respaldo para internar essas gestantes, mas não somos atendidos. Em Três Lagoas não há um local adequado para atender essas mulheres, que geralmente passam o dia e a noite na cracolândia usando drogas. Até tentamos resgatá-las, nos arriscamos entrando em bocas de fumo, mas sempre morremos na praia. Fazemos nossa parte, mas sozinhos não conseguimos, precisamos da Secretaria da Saúde. Isso é desgastante, triste”, desabafa Miriam.

De acordo com a coordenadora da entidade, além de ser usuária de crack, a mulher também é doente psiquiátrica e, até saber que estava grávida, fazia uso de medicamentos controlados para tratar da doença, porém, teve que abandonar o tratamento.

“Conseguimos interná-la no hospital municipal de psiquiatria de Paranaíba, por 28 dias, que e o tempo máximo de internação que eles atendem. Após esses dias, ela recebeu alta e voltou para o crack. Não tem como recuperar um viciado em entorpecentes com tratamento tão curto, ainda mais com o agravante da doença psiquiátrica. Precisamos de um local adequado para internar essas mulheres, urgente. Essa é nossa indignação”, destaca a conselheira.

Ela também informa que, quando as gestantes têm crises, são levadas ao hospital local, mas um ou dois dias depois são liberadas. “Para garantir a sobrevivência dos filhos de grávidas viciadas, o mínimo seria a internarem por pelo menos sete meses. A probabilidade delas se recuperarem dentro de uma clínica é, obviamente, maior do que se ficarem pelas ruas”, destacou.

ATENDIMENTOS
O Conselho Tutelar monitora, hoje, cinco mulheres grávidas, acompanhadas durante as rondas, por meio de busca ativa ou até mesmo denúncias, quando são vistas em bocas de fumo. 

“Sabemos que existem muitos casos que nem chegam ao nosso conhecimento. Temos uma moça que está no segundo mês de gestação e, após tentar ascender uma latinha com crack e álcool, acabou se queimando bastante e, está internada. Também ficamos sabendo na tarde desta quarta-feira, de outra gestante de sete meses que foi vista usando droga em um terreno baldio. Sem internação as chances dessas crianças nascerem, ou mesmo não apresentarem sequelas após o parto, é pequena”, avalia Miriam, que insiste no apoio do município. “Precisamos de um respaldo da Saúde. Que olhe e atenda o Conselho Tutelar. É o que pedimos, imploramos”, conclui a coordenadora.

Miriam informa que o caso foi encaminhado ao Ministério Público no fim da tarde de ontem.

SAÚDE
A reportagem do Jornal do Povo tentou ouvir a secretária Municipal de Saúde, Eliane Brilhante, para saber se há alguma ação que possibilite o atendimento das gestantes usuárias de entorpecentes. Porém, como o setor encerra suas atividades às 13h e a secretária não atendeu às duas ligações feitas para seu celular, não foi possível ouvir sua posição quanto ao assunto.